Ela estacionou o carro defronte minha casa e ao contrário do que eu sempre temera, o veículo não possuía nenhum detalhe que denunciasse aos vizinhos, sempre atentos ao que acontece com a vida dos outros, o objetivo da visita de sua proprietária.
Ela também em nada assemelhava-se à imagem que eu fazia de uma oficial de justiça, até porque sempre imaginei tal cargo sendo ocupado por um homem, mau humorado, chato e desalmado e ela não só era mulher, como era muito bonita, simpática e para minha surpresa, extremamente humana.
Apresentou-se ainda no portão, como oficial de justiça e revelou-me estar ali para comunicar-me que um dos meus credores (um agiota) havia me acionado judicialmente e que a partir daquela data eu teria quinze dias (dados pelo juiz) para pagar a dívida de R$945,00 ou entrar com uma ação de embargo, caso houvesse algum fato que pudesse, judicialmente, por em dúvida a legalidade da cobrança.
Tal fato não existia. Eu realmente havia emitido os dois cheques e apesar do portador ser uma agiota dos mais filho da p... eu não tinha como provar seu crime, de forma que teria que pagar a dívida cobrada judicialmente para ficar livre de aborrecimentos, mas no momento isso era impossível, a não ser que eu passasse fome, o que definitivamente estava fora de questão.
Comuniquei tal fato à ela e então ouvi de seus lábios, que findo os quinze dias ela voltaria para executar uma ação de penhora, mas que eu não ficasse preocupado, pois isso não era o fim do mundo.
__E o que você vai penhorar? __Perguntei apreensivo.
__Você tem carro ou moto, terreno ou qualquer outro bem em seu nome?
__Tenho carro e moto, mas ele é financiado e ela está em nome de minha esposa!
__Então fique tranquilo! Não serão penhorados! E dentro de casa?
__Não! Essas coisas não são passíveis de penhora! O que se penhora é microondas, vídeo-cassete, aparelho de som, máquina de lavar...enfim, coisas que possam ser consideradas supérfluas pelo juiz!
__Se é assim, não tenho nada para ser penhorado!
__Então fique tranquilo e pague quando puder! A lei lhe garante este direito!
__E se o cara vier me ameaçar, como já fez no passado?
__Chame a polícia!
__Chamar a polícia? Mas eu estou devendo pro cara!
__Suas dívidas não anula sua cidadania! E como cidadão, você tem o direito de não sofrer constrangimentos no ato de uma cobrança!
__Fico aliviado por ouvir isso e agradeço-lhe os esclarecimentos!
__Não há de que! É meu dever, mas eu te aconselho a procurar um advogado para informar-se melhor! Se for o caso, o estado lhe fornecerá um de graça!
__Está bem! Verei o que faço!
Nos despedimos. Ela entrou no carro e partiu deixando nos atentos vizinhos a certeza de que tratara-se de uma visita comercial e eu entrei em casa, muito mais preocupado com o que faria com a antena parabólica e o vídeo-cassete, do que com os cheques nas mãos do agiota.