Já no início da invasão do Iraque fui convidado a boicotar os produtos estadunidenses. A princípio, confesso que, a idéia de renunciar ao prazer de uma coca-cola geladinha com todo aquele gás, assustou-me, mas com o tempo, acabei tentando e apesar de algumas recaídas estou cada vez mais engajado neste movimento legítimo e comprovadamente eficaz contra o imperialismo estadunidense.
Desde o início do nosso boicote (minha mulher, também está engajada!) posso garantir que deixamos de consumir algo em torno de 50 litros de coca-cola... Sei que isso é um pingo diante do oceano vermelho-caramelo que a multinacional lança goela do mundo abaixo, mas tenho consciência de que estou fazendo minha parte e como somos muitos ao redor do mundo, penso que alcançaremos nossos objetivos.
E se você é daqueles que, ceticamente, pensam que tudo isso é besteira; que somos um bando de lunáticos e utópicos que jamais terão exito contra a grande potência, eu apresento-lhe alguns dados históricos, que talvez o faça refletir melhor sobre este importante movimento.
Em 1880 agricultores irlandeses evitam a presença e ignoram as cobranças do proprietário de terras britânico Charles Cunninghan Boycott. É a origem do termo "boicote".
Em 1891 donas-de-casa americanas criam um lista de empresas que respeitam os direitos trabalhistas e boicotam as outras. Surge assim, o movimento dos direitos do consumidor.
Em 1930 Mahatama Gandhi lidera milhares de indianos numa caminhada de 24 dias para a costa. No final, Gandhi apanhou umpunhado de sal, em desafio à lei britânica que proibia o sal indiano e obrigava a importar da Inglaterra.
Em 1955 a negra estadunidense Rosa Parks se recusa a ceder o lugar no ônibus a um branco, como exigia a lei. O jovem pastor batista Martin Luther King sai em sua defesa e conclama os negros a não andarem mais de ônibus. Deu certo.
Em 2003 a guerra do Iraque, pela primeira vez causa um boicote mundial, apoiado por populações significativas em vários países e os resultados ainda estão para ser sentidos...
Como podes notar, o boicote já foi usado com exito em diversas ocasiões na história, o que prova que não estamos travando uma luta utopicamente ingênua.
Podemos sim, barrar de forma pacífica, as intenções imperialistas dos Estados Unidos, uma nação que ao longo dos séculos exterminaram as populações indígenas, conquistaram metade do México, interviram com violência nas regiões vizinhas, conquistaram o Havaí e as Filipinas, matando milhares de filipinos, e, nos últimos anos particularmente, valeram-se da força para impor-se a boa parte do mundo...
Venha você também fazer parte deste movimento e ajude-nos a humanizar a história!
É só começar a boicotar...
Fonte: Super Interessante Edição 188 - Maio de 2003.
