Nota: atendendo a pedido com refereêcia à nota de pé de página desse artigo, compartilho a correspondência de 24.05.1999, que recebi do poeta Shukuro Habara
A imagem que inicia este artigo é a do envelope postal aéreo que o poeta e gráfico Shukuro Habara enviou de Tokyo para Milão, em 24 de maio de 1999, para L. C. Vinholes.
A parte da frente o cartão, além do selo postal impresso, mostra os respectivos endereços do remetente e do destinatário. O que dá a este envelope significado singular é o que consta no seu verso, elementos gráficos e textos, ora na horizontal ora na vertical, escritos em katakana, sinais fonéticos usados principalmente na grafia de nomes e palavras estrangeiras incorporadas ao japonês:
Tudo que está registrado acima ganha sigmificado especial quando se toma conhecimento que entre 15 de abril e 15 de maio de 1999 foi realizada no Instituto Brasil-Itália (IBRIT) de Milão a Exposição de Poesia Concreta Brasileira[i] da qual Habara tomou conhecimento e não tardou a se manifestar, mediante um “texto” que explorou o espaço vaziu disponível e não a linguagem tradicional para expressar sua reação com o evento ocorrido a milhares de quilômetros de suas vistas.
Habara, ao lado de outros poetas japoneses presentes na segunda metade do século XX, tais como Yasuo Fujitomi, Toshihiko Shimizu, Seiichi Niikuni, Shutaro Mukai, Hiro Kamimura, Yukinobu Kagiya, sempre acompanhou com curiosidade e interesse a chegada da poesia concreta brasileira no Japão e o caminho que ela trilhou até a criação do Grupo Asa, em 1964, após a I Exposição Internacional de Poesia Concreta, realizada no salão e auditório da sede do movimento da escola de ikebana Sogetsu Ryu. Nesta exposição, além de poemas dos brasileiros Roberto Thomaz Arruda, Ronaldo Azeredo, Mario da Silva Brito, Edgard Braga, Augusto e Haroldo de Campos, José Lino Grünewald, Eusélio Oliveira, Décio Pignatari, Waldimir Dias Pino, Alcides Pinto, L. C. Vinholes, Pedro Xisto, dos japoneses citados e de Katsue Kitasono, figuraram trabalhos de Claus Bremer, Reinard Döhl, Hans Grosch, Ludwig Harig, Hans G. Helms, Elisabeth Walther (Alemanha), Pierre Garnier (França) e Eugen Gomringer (Suíça).
Consolidando a ligação de Habara com a poesia conreta, é indispensável acrescentar que, entusiasmado com a I Exposição de Poesia Concreta Brasileira no exterior, realizada em abril de 1960, no Museu de Arte Moderna de Tokyo, usou da prerrogativa de ser um dos membros influentes da equipe de redação da revista Design e nela, na edição de dezembro de 1961, nº 27, publicou a miniantologia da poesia concreta brasileira, com textos e poesias, com paginação do arquiteto carioca Alex Nicolaeff.
[i] Sobre a exposição, ver artigo de 12/04/1999, disponível no site www.usinadeletras.com.br, em 21/01/2017.