Publicado em 21 de junho de 2002, no jornal O POVO
Mais uma vez o poder Judiciário exibe sua crise interna de autoridade e honorabilidade, estampada na imprensa brasileira em diversos episódios. Desta feita, é o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) argüido de suspeição por grande número de partidos e políticos. Procedam ou não as críticas ao ministro Nelson Jobim, o fato é que o Judiciário brasileiro não é mais acolhido pela população como o reduto da imparcialidade. Os erros de alguns magistrados e mesmo de algumas esferas daquele poder tiveram o condão de colocar sob suspeita homens íntegros e preparados para o exercício da função.
O leitor atento deve distingüir o joio do trigo. A universalização da crítica e do protesto é uma característica da segunda metade do século passado e início do presente. As sociedades aspiram por mudanças. No Brasil, a grande maioria da população choca-se com o comportamento anti-social de dirigentes públicos e de postulantes a postos governamentais, cultivado, sobretudo, a partir dos anos 80. Há um desencontro entre um desejo generalizado de clareza e transparência nos negócios públicos e a postura suspeita de autoridades, inclusive, judiciárias.
Segundo o sociólogo Michel Maffesoli, em recente passagem por Fortaleza, o paradoxo é a marca essencial desses momentos cruciais, nos quais o que está em estado nascente tem muita dificuldade para se afirmar diante dos valores estabelecidos .
Infelizmente, os vícios da época Sarney estão aí presentes em todos os setores da vida pública, impedindo que a democracia e o sistema representativo possam funcionar com normalidade. Urge, pois, que as posturas espirituais e intelectuais das lideranças políticas sejam compatíveis com o grande público, sedento de justiça e de ordem, mas desconhecedor, ainda, dos caminhos a seguir.
Pedro Henrique Antero é professor de Ciências Políticas