Um tanto assim lentamente
fui sofrendo a perda líquida e certa
antes mesmo da hora de tua partida.
Aos poucos fui sofrendo
a metamorfose do teu rosto querido
transformando-se no retrato
que carrego como um amuleto.
Teus lábios, tanto quanto teus olhos,
perguntavam-me a todo momento
“o que foi?” diante do meu olhar,
que não desgrudava de ti
como se a prender-te dentro dos meus olhos,
e impedir tua ida
E eu dizia “nada” como quem houvesse
esquecido todas as palavras.
E dentro eu sofria a transformação
lenta que ia te fazendo um vulto,
e em breve, uma lembrança.
Por pouco tempo, eu sei.
Mas dentro, sigo sofrendo
todas estas perdas, metamorfoses,
mudanças de estado,
e sigo vivendo da presença
inconfundível da tua ausência
em cada pedaço do meu dia.
E a cada pedaço de dor,
injeto-me a morfina dos teus olhos
que tingem o mundo de azul
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