Sabe como é, a gente não é de ferro, experimenta todas as tensões da vida na cidade grande, os ruídos, o trânsito desordenado, os sinais que lhe obrigam a parar, os avisos luminosos(a faixa da esquerda está interditada, e você já está nela e vai ter que passar um tempão para poder sair), o calor, a umidade, o horário de apanhar a filha no trabalho, os compromissos crescendo e o dinheiro encolhendo, os receios, o tempo minguando, não permitindo nunca que a gente faça aquilo que gosta de fazer(ouvir uma boa música, ver um bom filme, tomar um sorvete de frutas,passear com a compaheira de mãos dadas à beira mar, ouvir o canto dos pássaros no dealbar do dia, ver o crepúsculo da ponte metálica,sentir o vento no rosto trazendo histórias do mar e de pescadores). Tudo o que gente faz é ser empurrado pelo ventre da vida cotidiana, para o trabalho, para encontros com pessoas desagradáveis que você gostaria de mandar para o inferno ou para a China(mas a China agora está muito desenvolvida!).
Pois bem, diante de tudo aquilo caiu numa baita depressão. Ficou com a síndrome do medo. Tudo se complicava, desde do ato mecânico e simples de beber água até os mais intricados que, na sua cabeça eram monstruosos obstáculos para viver.
Foi ao médico. Era um senhor grisalho de fala mansa, que falava e pigarreava, praguejando contra o vício do cigarro que não tinha forças para largar.
Respondeu às perguntas meio desanimado. O médico confessou que sofria de enxaquecas desde menino e nunca encontrara um remédio eficaz. Perguntou-lhe se conhecia algum.
Olhou demoradamente´para o médico e teve pena dele. Perdeu a confiança. Era um fraco, cheio de mazelas. Não pudera sequer curar-se das enxaquecas!
Foi para casa mais animado, afinal, neste mundo enorme, tinha alguem mais fraco e mais infeliz que ele. Infeliz? Pensando bem, não. Arremessou os maus pensamentos para o alto, olhou-se no espelho e deu um solene BOA TARDE! E mandou a depressão para a puta que a pariu! |