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cronicas-->Desordem no trànsito -- 20/05/2003 - 15:24 (Leonardo de Oliveira Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Desordem no trànsito

Publicado no jornal O Popular no dia 19/05/03

Leonardo Teixeira
leoarietto@globo.com

No livro Desobediência Civil, Henry Thoreau, escrito aproximadamente em 1850, quando o autor esteve detido na prisão, ele previu algumas cenas do caos ocorrido no dia 28/04/03, em pleno rush do horário de almoço de Goiània. Afinal, "não é cedo demais para a rebelião e a revolução dos homens". Quem não adora ficar estancado no seu veículo, em pelo vigor do sol do meio dia? Só assim mesmo para Goiás ser manchete do jornal nacional! Que orgulho! Que ironia!
Goiània foi Hollywood! Os microónibus fecharam a Praça Cívica e deixaram o Palácio das Esmeraldas ilhado. Motoristas trancavam seus autos e deitavam à sombra, escondendo as chaves e esperando o tumulto explodir. A Polícia Militar chegava com suas sirenes, policiais faziam zigue-zague com as motos, entre o tumulto de veículos, a cavalaria chegou com vários modelos de alazão e, porque não, pangarés, sempre guiados por homens armados com revólveres 38 e cassetetes (estilingues, em face dos fuzis dos bandidos), viaturas da Rotam chegavam com os policiais (men in black) com a metade do corpo do lado de fora dos carros, com os braços pendurados e rostos nada amigáveis. O batalhão de choque também compareceu à festa. A população começava a chorar, rir, se esconder, principalmente quando alguns tiros foram disparados para o alto. Policiais do grupo tático reuniram-se no posto de gasolina, na esquina da 84, e começaram a bater os cassetetes no chão, criando uma harmonia em sons de tambores de guerra. Passei no meio deles e percebi alguém gritar brincando "atacar". Um senhor de idade mais avançada passou por mim, reclamando dos absurdos e bateu palma, incentivando os policiais.
A atitude de raiva estava estampada dos olhares odiosos do povo. Alguns deles começaram a balançar alguns veículos, ameaçando tombá-los. Os policiais intervieram para conter a criação de novos hooligans rebeldes. Houve rixa em massa, correria em desespero. Bombas de efeito moral (dá para entender esse nome?) foram lançadas em várias direções, ferindo algumas pessoas. O terremoto de agonia ia passando lentamente. Helicópteros e càmeras de reportagens registravam o incidente. Sem muita opção, os motoristas dirigiam pelas calçadas, guiavam na contra-mão, abandonavam os carros e um festival de buzinas alarmantes espantava os pássaros. Usuários do transporte coletivo subiam em grupos, a pé, em marcha semifúnebre, na passeata do passeio público, no meio das avenidas 85 e 84, apesar do tórrido sol esturricar as cabeças humanas. Alguns chaveiros abriram os microónibus e fizeram ligação direta, retirando os veículos do local, enquanto outros foram guinchados. Escrivães da DEIC sofreram os dedos para preencher a papelada referente às 32 prisões.
Ouvi alguém dizer que queria ver o metró circulando o mais rápido possível. É verdade que nem todos os trabalhadores do transporte alternativo são adeptos ao radicalismo que faz o povo sofrer tanto. Até porque a população apóia as vãs, que reduzem o tempo do trajeto dos passageiros. Seria um tipo de egoísmo inerente aos mais frios, para refletir a imagem vaidosa do alter-ego. O direito de circular pelo centro da cidade deve ser conquistado, e até lutado por ele, dentro dos limites legais e democráticos, mas fazer a população ficar irada, não é uma boa alternativa para os perueiros.
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