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Artigos-->O CRITICO ROMENO MIHAI ZAMFIR -- 15/12/2000 - 01:25 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MIHAI ZAMFIR







ENTREVISTA

João Ferreira





O presente texto é resultado de uma entrevista feita pelo Prof. Doutor João Ferreira, da Universidade de Brasília, destinada a Cerrados - Revista de Pós-Graduação em Literatura, do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília. O Prof. Doutor Mihai Zamfir atuou como Professor Visitante, nas funções de pesquisador e docente do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília, no ano de 1995. Eis o texto integral da entrevista:





(CERRADOS)-Gostaríamos, em primeiro lugar, que o Prof. Mihai Zamfir fizesse sua apresentação. Quando e onde nasceu, seus estudos superiores, sua carreira universitária, na Romênia e no exterior, sua ligação com a Literatura, Literatura Comparada e Estilística teórica, suas atividades culturais mais importantes.





Mihai Zamfir:



- Nasci em Bucareste, durante a última Grande Guerra Mundial. Ingressei no Curso de Letras da Universidade de Bucareste, em 1957, após ter terminado o curso de segundo grau com apenas dezesseis anos, tendo terminado o curso universitário com vinte anos. Minha vida ativa começou muito cedo, mais ou menos dentro do esquema intelectual do século XIX. Comparando os tempos, fico triste quando vejo o sistema americano espalhado por todo o mundo segundo o qual o jovem só completa sua formação universitária depois dos trinta anos de idade. Defendi minha tese de doutoramento aos 28 anos e fui, na altura, o mais novo doutor da Faculdade de Letras de Bucareste. Nos dias de hoje, isso seria certamente impossível.

Mudei de ramo e de rumo várias vezes, sempre que achei que o domínio intelectual em que trabalhava tinha esgotado suas reservas de curiosidade. Estudei a Literatura Romena do século XIX, depois a Literatura Romena do nosso século e a Literatura universal, de um modo especial as Literaturas Românicas, a Estilística Teórica e a Aplicada. Tive a sorte de viver um ano na França quando tinha apenas 25 anos, e depois três anos em Portugal. A verdade é que poucos intelectuais romenos da minha geração tiveram esta oportunidade. O regime da ditadura em que a Romênia viveu durante quarenta anos impediu sistematicamente as relações entre a Romênia e o Ocidente europeu.



(CERRADOS) -Um dos destaques de sua carreira universitária é o enfoque dado, em sua atividade de professor, pensador e escritor, à Estilística Teórica. Sua tese de doutoramento, orientada por Pierre Guiraud, publicada em 1971, tem o título de A Prosa Poética romena do século XIX. Gostaria que descrevesse as ideias centrais defendidas nesse livro. Houve alguma influência metodológica ou de inspiração, ao pensar no tema, do livro de Gustave Lanson L Art de la Prose, o qual tem um capítulo sobre La phrase artistique du XIX.e siècle, outro sobre Les élements artistiques de la phrase au XIX.e siècle?



Mihai Zamfir:



-Quando comecei a estudar Estilística nos anos 6O, as expectativas que tínhamos acerca da metodologia dessa matéria pareciam imensas. Após mais de um século de impressionismo, a análise literária parecia enquadrar-se num esquema objetivo. Passados trinta anos e passado também o auge do estruturalismo, vejo as coisas com menos ingenuidade. A Estilística tem que renovar-se completamente para não ficar a um nível linguístico dos anos 6O. Naquela época, existiu em Bucareste um importante Círculo de Estilística orientado por dois célebres professores romenos: Tudor Vianu e Alexandre Rossetti. O próprio Roman Jakobson fez várias conferências em Bucareste no âmbito deste Círculo. Na altura, o entusiasmo foi grande e vários dos meus colegas do Círculo são hoje professores de Estilística em grandes Universidades, em vários pontos do mundo: Toma Pavel, da Universidade de Princeton (USA), Sorin Alexandrescu, da Universidade de Amsterdam (Holanda), Virgil Nemoianu da Universidade de Washington (USA) e outros.

Quando fiz meu doutoramento na França, o estruturalismo do tipo TEL QUEL e de Barthes parecia invencível. Pessoalmente, porém, nunca acreditei no estruturalismo extremista e demasiado teórico. Foi por isso que um livro tão antigo como L Art de la Prose, de Gustave Lanson, me ofereceu sugestões para a pesquisa em que estava envolvido, ou seja, mais concretamente, para a definição da prosa poética e do poema em prosa.



(CERRADOS) - Ligado visceralmente à Universidade, à pesquisa e à Educação, pelas funções administrativas e acadêmicas desempenhadas, descreva como vê a pesquisa, a nível nacional (Romênia) e internacional, nos estudos de Letras, seus eixos essenciais e as tarefas dos novos pesquisadores frente à teoria e à prática da hermenêutica Literária.



Mihai Zamfir:



-Penso que a pesquisa deveria ser a razão principal da existência de uma Universidade. O alto nível do Professor não pode ser admitido sem uma pesquisa científica de nível reconhecido.

É claro que no domínio das Letras, a pesquisa é diferente do que ela significa na biologia ou na engenharia, onde um laboratório é condição dundaemntal para se fazer pesquisa. Na área de Letras acredito que deverá haver um equilíbrio entre a pesquisa individual ( livros científicos, estudos, comunicações em congressos) e a pesquisa coletiva manifestada em obras de cultura geral e referencial (dicionários e enciclopédias, tratados de história literária ou de linguística, antologias,etc). Penso que a participação do professor universitário de Letras nestes empreendimentos de importância e de relevo nacionais devria ser obrigatória. Se assim não for, os intrumentos de trabalho mais úteis serão escritos por pessoas inteletualmente menos competentes mas de grande visão financeira.



