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Artigos-->CARTA DA COMPOSITORA KILZA SETTI -- 26/09/2025 - 10:55 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

CARTA DA COMPOSITORA KILZA SETTI

L. C. Vinholes

27.09.2025

Quando menos se espera, o que não se esperava acontece e acontece de onde menos se acredita ser possível. É o que aconteceu graças a primeira mensagem que recebi de quem não tenho a menor lembrança, mas que me brindou lembrando, entre outros, o nome da compositora Kilza Setti.

. A citação do nome de Kilza está na mensagem de Lucas Hesselmann, de setembro de 2025, falando do nosso encontro na Discoteca do Centro de Artes da UFPel, no qual a ela se refere dizendo, você “mencionou sua amizade com a grande Kilza Setti (por quem tenho eterna admiração como ubatubense)”.

Embora a carta de Kilza mais antiga seja de julho de 1959, com Kilza, mantive fraternal e proveitosa correspondência entre 2003 e 2014. Proveitosa porque naquele ano me apresentou à paraibana Alice Tomi Satomi, sua ex-orientanda no mestrado em Etnomusicologia, na UFBA, interessada em obter informações a respeito da música de Okinawa[i].

 Atendendo ao pedido de Kilza e compartilhando informações sobre a música de Okinawa, enviei à Alice cópia do artigo Seihim Yamanouchi que publiquei na coluna Música, no Diário de São Paulo, em 01.05.1957, ele o então mais conhecido e importante estudioso e professor de música okinawana, autor do trabalho San-gen-gaku[ii] ou seja Trabalho teórico para instrumento de três cordas, referindo-se ao shamisen, também conhecido por sangen ou samisen. Seihim era neto de Seiki Yamanochi, mestre-de-música da então Corte Real de Okinawa. Recomendei ainda que procurasse a antologia Canções Folclóricas de Okinawa, de Kikuko Kanai[iii], o mais abrangente repositório da música okinawana. Essa compositora estudou os princípios da técnica dodecafônica com H. J. Koellreutter, foi delegada do Japão ao VII Congresso Internacional de Música Folclórica, realizado no âmbito das comemorações do IV Centenário da capital paulista e é autora da ópera Hiren Karafune, Tragédia amorosa no navio Tang.

Aqui compartilho os termos da primeira carta recebida de Kilza.

 

A carta de Kilza Setti

Caro amigo Vinholes.

Estive ontem lendo o “Estadão” uma reportagem sobre suas atividades aí no Japão. O artigo diz: “Conversa de um brasileiro com Strawinsky, no Japão”. Logo que li o título pensei que o brasileiro devia ser você. Fiquei contente de saber dos seus estudos e pesquisas e atuação na TV. Gostaria de ouvir suas músicas, inclusive as peças para ballet.

Mas, será que você não pretende voltar pro Brasil? A reportagem diz: “residindo atualmente na capital japonesa”. Não vá se esquecer dos   brasileiros, heim?

Mandei, em fevereiro, os corais meus, como você pediu naquela carta[iv], mas tenho impressão de que você não os recebeu.

Vou fazer um programa das minhas músicas para a Rádio Ministério da Educação eu mesma tocarei as peças para piano. Tive em abril uma peça “Toada”, executada em dois concertos pela Orquestra Sinfônica de São Paulo e agora estou trabalhando mais intensamente em composição.

Sempre que puder me escrevas e recebas os meus cumprimentos pelo teu sucesso. Abraços.

 

                                                      (ass.) Kilza Setti

Meu endereço em S. Paulo é:                          São Vicente, 9-julho-1959

   R. Ceará 257                                                  Amador Bueno 107 Apto. 401

 

Observações e esclarecimentos

A primeira carta de Kilza não tem data, mas nela, como costumo fazer em toda a correspondência, anotei, no canto superior esquerdo, a data do recebimento, 24 de julho, e a da minha resposta de 21 de agosto de 1959, usando cartão postal.

Na sua correspondência Kilza não só confirma que, como eu pedira, enviara “em fevereiro, os corais”, mas, no final do terceiro parágrafo, manifesta certa preocupação. com o extravio do material escrevendo “tenho impressão de que você não os recebeu”. Sim recebi, mas aqui confirmo que tudo chegou a tempo e o nome de Kilza figurou da relação dos compositora(e)s participantes como citado está no convite daquele evento, enviado a dezenas de compositora(e)s brasileira(o)s, informando e convidando a participarem da Exposição de Música Contemporânea Brasileira (EMCB), realizada na Galeria de Arte da Embaixada do Brasil em Tokyo, de 11 a 23.04.1977. Nessa esposição foram apresentadas 300 partituras e 70 discos LP das obras de 97 compositores que influenciaram e definiram as diferentes correntes da música brasileira.

 

 

Quem foi Kilza Setti

Resumidamente e de memória, registrarei dados sobre a amiga Kilza e suas atividades, reconhecendo que muito mais teria que ser escrito.

Kilza Setti de Castro Lima ou, simplesmente Kilza Setti, nascida em São Paulo, em 26 de janeiro de 1932, possui graduação como instrumentista (piano) tendo estudado com Fructuoso Vianna e Júlia Monteiro da Silva, é compositora, pesquisadora, doutora em antropóloga, etnomusicóloga, professora, e cofundadora da Associação Brasileira de Folclore, em 30 de abril de 1941, na gestão de Luís Câmara Cascudo, um os maiores estudiosos do folclore brasileiro. Estudou composição com Camargo Guarnieri e orquestração com Guerra Peixe. O catálogo da primeira compositora lançado pela Academia Brasileira de Música, relaciona as suas 82 obras produzidas de 1942 a 2024. Autora de um CD da Música Timbira que mereceu o patrocínio pelo Centro de Trabalho Indianista, a Petrobras e a FUNAI. Doutora em Ciências Humanas (Antropologia Social), na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (1982), apresentando a tese Ubatuba Nos Cantos das Praias – estudo do caiçara paulista. Em 1990 escreveu a Missa Caiçara só estreada em 1996 no II Festival de Música Sacra de São Paulo pelo Coral Paulistano, regido por Samuel Kerr.

 

[i] Okinawa é o arquipélago situado na Região Sul do Japão.

[ii] Instrumento antigo utilizado em Okinawa, com caixa de ressonância coberta com coro de cobra, braço de madeira e três cordas.

[iii] Vide artigo Kikuko Kanai, compositora de Okinawa, publicado em 09.05.2016, no site .

[iv] A carta referida por Kilza se refere, à carta-circular enviada a dezenas de compositora(e)s brasileira(o)s informando e convidando a participarem da Exposição de Música Contemporânea Brasileira (EMCB) realizada na Galeria de Arte da Embaixada do Brasil em Tokyo, de 11 a 23.04.1977.

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