A bala encontrada
é o símile burocrata,
reles e mais covarde,
da congênere bala perdida.
Descoberta
- por puro acaso,
em arsenal secreto,
- a céu aberto,
de cuja existência
nem os serviços de inteligência,
nem o senso comum,
desconfiavam...
Tal munição
assim tão impudente,
confortavelmente instalada,
atende e despacha,
em meio expediente
no edifício sede
de organização,
para ou não governamental,
bem no centro da cidade.
Projétil truculento,
discreto mas violento,
é sério,
não faz piada,
não brinca,
não perde tempo,
um bico,
um “por fora”,
incrementa-lhe o salário,
garantindo empregos
diretos e indiretos,
aqui e além-mar.
A bala encontrada
jamais será desmascarada,
há séculos é parte importante,
da nossa festejada tradição cultural.
Sócia oculta
de óbvias empresas funerárias,
tem ativos crescentes,
nas bolsas e bolsos,
e pouco lhe importam
as cotações diárias...
No infalível mercado da morte,
independente da boa ou má sorte
clientes não faltam,
a cova não é opção.
Se os mortos não falam
que os vivos saibam e digam
o nome da infame:
farsa, trapaça,
jeitinho,
desvio de verba, por filantropia.;
vantagem escusa,
bola,
propina,
embeleco,
embuste
ou simplesmente corrupção... |