Usina de Letras
Usina de Letras
140 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62228 )

Cartas ( 21334)

Contos (13263)

Cordel (10450)

Cronicas (22536)

Discursos (3238)

Ensaios - (10364)

Erótico (13569)

Frases (50622)

Humor (20031)

Infantil (5433)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140803)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6190)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->O HOMEM UTÓPICO QUE OUSOU SONHAR! -- 26/01/2004 - 18:59 ( Marcello ShytaraLira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O HOMEM UTÓPICO QUE OUSOU SONHAR!


Amanheceu e o astro rei levantou vôo com seus intensos raios incapazes de iluminar as trevas de um planeta moribundo. Não são muitos os que agora o habitam. Por azar possuíam genes especiais e escaparam, temporariamente, ao holocausto nuclear.
Lembro-me daqueles chás de cogumelo que eu bebia para fugir deste mundo, fazendo-me viajar por lugares exóticos, jamais presenciados por olhos nus. Viagens maravilhosas. Eu em vôos rasantes sobre uma savana repleta de vidas, variadas vidas. Sempre em contato com a natureza __ sem interagir__ correndo com os animais, sorrindo para os pássaros que cantavam numa alegria sem fim. Esta é a minha natureza. “ Os sonhos até parecem realidade, enquanto estamos em estado onírico, depois... é viver com a realidade.” De manhã o sol me acordava, convidando-me a sair cantarolando e a adorar a paz que ali reinava. Todavia aquele grande cogumelo que avistava ao longe não servia para fazer chá. Mesmo assim, levou-me a uma viagem estúpida que eternamente viverá em minha memória. E a minha sorte de estar agora vivo, é o meu tormento de presenciar belos momentos de terror.

Quantas saudades daquelas viagens quando minha consciência nada tinha a temer. Embora não fosse o caminho certo a seguir, pois ao retornar a realidade percebia que fugir não resolvia os meus problemas, enquanto perpetuasse o Insignificante Ser Primitivo. Onde o credo está no limiar da loucura, dentro de sua Mente Demente. “Puxa vida! O que pensamos ser o correto, torna-se o incorreto, pois o incorreto não é exatamente como dizem ser o correto.” Aquele maravilhoso cogumelo atingiu uma altura inacreditável, espalhando pelos quatro cantos lindos raios de purpurina radioativa, numa temperatura de arrasar. Ao penetrarem carinhosamente nas pessoas fizeram seus corpos dilacerarem, derreterem feito plásticos ao fogo. Presenciando àquele evento veio em minha mente a seguinte frase: “Não esqueçam, mas esqueçam!”
__ Quando penso que estamos seguindo um caminho que não tem volta, a morte é a única solução para os imbecis.
No meu julgamento implorei para que o júri me condenasse um imbecil, entretanto, este não foi o veredicto.

Onde e quando foi que eu em entreguei, corri para todos os lados e não cheguei a lugar algum. É como se eu nunca tivesse saído. Os cruzamentos são paradoxais, somos pequenos dentro de um mundo cheio de dogmas. O que eu assistia à minha frente não era nenhuma reprodução cinematográfica. È realidade! Sem meios de fuga. Encontrava-me aterrorizado. Fechei meus olhos, em vão, pois ainda assim via as pessoas despedaçando-se, agonizando no chão. O nosso adorável progresso não resistiu, rompeu-se em milhares de fragmentos, atingindo com fúria os seus poetas tecnológicos. Enraivecido puniam-nos inexoravelmente.
__ Fodam-se! Não foram os mesmos a cavar suas próprias sepulturas?

Oh! Não se deram por satisfeitos com um avantesma gigante, lançaram outro, depois mais outro e outro... e outro... E outro, pra que? Na claridade imensa ardiam minhas lentes. Eu rezava, vejam vocês, eu rezei naquele momento para que a claridade deixasse-me cego, todavia o meu destino algemado havia e nada, nada me atingia.

