Guálter George, Jornalista, é editor-executivo do Núcleo de Conjuntura do O POVO
Publicado no jornal O POVO, dia 05 de maio de 2003
Um grupo de jornalistas cearenses teve recente oportunidade de conhecer um Judiciário novo que parece estar se desenhando. Foi durante oficina de duas semanas, organizada por entidades classistas de juízes, sob o pretexto de melhor instrumentalizar profissionais de comunicação dos dois principais órgãos locais impressos. Acontece que, por uma feliz coincidência, em meio ao curso surgiram as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao poder e a história de uma caixa-preta que precisa ser aberta.
Enquanto os jornais repercutiam reações iradas de representantes da Justiça, especialmente nas suas cúpulas, os privilegiados jornalistas-alunos se integravam a um debate sereno acerca das palavras de Lula.
A faixa etária baixa dos juízes que se propuseram a ajudar os jornalistas a se tornarem menos ignorantes no trato da linguagem jurídica explica a postura mais progressista por eles adotada no debate e, ao mesmo tempo, deixa no ar um clima de boas perspectivas futuras. É certo que o Judiciário não vive algo sequer próximo a confronto de gerações, mas, acredita-se igualmente, uma renovação está em curso e o colocará, inevitalmente, em melhor sintonia com os tempos novos que vivenciamos.
O debate sereno a que assistimos, em sala de aula, mostrou, na defesa da Justiça, argumentos que demonstram plena consciência de que, ao lado de direitos inquestionáveis, existem também os deveres. Um deles, ser transparente.
A idéia de que a Justiça seja feita por super-homens, infalíveis, se supera pela própria realidade dos fatos. Reflexo da sociedade da qual saem seus membros, o poder também é feito por bons e maus membros. Uma maior abertura ajudará a depurar o quadro, evitando confundir a ação de um com o funcionamento do todo, parecendo animador que tal pensamento já domine a cabeça de parcelas cada vez mais representativas do Judiciário.