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Artigos-->PRIMEIRA AUDIÇÃO DO PRELÚDIO -- 08/08/2025 - 11:24 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

PRIMEIRA AUDIÇÃO DO PRELÚDIO

L. C. Vinholes

20250808

Em maio de 2017, entreguei para a Discoteca do Centro de Arte da Universidade Federal de Pelotas, uma relação de 100 cartas e outros documentos, entre as quais aqui destaco a que está listada como item nº 94a e 94b. É uma carta datilografada, datada de 28 de dezembro de 1952, recebida de Francisco Dias da Costa Vidal, registrando um dos eventos mais significativos no início de minhas atividades como compositor.

As décadas de 1940 e 1950, quando as máquinas fotográficas eram um bem inacessível para a quase totalidade dos estudantes, as cartas de Vidal, assim como as demais da(o)s amiga(o)s da época, são hoje valiosas e ricas fontes inesgotáveis de informações revelando, aos curiosos, detalhes para os que se interessam em conhecer o passado de suas gerações.

Francisco Vidal era, como eu, gonzageano[i], mas, mais velho e nos estudos alguns anos mais adiantado. Formou-se em agronomia e em psicologia. Casou-se com a chilena Ana Soto, companheira que enriqueceu sua família e nossa amizade. Ocupado com suas atividades profissionais, sempre encontrava algumas horas de folga para dedicar-se à pequena criação de galinhas da raça Rhody Island Vermelha, em arborizado espaço do quintal da casa onde vivia à Rua Santa Cruz nº 1759, atividade na qual, como eu, sempre se valia das preciosas orientações que recebíamos do dr. Fagundes, um grande mestre do qual só recordo o nome. Além de pianista, com o pseudônimo Quinote, assinava comentários, críticas de arte e informações, pulicadas no Diário Popular ou na A Opinião Pública de Pelotas. Francisco é irmão da pianista Ignez Dias da Costa Vidal e do conceituado químico Juvenal.

Sem orgulho, mas como ato de agradecimento ao saudoso amigo de tantos momentos, transcrevo a carta acima mencionada

Carta de 28 de dezembro de 1952

“Uma vocação que se revela!

É o que se pode afirmar, ouvindo as produções musicais do estudioso e bem-dotado jovem conterrâneo Luiz Carlos Lessa Vinholes.

 “Duas dessas páginas originais – um Prelúdio em si bemol menor para a mão esquerda, e uma Invenção em fá maior -, tivemos a agradável oportunidade de ouvir – eu tive a particular satisfação de interpretá-las -, numa reunião artística realizadas na residência da Rua Lobo da Costa Nº445, onde nos honraram com a sua presença e a sua arte os vitoriosos elementos do vitorioso Teatro de Ensaio e nos encantara com a sua graça e seus dotes, algumas das mais promissoras revelações do nosso Conservatório de Música.

“Foi uma tertúlia familiar e arte na qual esteve ausente a improvisação que teria desdourado os bons propósitos da tarde:  em uma reunião seleta e familiar, revelar as produções e os dotes desconhecidos dos elementos artísticos do nosso círculo social. Dar valor ao que é nosso, incentivar as iniciativas pessoais, embora sejam elas incipientes, titubeantes em seus passos iniciais. De um modo particular quero me reportar à amostra de L. C. L. Vinholes.

“Ouvi alguns comentários após a reunião do dia 20 de dezembro de 52. Baseado neles e nas próprias observações, posso emitir afirmativas e apresentar argumentos que fazem justiça ao lançamento e entusiasmam o seu talentoso produtor a seguir explorando o seu dote revelado, com desvelo e inteligência, como ele tem feito até agora.

Assim, o fenômeno o é antes de tudo inédito entre nós, ao menos parta a nossa época; e desconheço mesmo uma tão precoce iniciativa musical dessa categoria – contraponto –, em qualquer etapa artística da nossa cidade.

Depois, um pequeno fato vem confirmar uma grande queda para a lida teórica com a música: o compositor não é executante; os sons e seus arranjos ele os sente e joga facilmente com eles no pentagrama: este é o meio de exteriorização das suas melodias -ou materialização, melhor, dizendo -, porque predileção por instrumentos quanto à facilidade em escrever, ele não as tem: tanto grava para coro, piano, orquestra.

Numa introdução do lançamento, o autor fez notar aos presentes que a forma das composições pouco favorecia o expandir-se da inspiração.

Permito-me acrescentar:

- A tua inspiração está fadada ao êxito, Vinholes.

Ouvi uma pessoa presente comentar: -

- Eu gostaria de ouvir a uma vez mais o prelúdio. Note-se o preludio tem a forma mais livre do que a Invenção, para externar a inspiração.

Luiz Carlos: tens nas mãos as rédeas da técnica da inspiração musicais. Esses dois fogosos corcéis merecem puxar uma viatura condigna: o apoio da coletividade e dos poderes públicos. E que eu na insignificante posição de expectador, possa aplaudir-te, sempre numa rápida carreira rumo ao êxito.

Pelotas, 28 de dezembro de 1952.

Francisco Dias da Costa Vidal

- Quinote -

A seleta plateia da primeira audição

Pinçando o que está escrito na carta acima, qual seja “os vitoriosos elementos do vitorioso Teatro de Ensaio” e “algumas das mais promissoras revelações do nosso Conservatório de Música”, me permito revelar mais do que consta da quarta página onde estão as assinaturas cobrindo as 12 pautas do papel pautado, com os nomes daqueles que me honraram com sua presença. Hoje, infelizmente as ausências são muitas, as fontes escassas e os verbetes ralos ou vazios. Vejamos.