Apenas algumas queimaduras em meu corpo adicionavam-se à minha agonia.
Grupos de pessoas corriam desesperadas e sem proteção de um lado a outro. Aos poucos desistiam, perecendo no pobre solo pobre. O qual já se encontra tingido de vermelho, puro vermelho de sangue da morte, formando indizíveis lindas cascatas, que despencavam nas enormes fendas abertas pelos grandes cogumelos e pelos bombardeios dos pássaros metálicos. Atingidos disputavam um campeonato de mergulho. Em suas descidas realizavam incríveis malabarismos. Com o dióxido de carbono exalado de seus rabos escreviam seus nomes de morte no ar viciado.
Para o vencedor e para o perdedor diferenças não há, pois o prêmio é o mesmo: uma vida sem angustias. Desciam como se não quisessem evitar o impacto, quando chegavam ao solo era aquela festa do barulho, para depois o silencio pairar num tributo aos viajantes. Dali partiam para o purgatório. Local este acredito estar agora com alta densidade demográfica, pois haveriam de pagar, pôr desobedecerem ao principal e único mandamento da vida: Preservar a vida. Outros pássaros metálicos foram atingidos por grandes animais voadores de formatos esféricos, pontiagudos, compridos e com duas asas em seus rabos. De seus anus soltavam chamas azuladas. Muitas cidades feneceram, foram aniquiladas.
__Ò criador tão poderoso sabias de antemão que nada, nada sobraria se isso viesse a acontecer, porém, sabias também que a teoria é apenas uma loteria, por isso apostastes na prática e... Lá se foi ela!
Coitados desses pequenos e indefessos seres humanos, proles mortais, peças do grande jogo entre os poderosos que nesta disputa, disputavam o controle do universo. Putos! Fizeram-nos suas conquistas, manipularam-nos com doutrinas, com poder. Infiltraram dentro de nós a sensação de ser melhor que o outro e essa onda de ser melhor que o outro metamorfoseou o ser humano, deixamos deste então de ser, ser humano, e passamos a deliciar-mos com a carne do outro, com a reverência do mais fraco. Venceram os poderosos religiosos. Vejo agora todos correndo em busca de proteção. Todos ajoelhados rezando para um dos poderosos, implorando a salvação. Gritaram até a ultima vogal. Encontraram no chão a solução para o descanso eterno.
Eu tentava me proteger do meu protetor de frio, pois o calor estava insuportável, mas não consegui. Decidi então tirar toda a roupa, ficando totalmente nu. Já outros não tiveram a mesma sorte. Minhas lentes fotografaram cenas horríveis de pessoas carbonizadas. Muitas delas não tiveram nem tempo para se mexerem, transformadas foram em estátuas enegrecidas. Pessoas pulverizadas adicionaram-se as areias dos redemoinhos. Milhares ainda correm deixando partes de seus corpos. Suas peles caem, escorregando pelo corpo. Seus gritos penetram meus tímpanos como laminas afiadas a cortar minha carne. Olhei ao meu redor, milhares, milhares e milhares -- __ puta que pariu são muitas!__ de pessoas caídas sem pernas, sem braços, sem cabeças.











Os arranha-céus reduzidos a montes de concretos e ferros reduzidos. Lixões foram no que se transformaram as grandes obras arquitetônicas dos poetas tecnológicos. A vida é mesmo um paradoxo. Sempre pensei que aquele mundo fosse o próprio inferno, mas agora ao ver este aqui, percebo que tudo passou do paraíso à divina comédia. “Quem Somos Nós? Intelectuais? Monstros? Talvez, porém nem Dante poderá nos responder...”
O diretor desse evento com certeza receberá o “óscar” de efeitos especiais no inferno. Só me restou observar o Resplendor com Dor, perguntando:
__Para onde irá o racional quando ele destruir totalmente a natureza? Onde irá se refugiar? Preciso neste exato momento responder a eu mesmo, pois não sei quanto tempo resistirei a essas radiações que estão invadindo meu organismo, gerando mutações.
De repente, o silencio reinou nos quatro cantos. Achei estar surdo, mas não estava com tanta sorte assim. Realmente haviam cessado as explosões. Olhei atentamente ao meu redor e não vi nenhum tipo de vida a se agitar pelos corredores da morte negra. Restando apenas os fracos gemidos daqueles que ousaram, em vão, vencer em minhas memórias. Pereceram a seguir em suas eternidades. Nada, nada mais há. Há agora o deserto infindo na Terra e em mim. Dei origem a minha caminhada em busca não do sei quê, sendo que tudo estaria com certeza destruído, depois desta devastação. Maravilhosa obra do Incrível Ser Chamado Homem! “Que pena! A vida se deu devido a um produto que no passado remoto se encontrou em harmonia e equilíbrio.” Era imperativo que abandonássemos aquela filosofia de idolatrar o plutônio. Ninguém deu importância ao que eu escrevia, destruíram tudo, até mesmo a Ultima Rosa que caiu no solo precário. “Pensamos que donos somos do todo. Errados estamos, pois não devemos matar o que não criamos.”
Estou alegre, pois sei que os criadores deste tormento estão neste exato momento agonizando também. Estou morrendo de vontade de sorrir, rir bem alto em homenagem aos nossos deuses, que se armaram até os dentes para proporcionarem-me este êxtase. Ainda vomitarei em suas catacumbas com Vômito de vida. Estejam onde estiverem suas carnes em decomposição, irei escrever em suas lápides minha Elegia Nuclear, cantarolando uma ode. “Meu progresso, meu progressinho, vamos todos progressar. Minha usina, usininha, no amanhã venha me enterrar.”
Resisti por muito tempo, mas acabei liberando-me e chorei, chorei descontroladamente. Gastei todo o meu estoque de lágrimas, aliviando o meu peito. Depois de um tempo voltei a caminhar solitário por aquele vasto território abiótico, que outrora fora um belo Éden. Onde aos homens brigavam ferozmente para obterem um pedaço de terra. Agora não há mais donos. Eu devia estar contente por ser o único a me tornar dono de toda esta terra. Ficarei milionário ao vender o planeta para o Alienígena, que disse:
__Quando “você” se autodescobrir, sentirá o peso da divida a pagar.” Não nos deram tempo para descobrirmos a verdadeira poesia que de fato, e essencial, devíamos ter descoberto...

