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Artigos-->Um sonho chamado Porto Claro -- 19/12/2000 - 00:22 (Adriana Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Sou a delícia de ser livre e puro

De não ter razão, ou não querer

Sou o sonho do profeta e do poeta

Sou Porto Claro, luz do amanhecer"

(trecho do poema "Porto Claro")





Somente um poeta ou um profeta para sonhar um país. É preciso ter um pouco de Jorge Luis Borges mesmo sem ter lido "As Ruínas Circulares".

Um dia um menino sonhou um país. Um porto, uma cidade, suas casas e palácios, seus reis e seus sistemas. Era um sonho tão bonito e perfeito que ele convidou seus amigos e habitou a terra onde nunca pisou, mas onde fazia e mandava. Era um deus que tudo podia, tudo sabia, nessa sua terra de sonho.

Acontece que todo sonhador quer ver seu sonho se tornar real. O menino guardou esse desejo consigo por anos, até descobrir que não era o único que sabia sonhar um país. Então resolveu mostrar a toda a humanidade que também podia. Como o sonhador de "As Ruínas Circulares", que sonhou um homem durante anos, em todos os seus detalhes, o menino entusiasmado deixou sua criação sair para a "vida real". Como no conto de Borges, ele foi soltando as amarras aos poucos, até que seu país sonhado tomasse vida própria. Sem saber, ele inventava outra entidade: o mundo micronacional lusófono.

Como um dia o menino, sedutor, atraíra seus colegas, da mesma forma conquistou pessoas que nem conhecia para dividir seu sonho. E essas pessoas traziam seus próprios sonhos para dentro do país sonhado, que se tornava cada vez mais forte, mais rico e perfeito. Esses cidadãos tomaram o lugar do fogo no conto de Borges: animaram, deram a vida independente que o país precisava. Era inevitável: o sonho tornou-se maior que o sonhador e quis libertar-se. Já conseguia andar sozinho, não precisava mais do amparo de alguém que o sonhasse.

O menino sonhador -que já ia se fazendo homem- jamais previra que o sonho crescesse a esse ponto. Sentiu-se traído pela sua criação, teve ciúmes dela. E justamente então, quando amadurecia simultaneamente ao país que sonhara, tentou o mais infantil de todos os atos: "levar a bola embora", recolher o sonho para si novamente. Mas ele não respondia mais. Tinha sua vida própria, suas regras, seu governo, sua história. Há muito tempo deixara de ser o sistema fechado de um sonho: era real. Uma vez que o fogo deu a vida, não há força nem argumento que o faça voltar atrás.

O sonhador não quis ouvir, nem quis entender essa realidade. Acuado, negou o que criara. Acreditou que poderia sonhar novamente o mesmo sonho e adaptá-lo às suas idéias então. Novo engano: um sonho não se repete a não ser como um arremedo frágil e sem conteúdo. Insistir nesse sonho inconsistente é como fazer um boneco de barro, um "golem" sem vontade, em vez de um ser viável.

Mal ou bem, o arremedo de sonho se mantém. Mas o sonhador continua observando de longe seu sonho real, aquele a que dedicou toda sua vida, que continua forte e saudável, apesar de seus esforços para que os outros vejam que aquele é um sonho abandonado.

Não tenho dúvidas de que o sonhador, no fundo do peito, sabe que esse é seu sonho real. Seu orgulho o impede de admitir que o sonho renegado é, ainda, o mesmo que sonhou. Que, ainda que hoje ele e o país sonhado odeiem-se mutuamente, ainda se trata de uma parte de si mesmo. Talvez esteja aí o sentimento ferido do pai que viu o filho mimado ficar independente por conta própria; talvez mesmo uma ponta de inveja.



*********

Amigo Pedro, espero de coração que não se magoes com o que escrevi agora. Dificilmente vais encontrar palavras mais amistosas de qualquer outra pessoa de uma micronação democrática. Porto Claro -a que se encheu de vida e de cidadãos, não a outra que sustentas- é admirável pelo que tem de criativa (teu atributo) e pelo que tem de livre (a qualidade que você quis negar a ela). Foram essas duas coisas que a tornaram a fortaleza que sobreviveu à tua perda. São elas que a impedem de chorar por ti.

Só torço, aqui do meu lado, que um dia tu abras os olhos e consiga ver as coisas sem a lente do orgulho. Então perceberás que um sonho que cria suas asas, seja de um profeta, de um poeta, de um louco, é puro -e precisa ser livre.







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EXPLICAÇÃO SOBRE O TEXTO



Este texto foi escrito há mais de um ano e se refere à micronação de Porto Claro. Micronação é uma simulação de país, um hobby que tem por base a cidadania, a que me dedico desde o início de 1999. Minha micronação atual, Campos Bastos, da qual sou a presidente num regime parlamentarista, surgiu como uma secessão de Porto Claro e pode ser acessada em http://camposbastos.cjb.net.
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