Passou na TV os `brasis´ que vivemos em nosso dia-a-dia.

Uma, duas vezes... Hamilton dos Santos parou o trator e preferiu a prisão à cumprir uma `ordem´ a seu juízo, desumana e contrária aos seus princípios de Justiça e Solidariedade.

Sei lá ao certo se foi isso mesmo que todos viram.

As situações sociais de cada um, assim como, a formação dos valores herdados em casa ou adquiridos na luta pela sobrevivência na sociedade nos `moldam´ olhares à várias interpretações.

Curiosa simetria que vejo repetir-se, pela segunda vez, aos meus olhos pela televisão. Uma vez, 5 de junho de 1989, um chinês, dentro de um tanque de guerra resistiu e não investiu seu tanque sobre um homem à sua frente. Hamilton repetiu o gesto. Não frente a um outro semelhante mas, ante a construção que representava um esforço de toda uma vida. Uma casa. Um lar. Uma morada de um outro semelhante seu.

Solidário na Vida. Juiz de seus atos, Hamilton dos Santos preferiu arriscar sua Liberdade do que ultrapassar os limites de sua dignidade. Se deixar humilhar humilhando seu igual. Em sua casa, para o entrevistador, se justificou: "- Como iria olhar para meus filhos se tivesse feito aquilo."

Talvez hoje, alguém faça em seu lugar o trabalho que para ele se configurou numa indignidade, e ninguém se interponha, nesta segunda hora, à humilhação imposta a todos nós brasileiros que lutamos por uma construção de nossas casas e de nosso país.

Assistiremos nos jornais da TV a destruição de uma casa... Sem guerra, sem terremoto, sem deslizamento, sem compaixão alguma por humilhar assim tão, publicamente, uma família inteira diante de todos nós, calados.

Sabe muito pouco de Brasil e de Justiça quem disser que se cumpre a Lei...

Muito pelo contrário. Este episódio foi uma bela e cabal demonstração da arbitrariedade contra um cidadão desassistido e sem o Hamilton para defendê-lo, de público, mais uma vez.

Hamilton dos Santos vai para a galeria do Heróis Conhecidos.

Hamilton! Seu gesto pode não ter conseguido impedir a derrubada daquela casa mas, ajudou a resgatar um pouco nossa `alma brasileira´.

Assim como temos os perversos e os `politicamente incorretos´ temos também, dignidade ainda, na simplicidade de nossos atos.