Publicado no jornal O POVO, em 21 de agosto de 2002
Não fica bem pensar mal dos políticos e usar luvas de renda para falar dos eleitores. A frase, atribuída ao jornalista americano Walter Lippman (1889-1974) é mais do que oportuna quando se aproximam novas eleições. Sugere o bom senso que todos busquem participar, seja através do voto, seja do convencimento de outros eleitores quanto à melhor escolha. O importante é assumir um papel cada vez mais ativo e não transferir simplesmente a responsabilidade aos outros.
Se a recomendação se aplica a todos os eleitores na escolha dos dirigentes públicos municipais, estaduais e nacionais, por que não, também aos processos eleitorais de instituições ou associações de categorias profissionais? Pequeno ou grande, o poder (e, às vezes, a campanha para obtê-lo) é sempre revelador de personalidades e, contra surpresas desagradáveis, nada melhor do que a precaução. Isso não é algo que se possa cobrar apenas do outro.
Deixando o universo das divagações genéricas, vale lembrar que em dezembro próximo ocorre a eleição no Tribunal de Justiça (TJ). Quem não recorda o rebuliço gerado pela quebra da tradição de rodízio na escolha dos dirigentes máximos da Justiça comum no Estado há dois anos?
Quem milita na área ou acompanha minimamente as articulações nos bastidores daquele poder sabe que a composição de forças, hoje, não é exatamente a mesma. E o futuro é incerto. O que se espera é que, tal como desejável na política dos sem-toga, as discussões entre os magistrados se alicercem na apresentação de propostas e na clareza de compromissos, e não no disparo inconseqüente de acusações.
Outro detalhe: Há cerca de dois meses, numa eleição simulada, aberta a cerca de 400 magistrados, em dia de expediente normal no Fórum Clóvis Bevilácqua (que, sozinho, abriga 120 juízes), apenas 66 depositaram seus votos para presidente do TJ (prerrogativa hoje ainda restrita, na prática, a 23 desembargadores). Para diretor do próprio Fórum, a participação foi ainda menor: 16 votantes. É fácil estimular as pessoas a participarem do processo democrático, a exercerem o sagrado direito de cidadania e opinião. Mais importante é o exemplo.