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cronicas-->Querido Diário -- 26/05/2003 - 18:21 (Clodoaldo Turcato) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Querido Diário, eu não entendo esse povo daqui. É uma gritaria misturada com palavrões; coisas cabeludas tipo poooora! caralho! foda! rapariga! cacete!... melhor parar, senão vai lamelar esta página. Para a vida seguir em frente eles esbravejam feito carijó. Só falta sair dançando ao redor da fogueira, nus. É como se em cada grito soltassem um pouco da dor, da miséria e da discriminação. Este povo chora pouco, festa muito e cria coisas maravilhosas que em nada denotam seu palavriado. Vejam um poema, uma música ou qualquer obra. Lá está o traço marcante desse pessoal. Ninguém no mundo consegue, em condições tão adversas, criar tanto. O povo é por demais nervoso, qualquer cosa é motivo para uma discussão: política, futebol, carnaval... Em uma roda de dominó se houve de tudo, quem tem ouvidos inocentes mal aguenta cinco minutos. É uma anarquia só. Outra doidera - vejam que já peguei o jeito dos daqui - são as relações entre casais: os conflitos são constantes. Também estão com o sangue sempre fervendo. Essas discussões baixam o nível a tal ponto que sugere-se um assassinato. Porém, isso é muito comum, logo a seguir está o casal aos beijos, com o apetite muito mais intenso. Os daqui são quentes na briga e no amor. As mulheres daqui não são chegadas a homem mole. O cabra tem que ser forte, amoroso e carinhoso, é claro, mas duro; aí elas chegam mesmo. Mesmo assim é enorme o número de moças grávidas abandonadas que não buscam seus direitos. As que não abortam, pratica comum das daqui, criam seus rebentos sós ou com a ajuda de pais e amigos, tudo com fé em Deus. Contra todos os prognósticos o meninos crescem e com alguma sorte não caem na marginalidade. Os daqui não desesperam à toa, nada os assusta. Viver é sem futuro, a morte pode chegar hoje, amanhã... quiçá. Hoje é preciso lutar, é preciso festar; é preciso estar gritando alto, discutindo, mostrar a opinião. Nada de calar, calar é para fracos e mudos. Os daqui esbravejam. Amanhã nunca se sabe. Os daqui são pobres, pobres, daquelas pobrezas de dar dó. Eu achava que o problema dos daqui fosse a seca, mas não é só. A distribuição de renda é desigual como em poucas partes do mundo. Mesmo com essa cara feia, força na voz e coragem, deixam-se dominar por forças políticas corruptas e maracutaias que os empobrecem cada dia mais. Às vezes acho que os daqui só tem conversa. Gritam por gritar, pra jogar no ar um monte de palavrões. Outra coisa que eu acho é que os daqui não conseguem se organizar por serem assim. Todo mundo dá palpite em tudo e nada se concretiza.
Querido Diário, tem hora que os daqui me cansam.
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