Sou o único a registrar o que sobrou. Estou com fome e gemendo com as queimaduras em meu corpo e sem entender o porquê de ainda estar vivo. Não havia nada ao meu redor que eu pudesse comer. Toda vegetação fora varrida da face da terra. Minha garganta necessitando de água, procurei e não encontrei. Houve mudança. Não!? Retornamos ao passado? Não! Pois, no passado a terra primitiva tinha vida e caminhava para a vida. Esta não caminhara para “porra” nenhuma, foi aleijada pela evolução da vida! Vejo dunas de areias mortas por todos os lados, que o vento arrastava de um lado para outro, formando assustadores redemoinhos. Foi nessa hora que me lembrei de um poeta que disse:
___ “O homem sonha grandes monumentos e só ruínas semeia para a pousada dos ventos.”

O caos... total... completo tornou-se ícone de vitória daqueles homens que ironicamente são sobreviveram para festejar. Andei quilômetros, o dia parecia não acabar nunca. Andei, andei e andei seguido pelo vento que aliviava minha dor. Depois de muito de caminhar encontrei montanhas a minha frente, achei estranho, pois antes não havia montanhas neste lugar. Mas o que pode isso me interessar agora? Quantas coisas diferentes não irei encontrar em minhas caminhadas sem direção? Enfim a noite chegou e com ela uma frio “du cacete”. Um frio impiedoso, quanto mais a treva caía, mais congelado eu ficava. Resistindo, mal conseguindo andar, prossegui. Sou um megalomaníaco e tudo soa na proa daqueles que buscam as grandezas da vida. Ao me arrastar sobre o pó dos jaz, percebi que estava sendo seguido pelos meus brancos abantesmas.
Todos tortos do remoto agora mortos. Lembrança é só o que há neste presente. “A fantasia é algo que pode nos trazer o mundo dos sonhos, de imagens espectrais, sejam elas de prazer, sejam elas de agonia, cabe a nós melhor escolher. E neste dia a escolha fora feita, sem perguntas e sem permissão, literalmente fora feita.” No meio desta desgraça toda a sorte começou a sorrir para mim, encontrei uma caverna e me dirigi até ela. Ao entrar me detive na porta e olhei para trás, num toque magico fui transportado ao passado, a milhões e milhões de anos. Uma enorme savana estava a minha frente, com aquela grama esverdeada, linda, com um tom amarelado, tingida pelos raios solares. Não muito longe de mim caminhavam meus ancestrais com suas armas primitivas caçando o almoço. Todos caçando juntos e atentos para resguardar a vida do outro. Comunicando-se num dialeto de difícil entendimento para mim. Não fui doutrinado para entender essa variante lingüística, pois é uma linguagem universal: falavam com o coração. Tinham ética e o único mandamento era o de manter sempre intocável o mundo que lhes dá de comer e condições de sobreviver às adversidade da natureza. Fui condicionado a um individualismo “filhodaputa”, ser frio e ignorar o sofrimento de meu semelhante. E foi exatamente essa ortodoxia que nos condenou ao sofrimento sempiterno. Em corpos apenas uma pequena vestimenta cobria as partes intimas. Depois que “Vika” pariu a mais bela , rara, complexa e __infelizmente__ inteligente dos animais, passou a controlar a temperatura do planeta, de modo que não era necessário o uso de muita vestimenta.
