Usina de Letras

O que era de se esperar aconteceu. O não venceu.

Venceram os fabricantes de armas de fogo, venceram todos aqueles que acreditam que não existem meios de por fim à criminalidade e conseqüentemente não estão dispostos a fazer nada para que seja ela combatida, venceram as empresas de segurança, os traficantes, os bandidos e todos aqueles que acreditam que quanto pior melhor. E quem perdeu? Perderam aqueles que pregam a paz e os direitos humanos, mas principalmente a população em geral que vai continuar assistindo uma guerra de todos contra todos.

Houve também outras perdas. E acredito que a democracia também perdeu. Muitos podem até achar que o plebiscito foi um exemplo de democracia. Mas não vejo a coisa para esse lado.

O plebiscito do desarmamento deveria ter sido uma decisão apartidária, sem conotação política. Mas o que se viu foi um não às instituições políticas – principalmente ao governo federal e ao próprio congresso, mergulhado na corrupção --. Agora me respondam: o que tem haver o desarmamento com o momento político atual? Simplesmente nada. Mas não foi assim que o povo viu a coisa.

A vitória do não foi um protesto. E é aí que está a chave da questão. O povo não quis saber o que era melhor para si. Quis tão somente dizer um não a tudo que está acontecendo. De forma que o plebiscito não atingiu seus objetivos e a própria democracia ficou arranhada. Pois sobrou a impressão de que o povo brasileiro não está preparado para tomar decisões importantes com relação ao destino do próprio país. Como é possível deixar em suas mãos decisões vitais se nem mesmo fomos capazes de decidir de forma imparcial uma questão tão simples como o desarmamento? A democracia pode ter tudo de bom, mas o excesso de democracia pode ser tão prejudicial quanto à falta dela. Ademais num país onde o povo não foi educado o suficiente para aprender a votar.