Livres
livrem-nos
poemas pássaros,
dos destinos mornos,
das existências pré-fabricadas...
Livrem-nos
poemas pássaros,
do enorme acervo
de inutilidades
de que somos prisioneiros.
Livrem-nos
poemas pássaros,
dos andrajos
dos nossos hábitos.
Livrem-nos
poemas pássaros,
da lógica vazia,
da causalidade teratológica,
das suas inevitáveis conclusões...
Livrem-nos
poemas pássaros,
de tudo que nos torna
bem ajustados
e efêmeros
bonecos de ventríloquo.
Livrem-nos
poemas pássaros,
da mais-valia,
dos sempre estúpidos
planos econômicos.
Livrem-nos
poemas pássaros,
da pseudo moralidade,
dos "chips" de consciência barata,
em nós implantados,
fontes de impulsos programados.
Livrem-nos
poemas pássaros,
de tantos fatos publicados
e das opiniões dos especialistas,
das intermináveis listas,
das incontáveis obrigações...
Do simples medo
de receber
eventual visita,
do imponderável...
Do pavor de não chegar a tempo,
dos sacrossantos horários.
Livrem-nos
poemas pássaros
do temor infundado
de desejar um bom dia
a quem está ao lado,
de saudar o sol,
de caminhar sorrindo,
de errar,
errar, errar e errar...
De beber a grandes goles
apenas o presente,
proscrevendo os queixumes,
o depois,
e o mais tarde...
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