O que vou exprimir
para vos proporcionar
três minutos de heterogéneo prazer
jamais me sairá em ponto ideal
se todos Vós não me ajudarem
com o Vosso prezado silêncio
por forma a que eu possa sentir
como é que a minha voz
será recebida pela Vossa alma:
CORDEL e FADO
Em quadras, mal nasceu,
foi o cordel de outrora,
suado em dor, plebeu,
marginal ao rés-da-hora,
do chão subindo pra fora
pela revolta incisiva
dos que a penar à deriva,
por ironia , a sorte
só saía a par da morte
pr alívio da morte-viva.
Pura seiva, criativa,
brotada em sangue a ferver
sob a mão negra e altiva
que era branca a desfazer
a fé de sobreviver
no sonho preso a um fio,
pendente do desafio
que descrevia a desgraça
aos olhos de quem na praça
achava graça ao desfio.
Roto, pelado de frio,
com fome esp rava o poeta
que um panfleto em brio
cativasse algum pateta
que à sua noiva dilecta
prendasse com poesia
as paixões do dia a dia
em troca de cinco reis,
moeda, ó se sabeis,
que pouco ou nada valia.
- Quadras? Pó e mania !...
Crepita o vate encimado
que delambe a fidalguia
e troca as vogais ao Fado,
conde ou rei embuçado,
vadio fiel sem dono,
sol-nado pró abandono
que serve hoje de Cordel
aos que matam a granel
fome, sede, sexo e sono!
António Torre da Guia
Porto - Portugal
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