Uma estranha eleição
Cândido Albuquerque é advogado e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Publicado no jornal O POVO, em 11 de dezembro de 2002
Desenvolve-se no Ceará, quase à surdina, uma importante eleição, para a qual, lamentavelmente, a sociedade, e em especial a imprensa, e até a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) - quem diria! -, insistem em manter insuportável indiferença. Trata-se da importantíssima eleição para a Presidência do Tribunal de Justiça do Ceará, cujos destinos, ao contrário do que pensa o atual presidente, não mais suportam a perigosa frase dos nossos cuidamos nós .
Entretanto, pela indiferença com que o tema vem sendo tratado, aquela frase pode prevalecer. De fato, não se cobra dos candidatos uma plataforma, um projeto para combater a morosidade etc, como se o Judiciário não interessasse à população. A relevante questão da morosidade, aliada à falta de sensibilidade dos atuais dirigentes que, por comodidade - não conhecemos outra explicação -, insistem em manter o Fórum Clóvis Beviláqua e os Juizados Especiais funcionando apenas na parte da tarde, precisa ser debatida publicamente, já que nos debates internos nem mesmo a questão dos desvios de função foram resolvidos.
O País está em processo de mudanças e nós precisamos participar desse processo revolucionário e, para tanto, urge desembainhar a nossa arma - a cidadania - e promover um debate público cobrando os projetos dos candidatos e manifestando os nossos interesses e apreensões.
Uma questão aflora de logo: dentre os candidatos existe algum que esteja naquela lista dos cinco apontados pela desembargadora Águeda Passos como não confiáveis? Quem não foi presidente do Tribunal Regional Eleitoral (por que não o foi?) pode ser presidente do Tribunal de Justiça? Se todo poder emana do povo e em seu nome é exercido, o que deve a população do Ceará esperar do novo presidente do Tribunal de Justiça?
Compatriotas, vamos invadir o Tribunal com as nossas incertezas, vamos interrogar a magistratura com as nossas dúvidas, talvez, assim, consigamos dar a esse poder, ainda que de forma tangencial, uma pequena noção de legitimidade.
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