Minha memória se transformou numa maquina do tempo, as coisas estavam acontecendo rápido demais. A vergonha parece ter se instalado na sociedade, com certeza tomaram conhecimento das proibições impostas, denominadas pecados de determinada doutrina desenvolvida por um homem quando em estado de demência. As mulheres andam cobertas até a cabeça. Os homens agora são muito práticos, adquiriram essa praticidade quando tornaram-se eretos. Controlaram o fogo, escravizaram a água, o ar dominaram e a Terra modificaram. Possuem um arsenal bélico invejável. Descobriram as maravilhas do aço. Estão evoluindo. Fodeu! Estão evoluindo materialmente. No meu desespero tentei correr de encontro a eles para alertá-los sobre o que está acontecendo neste momento.
__Neste momento? Ou foi a milhares e milhares e milhares de anos? Ou será que já aconteceu e estamos reiniciando tudo de novo nesta engrenagem diabólica? E o que é pior reiniciando tudo como antes e como antes tudo errado. Não consegui sair do lugar, há uma barreira impedindo que eu vá até eles. Oh, não! Foram corrompidos pelo poder. Estão extasiados. Não conseguem mais viver em paz. Guerras, fome, doenças e dor estão afetando os mais fracos. “Será a tal lei do mais forte?” “Que tipo de cretino filhodumaputa foi esse para criar lei tão devastadora?”. Os fortes hipnotizados pelo poder não estão vendo que o que estão fazendo para enriquecer-se, afetará não só os mais fracos, mas também condenará aos seus sucessores. Ao seu futuro.
Descobriram a matemática, a física, a química, a medicina. Com a chegada da ciência vieram as doenças implacáveis. Descobriram catalisadores da morte: a pólvora e a moeda. Riquezas e mais... mais poder. O mundo tornou-se pequeno para este grande animal. Reduziram o tempo e o espaço. Construíram veículos terrestres e aéreos, que os conduzem a qualquer lugar em poucas horas. O que antes era praticamente impossível. É o poeta tecnológico esculpindo suas obras de artes.
Tudo estava acontecendo muito rápido mesmo. O que em algum lugar é a mais avançada tecnologia, em outro já se encontra obsoleta.
Guerras, estratégias militares para seqüestrarem e se apossarem das riquezas de outros povos. Aquelas armas que me pareceu ser o mais belo ( belo sim, pois usavam para comer) arsenal bélico, hoje meus primatas ficariam envergonhados. Acabou-se o brilho de minha adorada savana, vejo agora um ar negro, como um invólucro a pairar no ar. Industrias tecnológicas. É o grande avanço do homem em busca de seu futuro. Que futuro? Merda! Futuro de um? Estou vendo agora uma cena horrível. Não, não cavem aí! Tampem esse buraco, não tirem esse mineral daí. “peloamordedeus!” Enterrem-no de volta. Desesperado e aos berros tentei avisá-los. Ninguém me ouviu... acabaram de encontrar urânio..., depois dele virá o plutônio e... morrerei novamente. Em prantos penetrai na caverna, ainda me virei para trás na tentativa de alertá-los, mas foi em vão. Monstros de 10.000 megatons já os devoram.

___De quem será a culpa. Da natureza que produziu em seu interior minério de alto poder de destruição ou será da infinita e misteriosa inteligência imatura do homem? Ou será ainda desta pseudofilosofia que há milhares de anos estamos alimentando-a? Pseudofilosofia esta de enriquecermos materialmente ao máximo, escravizando a todos os de base? Sem respostas e com dor em minh’alma, pois quando aqui estive passei me escondendo, me acovardei e nesta minha covardia contribui para que os vermes nos levassem a esse final, desfaleci. Não vi mais nada.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui