Eu já fui um desses botos
Que viviam no Araguaia,
Não era boto cor de rosa
Esse é viado e usa saia,
Era garanhão,muito macho,
E ficava lá na praia!
Mesmo quando boto novo
As botinhas já namorava,
Depois fiquei um botão
As moças já procurava,
Ia nos bailes nas fazendas
Muito bem me disfarçava!
Me jogaram umas uvas
Sorri, bastante contente,
Não sou de chupar nada
Mas deixei só a semente,
Depois, jogaram os esgotos
Caí fora rapidamente!
Os esgotos lá jogados
Eram dos enciumados,
Maridos traídos, cornos,
Ou então, só namorados
Das mulheres do lugar
Que nós tínhamos "traçado"!
Rio Garças e o Araguaia
Suplicando pela vida,
Os botos mal respirando
Sem encontar uma saída,
Nossa comida escasseava
Naquela água poluída!
Eu estava tão agonizante
Não sei bem o que ocorreu,
Dormí e acordei tonto
Parecia um pesadelo meu,
Mas, estava no Rio Doce
O Espírito Santo me valeu!
Despertei em Colatina
Indo na direção do mar,
Mas, chegando em Linhares
Uma botinha fui encontrar,
Hoje tenho dois lindinhos
Que me dão muitos carinhos,
O Botão já parou de botar!
Os poucos remanescentes
Que estão no Araguaia,
Até hoje são encantados
Loucos por rabo de saia,
Os cornos,lixo vão jogando
E os botos todos mamando,
Nas mulheres, lá na praia!