Pela verdade,e pelo bem do país... Entenda melhor o caso de São Gabriel!!!
Em 2000, latifundiários impedem a vistoria do INCRA no complexo Southall, área de 13.200 hectares, no município de São Gabriel, RS. Apoiada em uma medida de segurança e com proteção policial, o órgão comprova a improdutividade da área. Nos dois anos seguintes o proprietário Alfredo Southall tenta anular a vistoria, mas o poder judiciário rejeita nove vezes as tentativas do latifundiário.
Em maio de 2003, o presidente da república decreta o complexo Southall como área de interesse social para fins de reforma agrária. O proprietário recorre no Supremo Tribunal Federal e a ministra Ellen Gracie suspende a desapropriação no início de junho. Em 10 junho, oitocentos trabalhadores rurais sem-terra iniciam uma marcha partindo do acampamento de Pântano Grande, em direção a São Gabriel. O prefeito do município Rossano Gonçalves, declara que os trabalhadores "não são bem vindos" , pede interdito proibitório de todas as vias públicas do município e constrói uma vala na estrada que leva ao latifúndio. Uma semana depois um panfleto anônimo é distribuído na cidade, incentivando o assassinato dos trabalhadores sem-terra. A vereadora Sandra Xarão, favorável ao assentamento , também é ameaçada de morte.
Os latifundiários decidem iniciar uma contramarcha para impedir a chegada da marcha do MST, mas desistem diante do convite do prefeito de Santa Maria, Valdeci Oliveira , de receber os sem-terra, desviando a marcha dos latifundiários. Em Santa Maria, o MST recebe a solidariedade do bispo de Caxias, RJ, Dom Mauro Morelli, e a oferta de uma área para permanecerem em São Gabriel do produtor local Viterbo da Rocha, 67 anos. O exemplo é seguido por outros produtores da região.
Na retomada da marcha, os latifundiários passam vigiar e ameaçar os sem-terra. À noite, tiros e rojões são disparados contra o acampamento dos marchantes. Em São Sepé, os ruralistas bloqueiam a ponte que dá acesso ao município e só desobstruem o acesso com a intervenção do secretário de Estado da Segurança.
A caminhada prossegue até 12 de agosto, quando o juiz federal Loreci Flores determina o "congelamento" da marcha, impedindo os marchantes de exercer o seu direito de ir e vir. Dois dias depois, o Supremo Tribunal Federal decide antecipar o julgamento da desapropriação e acata por oito votos a dois a suspensão do processo. Os marchantes não desistem de chegar a São Gabriel e negociam a continuidade da marcha. A CUT convoca ato público para recebê-los no município, mas o prefeito proíbe "qualquer manifestação pública". O ato é transferido para uma área particular cedida aos marchantes , a dois quilômetros da entrada do município. O ato e cessão da área convencem o juiz a "descongelar" a marcha, sob protesto dos ruralistas. No dia 16 de agosto, 7.000 pessoas recepcionam a entrada da marcha em São Gabriel, entre elas o presidente nacional da CUT, Luiz Marinho. Os marchantes decidem estabelecer acampamento permanente na área. (E essa era a situação ao fecharmos esta edição, em 18 de agosto.)
Miguel Stedile é jornalista e esta matéria foi publicada na edição especial sobre a Reforma Agrária da Revista Caros Amigos. Número 18 – Setembro de 2003.