NOTÍCIAS, UMA CARTA DE DESABAFO
L. C. Vinholes
22.09.2025
Com as expeiências vividas desde que entrei para o rol dos que passam a viver relações pofissionais com o Itamaraty, muita coisa foi esquecida, relevada ou minimizada para permitir uma saudável convivência com os contemporâneos, diplomatas ou não.
Isso estava acontecendo comigo no final de 1994 quando deixei Tokyo e voltei para trabalhar em Brasília. No Japão estava como adido, encarrgado do Setor Cultural e responsável pela Seleção Técnica dos pretendetes à imigração para o Brasil.
No dia 13 de dezembro de 1995 completava um mês de Brasília, sem saber em que setor do Itamaraty seria lotado e em que trabalharia. Lembrei-me de quando fui trasferido para Tokyo, a Agência Brasileira de Cooperação[i] tinha como diretor ao embaixador Sérgio Arruda, com o qual todos os fucionários tinham diálogo fácil e mereciam trato adequado.
Foi vivendo esses momentos que decidi escrever carta ao embaixador Sérgio que, tendo servido na ABC, estava chefiando a Embaixada do Brasil na Jamaica. Vejamos.
Meu caro Embaixador e amigo Sérgio.
Hoje, completo um mês de Brasília, após meu regresso de Tóquio. Sem sala, sem lotação e sem DAS, colaboro com o DC, a DDC, a DAOC-II e a ABC na expectativa de concretização da minha transferência para Milão.
Faço meu ponto aqui no escritório da ABC no primeiro andar do Anexo I e fiquei sabendo que vai ser remetida correspondência para esse posto. Fico motivado a lhe escrever e dar notícias.
Desejo que já esteja devidamente instalado e de vento em popa no trabalho que tenciona realizar junto aos nossos amigos jamaicanos.
O trabalho em Tóquio não foi fácil e não chegou a ser interessante. Valeu, isto sim, a oportunidade de rever amigos e locais que me interessam. O mais foi uma permanente dor de cabeça. Cancelada as apresentações de Fernanda Montenegro e da Denise Stoklos[ii], a primeira depois de ter sido anunciada em primeira página dos semanários em língua portuguesa editados em Tóquio e em outras cidades japonesas. Nenhuma exposição inaugurada (A do Museu de Arte de São Paulo havia sido planejada fora da programação da Comissão do Centenário e cumpriu o itinerário acertado há mais de dois anos). A reedição do livro O Japão, de Aloísio Azevedo, ainda não saiu e só sai (se sair) em português o que, a meu ver, não tem o menor sentido, pois nem a primeira edição de 1987 está esgotada. A mostra de xilogravura do nordeste foi cancelada. A exposição de fotografias da coleção Joaquim Paiva[iii] foi também cancelada. A reedição da Antologia de Teatro Brasileiro, inicialmente planejada para 5 de novembro provavelmente sairá em meados de fevereiro de 96, antecipando a visita do Presidente FHC ao Japão. A doação de mudas de árvores para a cidade de Suzu (primeira "cidade irmã" de cidade brasileira), que tencionava plantá-las no dia 5 de novembro, aguarda desde 18 de setembro a fixação de uma data para embarque do material escolhidas pelo Jardim Botânico e que vai chegar ao destino em pleno inverno japonês. De carona na programação japonesa, mas com passagens e diárias pagas por instituições brasileiras, o regente Carlos Prates e a pianista Linda Bustani participaram do concerto da Festival Villa Lobos-Música Brasileira 1995, organizado pela Sociedade Villa-Lobos do Japão (meia casa no Teatro Bunka Kaikan de Tóquio). O violonista Turíbio Santos e o Quarteto de Cordas de Brasília, tocando, cada um, três peças de música popular brasileira, apresentaram-se na Festa de Yokohama (menos de meia casa) e na recepção final da cerimônia oficial japonesa quando os Príncipes, a Comitiva do Vice-Presidente Marcos Maciele e as demais autoridades já haviam deixado o recinto do evento. Creio que, do lado brasileiro, faltou profissionalismo, pragmatismo e seriedade.
Para aproveitar estes próximos meses e melhorar minhas finanças, está acertada com o Ministro Elim[iv] e Alice[v] minha volta à ABC, com DAS, tendo como principais tarefas, preparar uma minuta para nova revista da ABC, dando ênfase à cooperação prestada, finalizar o texto do manual da ABC e analizar uma série de ajustes-complementares em processo de redação.
[i] Agência Brasileira de Cooperação (ABC), órgão ligado ao Ministério das Relações Exteriores.
[ii] Denise Stoklos natural de Irati (PR), dramaturga e atriz brasileira, escreveu mais de uma dúzia de peças ao longo de sua carreira, tendo o minimalismo como tema central em toda a sua obra.
[iii] Joaquim Paiva, fotografo que, como diplomata, é Joaquim Arnaldo de Paiva Oliveira. natural de Vitória, (ES) em 1946, tendo cursado o Instituto Rio Branco (1968-1969) e se forrmado pela Universidade de Brasília (1970).
[iv] Elim Dultra, diplomata e escultor, diretor da ABC.
[v] Alice Pessoa de Abreu, economista e coordenadora-geral da ABC.
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