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Contos-->O Cheiro da Vela -- 07/11/2000 - 00:17 (Cristiano Dimas dos Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A noite vem chegando bem de mansinho.
E com ela o cheiro da vela, que provavelmente vem vindo lá do casarão da esquina, que por sinal é maravilhoso.
Vejo, daqui de onde estou, um dos cômodos que dá de frente para rua, e viso a luminosidade que há lá dentro.
Luz esta, que se apresenta bem preguiçosamente aos meus olhos.
Fico curioso.
E, tomo a iniciativa de me aproximar da casa.
Enquanto caminho, perco-me na eternidade de meu pensamento.
A expectativa me faz talvez perder a noção do tempo.
Aproximo-me da casa colonial, e consequentemente da porta.
Vejo então, que a porta esta viçosamente aberta, e me atrevo a entrar.
Como se eu fosse um ligeiro cachorro vira-lata com insônia.
Subo cuidadosamente pelas escadas bem enceradas pela escravidão.
Subo exatamente onze degraus.
Degraus que logo me levam à uma ante-sala,
Que também está iluminada.
A curiosidade cresce em mim mais ainda,
Meu coração bate mais forte do que as chicotadas recebidas pelo burro de carga.
Meus olhos estão arregalados!
Estão completamente aflitos.
Hipnotizados por aquela luz que vem do outro cômodo.
Vou caminhando bem de levinho, através do grande tapete estreito, estendido sobre aquelas longas tábuas bem tratadas do corredor.
Por mais que eu pise de leve, estas não deixam de me anunciar
Quebrando assim, a harmonia do lugar e da luz que eu enxergara naquele instante por de baixo da porta.
Já mais próximo da porta, pude sentir mais intensamente o cheiro da vela que me levou até lá.
Ouso então colocar a mão na dourada maçaneta.
Constato de imediato, sua fúnebre temperatura.
Mas isso não me incomoda nenhum pouco
Já que a minha intenção é de abrir a bordada e pesada porta.
Giro carinhosamente a maçaneta na direção direita, e simultaneamente a empurro.
E já vejo logo de primeiro a luz que me fizera ir até aquele lugar.
Espanto-me agora, pela pouca intensidade da luz e pelo cheiro que exala da cera quente.
Ainda tomado pela necessidade de conhecer mais o ambiente,
Direciono minha cabeça e os meus olhos para todos os lados.
Bem Vagarosamente
Meus olhos se colorem pela beleza e nobreza artística do lugar.
A sala parece ter sido bordada pelo melhor artesão da província,
Que provavelmente trabalhara com muito zelo.
O que aqui chama mais à atenção
É a condição viril que se encontra o castiçal de madeira escura, que certamente fora esculpido na França.
Os detalhes que enfeitam o castiçal são maravilhosos.
Os enfeites são todos de pura prata polida, que reluzem com ajuda da encantadora luz viçosa.
Do outro lado da sala várias janelas,
Todas acompanhadas por enormes cortinas pesadas, que aliás são bordadas com o ouro dessa região,
Já que o ouro daqui é mais maleável para tal arte.
Examino todos os lugares da sala.
E encontro sobre o cravo alguns fios louros de cabelos bem tratados, que devem pertencer à uma linda mulher.
Aproximo mais um pouco para perto do cravo e, sem querer, esbarro a mão numa jarra de cristal estrategicamente posicionada para o alcance da mão de quem viesse a tocá-lo.
Sem me preocupar com o tempo,
Deixo-me levar pelo ânsia ao desconhecido.
Fiquei por vários quartos de hora naquela sala.
Por alguns segundos, pude perceber, que estava sendo observado por alguém.
Examinando cuidadosamente mais uma vez o local, vejo que algo se oculta por detrás daquelas cortinas
Que eu já me referira em uma anterior passagem de minha observação.
No final da cortina, perto do último babado de cetim,
Vejo um par de sandalhas aveludadas e graciosas as quais não sei definir bem a cor.
Mas posso perceber através da cortina que se mexe, uma respiração ofegante, típico de alguém assustado.
Crio coragem e me aproximo da cortina.
Puxo-a e, num só golpe, olho a mais bela donzela que eu já vira na minha miserável vida.
Confesso estar nervoso e com medo.
Mas eu não sou o único.
Trato logo de me apresentar e explicar por quê estava ali; peço-a desculpas pela invasão.
Noto que, depois de me apresentar,
A linda donzela ficara um pouco menos assustada,
Apesar de não ouvir nenhuma palavra de sua boca.
Verifiquei através de seus olhos úmidos, um tipo de pessoa muito solitária e culta.
Uma personalidade doce e frágil.
Na medida em que o tempo se passou, a situação constrangedora foi se amenizando
E os espíritos de ambos se acalmando.
Pudemos então, conversar.
E então ela me ofereceu uma taça de licor, que eu já havia percebido antes.
Enquanto tomava cuidadosamente a primeira dose, a linda jovem de beleza barroca se dirigiu ao cravo, que estava localizado mais ao centro daquela aconchegante sala.
Ela se sentou junto a este e começou a dedilhar as teclas carinhosamente.
Parecia que o cravo retribuía o carinho através do afinado som que saía de suas entranhas,
Resultando em uma síntese musical.
Fiquei ali, por mais um bom tempo.
Sei disso porque marquei o tempo pelo consumo da vela.
Sei que a donzela tocou uma infindável quantidade de composições suas e de seu preferido Mestre, Bach.
Uma das composições de seu mestre fôra: Overture No. 1 in C major passepied.
Era belíssimo!
Por um instante, ela parou de tocar, e apanhou sua taça.
Sedentamente ela tomou, em um só gole, o licor.
Ficamos por lá um bom quarto de tempo.
Tempo que se esvaíra na mesma proporção em que a vela se esgotava.
Pude então perceber que era hora de ir embora.
Levantei-me vagarosamente, devido ao efeito das várias taças de licor, e fui até a ela para me despedir.
É nesse instante que ela cessa de tocar e se levanta para se despedir de mim.
Nos despedimos ali mesmo, perto do cravo.
Disse a ela que não era preciso me levar até à porta.
Então peguei sua mão e beijei-a suavemente
Senti que o rosto dela havia se enrubescido.
Deixei-a suavemente no centro da sala.
E fiz o mesmo trajeto de antes.
Desci os onze degraus, abri a porta da rua e tornei-a fechá-la.
Dali, fui até onde me encontrava no princípio, e pude observar de novo o casarão.
Notei que luz na janela ficara mais preguiçosa
E enfim, a luz se esvaiu e senti dessa vez o cheiro de vela mais forte.


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