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Cronicas-->Todo mundo tem algo que finge não ver -- 03/05/2003 - 03:01 (Mariana Antonelli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"O resto é mar / é tudo que eu não sei contar" (Tom Jobim)

Gosto de me contar. Apesar de preferir não tocar em certos pontos. Finjo que não existem e assim vou vivendo: não olhando fixamente para certas coisas, pois são feias.
Meus vícios.
Eles são feios. Não todos, mas muitos. Sou fissurada em chocolate, cigarro, estimulantes, pessoas e palavras. Destes só dois se salvam. Só dois me excitam a escrever sobre. Os dois últimos, lógico.
O chocolate: me engorda só de pensar. Aumenta profundamente cada centímetro da fita métrica, alterando meu corpo e meu humor completamente instável. Mas eu gosto. E finjo não gostar.
O cigarro: venho tentado abandoná-lo há anos. Mas ele me persegue. Principalmente quando a noite me convida a sair de casa - minha proteção contra as malícias e magias eufóricas do céu azul marinho. E então quando penso na pintura preta estampada em meu pulmão, engulo seco, olhos para os lados e prossigo. Porque eu gosto da sensação da fumaça escorrendo por dentro da garganta. Porque gosto de ver aminha boca maldita expelindo desenhos icógnitos pelo ar. Mas finjo não vê-la - a píntura preta que cresce em mim.
Os estimulantes: são droguinhas legais. Muito legais e que animam a gente quando tudo parece que vai mal. Me trazem problemas. Mas eu não consigo parar de enfia-los pela goela de vez em quando. Porque a sensação é gostosa. E aperto o botão que me faz fingir que isso não faz mal. Mas não tem jeito. Cedo, tarde, em qualquer momento o botão da depressão é acionado. E não pede "Posso?". Me invade. E me corrói.
E disto tudo aí em cima eu prefiro fingir que não vejo, pois sei que ainda há vícios saudáveis, onde ser escrava não faz mal. Onde a alma se renova e levanta revigorada e brilhosa. É por isso que mudo de assunto. Como quem pula uma poça e continua seu caminho saltitante. Porque é muito mais agradável escrever e falar sobre amor, paixão, natureza, pessoas e, até mesmo, sobre dor de amor e saudade. É mais fácil falar de olhares afogados num imenso anil ondulante de tanto amor que transborda. É mais fácil falar sobre pêlos ouriçados quando a nuca nota a boca próxima. Porque é mais fácil escrever sobre abraços longos dados por braços compridos e eternos em sua vontade de continuar colado ao outro corpo. Ou, quem sabe, sobre o sol abrindo sua boca amarela e espreguiçando raios que rasgam todo o céu azul.
E se isso é fuga, que seja. Já me basta saber e sentir o que eu finjo não ver. São pobres coitados que vivem em mim. É poeira debaixo do meu tapete. E, por isso, é mais fácil, quem sabe, ter uma borracha por perto para apagar os erros, o borrão, as manchas que ficaram nas palavras.

(Mariana Antonelli - 29/04/2003)
*DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS*

fale com a autora: marirj@ajato.com.br
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