Usina de Letras
Usina de Letras
25 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 63736 )

Cartas ( 21378)

Contos (13319)

Cordel (10372)

Cronicas (22598)

Discursos (3256)

Ensaios - (10843)

Erótico (13606)

Frases (52223)

Humor (20232)

Infantil (5686)

Infanto Juvenil (5044)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1389)

Poesias (141178)

Redação (3387)

Roteiro de Filme ou Novela (1065)

Teses / Monologos (2446)

Textos Jurídicos (1981)

Textos Religiosos/Sermões (6430)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->HENRIQUE, SAI TAMBÉM, TU INDICASTE -- 01/12/2025 - 11:26 (HENRIQUE CESAR PINHEIRO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

HENRIQUE, SAI TAMBÉM, TU INDICASTE

 

 

               Sempre fui fanático por futebol, que comecei a praticar muito novo, por volta dos meus sete, oito anos de idade; na minha pequena cidade no interior do Ceará. Lembro-me quando criança, e morava na praça principal da cidade, chegava do colégio, almoçava, muitas vezes ia até uma pequena propriedade, que tínhamos lá, levar o almoço do meu pai e dos trabalhadores, cerca de dois quilômetros de distância de nossa casa. Na volta ajudava minha mãe em seus afazeres, ou ficava virando o café que colhíamos em nossa propriedade exposto ao sol; ao mesmo tempo que esperava ouvir o som de bola, sendo chutada num campo próximo; quase sempre por volta das quatro horas da tarde. O quase sempre se devia à escassez de bola.

               Naquela época as bolas eram difíceis, pois não existiam as fábricas modernas de hoje; a fabricação era cara e o material, couro era também muito valioso. Portanto, devido às parcas condições financeiras da população, quase ninguém tinha condição de comprar uma bola; as que havia eram tratadas como joias, relíquias. Geralmente, por serem costuradas, os pontos abriam-se fácil e a câmara de ar ficava exposta e muitas vezes furava nos chutes ou quando caia no mato e batia um espinho. As bolas, muitas delas ficavam ovais, pelos remendos recebidos e pela câmara exposta; muitas vezes eram recosturadas por sapateiros, quando os pontos rompiam-se. Se furasse a solução era um borracheiro remendar, coisa também difícil, pois não havia borracheiro na cidade, por lá os carros eram também escassos; uns dez, talvez.

               Mas desde aquela época, fui fanático por bola. Em Baturité outra pequena cidade do Ceará, onde fui morar aos doze anos de idade, chegava à escola por volta das seis e trinta da manhã para jogar futebol, bem antes das aulas começarem. Aqui já havia mais bolas, que eram do próprio colégio.

               Mas todo esse amor pela bola me serviu muito. Quando fui morar no Rio de Janeiro, passei no vestibular para uma faculdade particular e não tinha condições de pagar, mas a bola ajudou-me bastante.

Todo ano na faculdade, havia o torneio dos calouros; um torneio de futebol de salão disputado entre equipe que eram formadas na beira da quadra, por alunos que ainda não se conheciam.  Naquele ano de 1977, o torneio começou numa quadra no morro do Leme, lembro-me muito bem. Nossa equipe, formada toda por futuros colegas, que ainda nem se conheciam,  disputou três jogos numa mesma noite. Vencemos os três e eu fui o destaque do time. Quando ia saído da quadra, já por volta de umas dez horas da noite; um camarada estava batendo, olhou para mim e disse para eu não sair que eu ia jogar pela seleção da faculdade. Respondi que não aquentava mais; então, ele me disse que quem jogava pela seleção tinha uma bolsa de estudo. Ganhei a bolsa e dada a ajuda que recebi, acabei me formando bem no curso de Contabilidade e como consequência consegui bons empregos e passar em dois concursos públicos para auditor-fiscal do Estado e da Receita Federal.

               Este, entretanto, não é o assunto principal deste pequeno conto. Embora não tenha sido profissional joguei por muitos times amadores, sempre era chamado para disputar torneios por algum time, pelas empresas que trabalhei e até mesmo por outras, como a Embratel no Rio de Janeiro. Joguei também pelo Clube Maria Clara no bairro do mesmo nome daquela cidade, times de subúrbio de Fortaleza. Mas todos esses detalhes é para contar um episódio engraçado que aconteceu comigo e um amigo num jogo de futebol.

               Luís Andrade, um amigo de longa data, precocemente falecido, tinha uma empresa de vender material elétrico e hidráulico aqui no Ceará. A empresa estava formando um time para disputar um campeonato e fui convidado para joga pelo time. Começamos os preparativos e os treinos semanais até do início da competição. Observei que o time tinha carência de armador. Conversei com o técnico sobre aquela deficiência e disse que tinha um amigo, muito bom de bola, que jogava como armador e indiquei o Joãozinho, que estaria disposto a jogar conosco aquele campeonato. Falei das características, inclusive que disputava o Campeonato Cearense de futebol de salão.

               O treinador se interessou, e como não havia mais tempo para treinar, pediu para eu levar o Joãozinho no dia da nossa estreia.

               No primeiro jogo, começamos a jogar eu como titular na zaga e Joãozinho no banco. O primeiro tempo jogamos muito mal, mas conseguimos segurar e fomos para o intervalo empatando em zero a zero. Aí eu pedi para o treinador botar Joãozinho no segundo tempo e ele atendeu.

               Na primeira bola que Joãozinho pegou, perto da nossa área, tentou driblar um adversário; perdeu a bola e tomamos um gol. Recomeça o jogo e poucos minutos depois, nova tentativa da jogada anterior; novamente ele perdeu a bola e outro gol adversário.

               Lá de fora o treinador gritou, ei: “sai, tu és muito ruim; Henrique, sai também, porque tu trouxeste.”

               Saímos do jogo cabisbaixo, pegamos o carro e dali fomos para uma pelada a uns trinta quilômetros de distância, no percurso, Joãozinho não parava de resmungar: “Nunca fui tão humilhado na minha vida.” E eu ria.

               Tempos depois, estávamos tomando cerveja num bar e ele começou a se gabando, que era bom jogador, isso e aquilo mais. Lá pelas tantas, eu disse que ele não era esse jogador todo; ele respondeu que era craque, e eu era somente um bom zagueiro. Ao que respondi. É. Mas eu nunca fui retirado de um jogo por deficiência técnica, mas fui por ruindade tua. Calou-se e foi embora.

              

               Henrique César Pinheiro

               Fortaleza, dezembro/2025

Comentarios
Perfil do AutorSeguidores: 416Exibido 7 vezesFale com o autor