O Presidente e as Metáforas
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Como sempre, e mais uma vez, o presidente continua com suas metáforas. Suas frases de efeito. Frases feitas, pelo jeito. Se não copiadas. Com todo o respeito. Toda vez que é perguntado sobre resultado. Dá um sorriso. Por fora. Mas por dentro, fica acuado.
A última foi em São Paulo. Não disse nada. Sobre a questão indagada. Mas usou e abusou da metáfora. Na sua forma engraçada. Disse que, por enquanto, nada. A orquestra estava sendo afinada. Numa alusão à s ações do seu governo. Em todas as áreas perguntadas. Pede paciência. Fala da inflação controlada. Mas que ainda é cedo para baixar os juros. Apesar da choradeira na Esplanada.
Mas afinal, que orquestra é esta, que nada toca? Não se houve uma nota. Ou mesmo um estribilho. Não se resolve o problema do miserável e do maltrapilho. Não há pautas para serem votadas ou tocadas. Não há músicos. Faltam alguns instrumentos. Há metais barulhentos. Sobram cordas no pescoço da gente. Pratos vazios na bateria. Aguardam o Fome Zero. Cantado em verso e prosa. Em samba e em bolero. Todos nós estamos dançando. Ao som da valsa da indecisão. São dois pra lá, dois pra cá. E não se sai do lugar.
Este país assim não anda. Falta o diapasão. Falta afinação. Falta o maestro. Faltam bons compositores. Falta planejamento. Faltam temas. Falta uma grande canção. Falta sopros no coração. Que se mudem o repertório. Musica popular brasileira. Samba-canção e chorinho. No lugar da estrangeira.
Que se abram as portas do teatro. Que se retirem as máscaras dos autores. Que os preços dos ingressos alcancem os compradores. Que chorem os palhaços. De alegria. Que vistam a sua fantasia. E assumam os seus afazeres. Em nome da utopia. A utopia possível. Sem medo, sem rancores. Do circo dos horrores. Liberdade, ainda que tardia.