O ABC DO VERSEJO
Vinde-vinde trovadores,
os que trazem mil-amores
e os que vivem sem amor,
vinde à lide e demonstrai
a rima que tão bem cai
como abelha sobre a flor...
Vinde em versos por sextilha,
a segunda maravilha
das estrofes populares,
mas se em pendor não der jeito
esticai mais a preceito
a sétima dos alamares...
Navegai céus estrelares,
percorrei outros lugares,
intentai a descoberta
pela porta sempre aberta
no trono da inteligência
onde a fada da ciência
novos rumos vos desperta...
Se da cinza que acoberta
os segredos desta vida
na ponta da hora certa
encontrardes a saída,
como Camões, instruída,
escrevei pela oitava
o fogo que acende a lava
em facho de luz erguida...
O que resta, entontecida,
é a mania vigente
que prevalece embutida
deprimindo o deprimente
e a fingir-se de eminente
junto da hora undécima
que é sempre a hora péssima
para tomar um acoite,
quer de dia, quer de noite,
sequer valendo esta décima.
E a mosca do pé-quebrado
se não sabeis o que é
imaginai-me emproado
a borrar tudo de pé!
Versejai com alma e fé,
"Aleixai", dai à labuta
o brilho-sol do suor
e à falta de melhor
cessai os filhos-sem-luta!...
António Torre da Guia
Porto - Portugal
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