(CERRADOS) - Autor de vários livros de história literária, literatura comparada e Estilística, diga para os leitores de "Cerrados"os títulos dos princípais livros que escreveu sobre as áreas citadas, o que representam esses livros na sua pesquisa e o que significam como material de estudo para os universitários e pesquisadores de Letras em geral.

. Faça um comentário sobre o lugar da hermenêutica na crítica e sobre as teorias hermenêuticas mais debatidas na história literária contemporânea, e nos departamentos de Letras que conhece: Bucareste, Paris, Lisboa e Brasília, em especial





Mihai Zamfir:



-Escrevi vários livros sobre autores romenos e estrangeiros: quinze livros, a maioria como autor único, e três livros em colaboração com outros. Entre eles, cito O Poema romeno em prosa, Tratado de História da Literatura no século XIX, A outra face da Prosa e um livro sobre o Romantismo. No domínio das Literaturas Românicas, sou autor de um livro sobre a estrutura do romance À la Recherche du Temps Perdu de Marcel Proust que intitulei de A Imagem escondida. Sou um dos co-autores do primeiro Dicionário romeno-português, editado em Portugal (Porto, Porto Editora 1977). Sobre a lírica portuguesa, tentei uma síntese no livro As Formas da Lírica Portuguesa, publicado em Bucareste em 1985, além de muitos outros.

No que se refere à Hermenêutica, diria que hermenêutica significa no fundo uma nova maneira de ler o texto. Este estado de espírito apareceu há quase vinte anos como solução teórica para as perguntas deixadas sem resposta pelo estruturalismo. Após a queda do estruturalismo, a Hermenêutica parece a única solução para uma análise textual profunda. O que a mim me interessa é a dimensão estilística da hermenêutica. Foi a Hermenêutica, finalmente, que propôs uma nova estilística, ultrapassando o nível meramente gramatical e criando uma estilística dos temas, dos motivos, das influências estrangeiras, das traduções,etc. Nada disto teria sido possível se este novo tipo de leitura dos textos clássicos, que apareceu vinte anos atrás, tivesse ficado como projeto promissor e nada mais.



(CERRADOS) -Além de professor universitário, o senhor é um romancista conhecido na Europa - Os leitores gostarão de saber os títulos de seus romances, ano de publicação e fortuna crítica desses romances.



Mihai Zamfir:



-Não sou conhecido na Europa, mas sou conhecido na Romênia. Escrevo prosa há vinte e cinco anos, mas comecei a publicá-la somente nos últimos dez. Publiquei dois romances e tenho um terceiro preparado para o prelo. O romance Em casa, publicado em 1992, foi considerado pela crítica literária, em levantamento feito junto à opinião pública romena em 1993, como o "romance do ano [1992]".Na medida em que o tempo passa, vejo claramente que a escrita é o objeto único. No mundo das Letras tudo é ficção.As diferenças entre o ensaio científico bem feito, muito legível, e um romance, começam a ser cada vez menores. Para uma pessoa que durante toda a vida procurou o mistério da Literatura e o mistério da escrita sem nunca conseguir descobri-lo completamente, a própria criação literária representa a solução.



(CERRADOS)-Como jornalista, o Professor Zamfir é autor de mais de 5OO artigos sobre escritores romenos e estrangeiros, publicados nas principais revistas culturais da Romênia. - O que representa essa ação jornalísitca na sua biografia. É uma extensão de sua atividade docente na universidade e da pesquisa científica ou significa algo mais.



Mihai Zamfir:



-O jornalismo é indispensável ao escritor. Para quem escreve livros volumosos, escrever bem um artigo de duas páginas, representa uma prova decisiva. Fiz jornalismo cultural durante vinte e cinco anos, não só porque era minha especialidade, mas também porque vivi num regime de censura política. Agora, depois de 1989, com o fim do comunismo na Romênia, faço jornalismo militante, isto é, anti-comunista. De fato, faço jornalismo anti-ditatorial defendendo a mais recente conquista realizada pelos romenos - a liberdade. A minha coluna, chamada Pequeno Dicionário, na principal revista do país, Romania Literara, tornou-se numa das mais conhecidas e lidas da Romênia. Talvez todos os meus livros de história literária e de Estilística não trouxeram metade dos leitores que me trouxe esta coluna semanal. Nunca tive o tradicional desprezo do Professor para com o jornalista porque sempre soube que um grande Jornalista é tão raro como um grande Poeta.



(CERRADOS)-Dedicou-se também ao ensino da Literatura Portuguesa na Romênia. e foi Professor na Faculdade de Letras na Universidade Clássica de Lisboa, onde teve ação notória. Além do seu livro As formas da lírica portuguesa que publicou em Bucareste em 1985, diga se há, em sua atividade de pesquisador, outros eixos de estudo dessa Literatura, assim como seus contatos com a cultura Portuguesa.

-Como está a relação dos intelectuais e das universidades romenas com o conhecimento da Literatura Brasileira?



Mihai Zamfir:



-O amor pela Cultura Portuguesa é o grande amor da minha vida. E como todos os grandes amores, torna-se mais forte a cada ano. Há uma parte visível desse amor. Criei na Universidade de Bucareste a primeira seção de Português na Romênia, em 1975. Escrevi vários livros e estudos sobre a cultura portuguesa. Mas, a parte mais importante, fica invisível: o mundo lusitano modificou profundamente a minha visão sobre o mundo. Em tudo o que escrevo ou penso, há uma componente lusitana, que faz parte de minha própria personalidade e que registro sempre com prazer.

E quando falo do mundo lusitano e especialmente do mundo lusíada, o Brasil entra como parte integrante deste mundo. O descobrimento do Brasil que realizei recentemente foi uma das mais felizes oportunidades que a vida me ofereceu.

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