Rio de Janeiro
Atualmente moro em Brasília aonde cheguei há muitos anos atrás, mas sou carioca e a saudade de minha terra, apesar de gostar muito da capital, por vezes me entristece.
As recordações constantes e profundas, imagens vívidas e imorredouras, fatos que não se apagam da cabeça, anos de vida no caminhar de todos os dias, pessoas queridas a lembrar-nos os anos anteriores, parentes cuja falta machuca o coração, tudo isso faz com que ele esteja sempre presente em minha memória emocional.
Cheguei há menos de uma semana de lá e os dias intensos que vivi me deixaram um sabor de nostalgia ao iniciar a viagem de volta. Nostalgia que se prolonga já por quase uma semana e trazem em sua formação gritos abafados de dor e gemidos de saudade deixando a marca da ferida onde aparecerá como sempre uma cicatriz.
Sei que no Rio, onde a violência ainda é grande, não está fácil de se viver. Como, aliás, no mundo inteiro. E sendo grande centro turístico tudo se torna mais complexo.
Vamos, no entanto, deixar essa parte de lado e nos aprofundarmos nas recordações que fazem com que muitas vezes a vida se torne um arsenal alternado de sofrimentos e felicidade.
Recordo-me de minha infância, onde o toque de encantamento se manifestou em muitos acontecimentos inesquecíveis pelos quais passei e acho que o futuro das pessoas depende muito das imagens vívidas que perduram em seu subconsciente.
Não importa que as tristezas e as dores tenham sido muitas e profundas desde que haja também uma quantidade razoável de recordações fascinantes, acontecimentos sublinhados de encanto e doçura, caminhadas persistentes e amenas, sonhos curtidos e necessários, lembranças de carinhosos momentos inesquecíveis, doação de suas próprias potencialidades, atrativos e momentos que o tempo não apaga, marcas de episódios por si só memoráveis e que isso tudo tenha ficado indelevelmente fixado em nossas mentes.
Isso tudo me vem quase aos olhos quando penso nos anos dourados que vivi na minha terra que cheia de magia se prestava à admiração de seus súditos.Só que naquela época eu não imaginava que assim fosse. Aquilo eu tinha conhecido desde que nascera, contemplara com naturalidade seu estilo imponente sem ter´me dado conta que um dia sentiria sua falta e careceria de sua proteção. Sem ter sequer noção do quanto eu a amava.
A paisagem que hoje saudosa delineio em segundos de abstração ofuscante era para mim algo comum e corriqueiro. Tão corriqueiro que não sabia o seu valor intrínseco.
O mar sempre teve para mim uma magia não consciente, mesmo assim encarava como um deslumbramento natural já que sempre o conhecera. Era como se fizesse parte de meu universo diário e constante. E que talvez me fosse devido. Como todas as coisas que desfilavam sem pretensão. E que agora sei o valor.
Revejo com intensidade as paisagens que fizeram parte de minha vida nas quais meu dia a dia se processava liberto de saudades, distâncias ou tristezas e livre de qualquer pensamento nostálgico. Quando digo isso me refiro claro à minha terra, mas não às dores e dificuldades de qualquer tipo que são por si só universais.
Rio de Janeiro era para mim o reduto de paz, onde senti inexploradas sensações e na qual contemplei pela primeira vez paisagens, monumentos e naturezas gigantescas. Onde recebi e transmiti os primeiros gestos de amor, me ofusquei nas luzes da imaginação, percebi que existiam sentimentos opostos como as manifestações da própria natureza abundante em fenômenos espantosos e me alegrei, entristeci, sofri, fui feliz e pude encontrar o equilíbrio que nos conduz á saúde mental.
Meu rio de Janeiro, Copacabana da minha infância e adolescência eu os amo com a fé daqueles que transitaram espontâneos e confiantes em suas calçadas sedutoras e puderam absorver o gosto do seu fascínio quotidiano e invariável.