 

Assinaturas da plateia de 20.12.1952

 

Franciso Dias da Costa Vidal - Ao que consta do terceiro parágrafo deste artigo, acrescento  o que diz o que ele sempre foi: um inesquecível saudoso amigo e parceiro.

  • Yara Bastos André - pianista, professora, poetisa e escritora, autora de uma sensível autobiografia intitulada Poeiras do tempo. Formada pelo Conservatório de Música de Pelotas, foi docente dos cursos de Licenciatura, Bacharelado e Pós-Graduação em Música da UFPel. Autora de Escalas e Arpejos: Base da Técnica Pianística (1977), tese ao concurso de livre docência em piano do então Instituto de Letras e Artes da UFPel. É membro do Centro Literário Pelotense fundado em 1994. Tem entre seus distinguidos alunos a também mestre em música, sua filha Sonia André Cava de Oliveira, Professora Associada da UFPel. Depois de 1953, quando comecei a frequentar a Escola Livre de Música da Pró Arte, em São Paulo, e a ser aluno do compositor e regente H. J. Koellreuter, prezando e valorizando a apresentação por ela feita àquele mestre, logo acostumei-me a chamá-la e a considerá-la “minha madrinha”, aquela que me possibilitou escolher uma carreira e ter um novo norte e, novos horizontes.

Zilda Müller

Candida Isabel Madruga da Rocha - Um século de Música Erudita em Pelotas

1827-1927.Tese de Mestrado (1979), tendo como orientador Olírio Plinio Colombo.

Isolda Rodrigues Dias

Ignez Dias da Costa Vidal - Pianista e ex-presidente do Grêmio dos Alunos do Conservatório de Música de Pelotas, responsável pelo boletim Cultuarte, no qual figura o registro mais antigo sobre o Estúdio de Música Eletrônica do Brasil, terceiro no mundo.

Suely Michelon

Ilka Rodrigues Dias

Elsa dos Santos Krüger

Maria Gastaud

Heloisa Dias da Costa

Therezinha Dias da Costa Vidal

 

No rol das assinaturas, chama nossa atenção o futuro almejado pela pianista

Maria do Carmo Seus

“Que esta premiere seja o princípio de muitas outras”.

 

Carlos Alberto Vieira Mota - Fundadores e ativo membro do Teatro Escola de Pelotas, foi exímio declamador. Jornalista que usava o pseudônimo de Ivy. Assinou a “página social” dos jornais Diário Popular e Opinião Pública de Pelotas. Foi hábil e criativo modista. Casou com a pintora Bebete Casareto.

Luiz Carlos Correa da Silva - Ator fundador do Teatro de Ensaio, foi professor de matemática e diretor do Colégio Municipal Pelotense.

Hélio Correa da Silva - Ator fundador do Teatro de Ensaio de Pelotas. Casou com a soprano Suzana Pereira.

João Carlos Tavares - Ator fundador do Teatro Ensaio de Pelotas. Mudou-se para São Paulo onde fez carreira profissional.

 

A lista dos nomes termina com a data: Pelotas, 20 de Dezembro de1952.

 

Ainda a primeira audição do Prelúdio

 

Embora com uma visão diferente da de Francisco Vidal, Carlos Alberto Mota não deixou passar desapercebido o evento da primeira audição do Prelúdio e, na sua linguagem de apelo social, colaborou definitivamente para o enriquecimento da informação e da memória relativa àquele acontecimento.

No jornal A Opinião Pública, na coluna Vitrine Literária de 27 de dezembro de 1952, com o título Reunião Artístico-Social na Casa Dias da Costa Vidal – ‘Primeira’ de Composições de L. C. Lessa Vinholes, Ivy escreveu:

Atentamente ouvimos na tarde do dia 13 p. p., na reunião artístico-social em casa da família Dias da Costa Vidal, - cuja anfitriã é de rara beleza espiritual, - a ‘primeira’ de composições musicais do jovem Luiz Carlos Lessa Vinholes, “Prelúdio e Fuga”, composições por “contraponto”, interpretadas pelo engenheiro Francisco Dias da Costa Vidal com muito interesse musical.

Os trabalhos musicais de L. C. Lessa Vinholes, inclinados, pela subjetividade da inspiração jovem, atingem momentos de lirismo musical, de endeusamento de movimentos sonoros que lembraram a Bach. Feliz e primorosa estreia do novel musicista, que exibiu com “sabor” novo, suas composições ousadas e de beleza sentimental.

Anotamos na bonita reunião: a poetisa Lygia Simões Lopes da Silva, a concertista Yara Bastos André, as pianistas Ignes Dias da Costa Vidal e Maria do Carmo Seus, o violoncelista Roberto André, a diplomada Zilda Müller, o elenco permanente do Teatro de Ensaio, a cantora Candinha, as musicistas irmãs Dias – Ilka e Gilka e muitos outros jovens.

Uma reunião artístico-social feliz, auxiliada pelo alto interesse de mundanismo imprimido pelo engenheiro Francisco Dias da Costa Vidal, sua inteligente mãe e sua prendada irmã.

 


[i] A Escola São Luiz Gonzaga foi fundada em 04 de março de 1895, pelo sacerdote jesuíta baiano José Anselmo de Souza, dirigida pelos jesuítas até 1925, auxiliados pelos Irmãos Maristas de 1910 a 1925, ano em que os lassalistas assumiram o Colégio que hoje conta com cerca de 1.200 alunos. Gonzagueanos são aqueles que estudaram ou frequentam o Colégio Gonzaga.

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