Associated Press - EUA
15/5/2002
A Associated Press pergunta se chegou a hora da esquerda no maior país da América Latina. "Há apenas poucas semanas, o Brasil parecia estar com tudo em cima: superávit comercial crescendo, a inflação diminuindo e uma calma doméstica que o distanciava de seus vizinhos Argentina e Venezuela, mergulhados em crises", escreve o correspondente Harold Olmos. "Parecia que permaneceria sendo um ímã para os investidores estrangeiros. Então por que o Morgan Stanley, o Merrill Lynch e outras grandes instituições de Wall St. começaram a recomendar a seus clientes que se desfizessem de títulos brasileiros, derrubando a moeda e o mercado de ações local?
Alguns investidores acham que foi a série de recentes pesquisas de opinião indicando que o resultado das eleições presidenciais de outubro poderá assustar o mercado.
Todas as pesquisas dão uma grande margem de liderança a Luiz Inacio Lula da Silva, conhecido só como Lula. Ex-presidente de sindicato, Lula liderou greves gerais que desafiaram a ditadura militar brasileira e ajudou a fundar o esquerdista Partido dos Trabalhadores (PT).
Há meses, as pesquisas vem mostrando Lula com 35-40% dos votos, bem à frente dos escassos 16-20% do candidato escolhido a dedo pelo governo, o ex-ministro da Saúde José Serra.
Serra é visto como a continuidade das políticas market-friendly que o presidente Fernando Henrique Cardoso adotou na última década, e muitos empresários tremem ao lembrar da retórica anti-capitalista de Lula no passado, que incluía a defesa da renegociação da dívida externa brasileira de US$90 bilhões.
Quando os investidores imaginam Lula como sucessor de Cardoso, não conseguem esquecer seu passado , disse David Fleischer, cientista político da Universidade de Brasília.
Eles se lembram das greves da década de 70, sua posição de esquerda radical quando se candidatou pela primeira vez à presidência em 1988 e sua oposição às reformas, em 1994 e 1998. Lula mudou de verdade, mas eles acham que não , afirmou Fleischer.
Nem todo mundo culpa o fator Lula pelo pessimismo de Wall Street. O ex-ministro da Fazenda Antonio Delfim Netto acha que a causa é o sombrio cenário econômico do Brasil. O crescimento será medíocre. A inflação será maior que a dos nossos vizinhos e as taxas de juros para empréstimos continuarão a ser as maiores do mundo .
Mesmo assim alguns consideram a idéia de que Lula terá sorte desta vez perturbadora e muito real. Na primeira tentativa, em 1989, Mario Amato, então presidente da poderosa Federação Industrial de São Paulo advertiu que 800 mil empresários abandonariam o Brasil se Lula ganhasse. Ele chegou perto, perdendo no segundo turno para Fernando Collor de Mello, que três anos depois sofreu um impeachment. Em 1994 e 1998, Lula sucumbiu para Cardoso.
Agora, entretanto, Lula desfruta do menor índice de rejeição entre os candidatos - cerca de 38 por cento. Ele também se beneficiou das acusações de cobrança de propina atribuídas ao ex-arrecadador de fundos de campanha de Serra.
Analistas dizem que não há razão para se temer Lula. O PT passou para o centro político, adotando um programa econômico que não assusta o mercado e a responsabilidade fiscal.
Paulo Albuquerque, da Câmara Americana do Comércio, de São Paulo, disse que os bancos estão mal informados sobre a maturidade democrática do Brasil. Segundo ele, um governo de Lula vai certamente respeitar os compromissos internacionais do Brasil .
Hoje, Lula pode apresentar credenciais de amigo do mercado . Muitos dos estados e cidades governadas pelo PT - incluindo São Paulo e a maior cidade do sul, Porto Alegre - são vistos como baluartes contra a corrupção e os gastos públicos excessivos ao velho estilo.
O próprio Lula se livrou de sua velha imagem de agitador da classe operária, usando agora ternos italianos sob medida e aparando a barba que antes mantinha desgrenhada. Ele diz ser favorável ao livre comércio, contanto que o Brasil defenda seus interesses nacionais.
Depois de um recente encontro entre os candidatos e líderes industriais, o consenso era de que Lula é praticamente uma unanimidade.
Não há candidato de esquerda ou de direita nesta eleição , escreveu a colunista política Tereza Crunivel no conservador O Globo".
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Douglas Lara
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