TODO DIA ELE PASSAVA, A VIA E DIZIA...

Todo dia quando passava em frente daquela casa, que a via; ele sorria e logo dizia:

_moça bonita, case comigo, moça bonita!

Ela às vezes, apenas sorria; e em outras respondia:

_oh, seu moço, eu não posso, seu moço!

Ele tinha 21 anos e ela 12.

Passou o tempo e ele não mais passou por ali, mas ela continuou vindo à porta ou à janela todos os dias, no mesmo horário, porém não se viram mais. Ela lembra da última vez que ele passou, o sorriso dele denotava algo diferente, que ela somente depois veio perceber. Era a despedida, sem propósito, mas foi. Célia Já estava habituada àquela brincadeira gostosa, embora não soubesse explicar o que sentia, tinha uma sensação de cócega por dentro, no pé da barriga que ia subindo até o coração e lá formigava, acelerando as suas batidas. Só que agora sentia falta e era diferente, no lugar da cócega ficou uma queimação que irradiava pelo corpo inteiro, ficava se coçando, quanto mais coçava, mais dava vontade de coçar.

Ela ficou adulta, começou a trabalhar, conheceu um rapaz da sua idade e se casaram em seguida, agora tinha 21 anos. O casal teve 2 filhos, seu marido era um pai e companheiro participativo, se gostavam o suficiente para manterem uma vida harmoniosa. Ficou viúva com 5 anos de casada. O marido sofreu um acidente de carro e não resistiu aos traumas.

Quanto a Sílvio, o moço que passava e brincava com ela, teve uma oportunidade oferecida por uns familiares que moravam em São Paulo, foi embora e lá estudava e trabalhava, casou também, mas não teve filhos. Atualmente fazia 2 anos que estava separado. Seu pai havia falecido e sua mãe já idosa vivia bastante doente, resolveu vir visita-la. Foi a primeira vez que veio, depois que havia se mudado.

A cidade havia mudado bastante, durante esses 9 anos. Procurou se inteirar de tudo e logo soube que Célia trabalhava numa loja do comércio local. Comprou um buquê de flores e foi esperá-la no fim do expediente de trabalho. Ela tomou um suto quando o viu...e ficou muito feliz, não conseguia falar direito, de tanta emoção. Conversaram rapidamente porque ela tinha uns compromissos com os filhos e como foi surpresa não havia como desmarcar. Marcaram se ver no fim de semana. Iriam fazer um passeio, havia ali próximo uma trilha, com banho de cachoeira. Era um balneário ecológico.