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cronicas-->Análise poética da obra de J. Vald ecy Nabude-mscx -- 03/05/2003 - 01:01 (m.s.cardoso xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Análise Poética da obra do poeta José Valdecy Nabude:
Por: maria do socorro cardoso xavier

Difícil falar de um artista - seu mundo surrealista, às vezes impenetrável, que só ele soube saborear cada momento da criação.
A palavra utilizada no texto diáfano ou oculto, faz parte de uma psicologia da composição através de uma estratégia que detecte o lado oculto do poema, o anverso. A mensagem se extrai embora imperfeita ou não sentida pela emoção, mas captada pelos paràmetros de análise literária.
Não sendo expert em teoria nem crítica literária, e é realmente difícil a análise poética, direi algo acerca da obra poética de Valdecy, com alta dosagem de bom senso e emoção do que razão puramente delineada pela ciência ou arte de interpretar.
Comecemos a aventura, naveguemos no poeta Valdecy: seu trabalho poético é de alto significado. Conteúdo e forma. Transmite em versos profundos, problemas humanos os mais diversificados, o universo do interior das pessoas, em versos pessoais e impessoais.
O trabalho de Valdecy é como se fosse um tratado de psicologia em verso. Penetra pela sua argúcia de observação, nas emoções das pessoas, no dia a dia, e dali sai um poema. É portanto um poeta que trabalha o comportamento, com a imaginação acima do coração. Preocupa-se em captar dos outros, dos transeuntes, sentimentos, deixando em segundo plano, externar seu próprio estado d´alma.
Suas fontes de inspiração são variadas e ocasionais, sendo não obstante um poeta objetivo, com incursões surrealistas. Esquece-se de si mesmo, guarda no recóndito, suas próprias emoções, e até humoriza e satiriza situações. Encontra talvez nas emoções dos outros, um pouco das suas próprias, que muitas vezes esconde.
Há uma certa sutileza; há o texto e o anverso do texto. Quem ler seus trabalhos pode conjecturar que a fonte de inspiração, foi um fato vivido pelo autor, quando na realidade foi vivenciado por outrem, e o autor registrou, de forma profunda, simbólica.
Em "Quimera" o autor fala na 1a. pessoa, um caso vivido por outrem, captado perspicazmente num ritmo sincrónico [daria uma letra de música]. O poema "Desatino" sutilmente ele fala do vício da maconha. Às vezes tem-se a impressão ao ler sua poesia que estamos diante de uma composição musical, pelo ritmo cadenciado.
Apesar de não podermos classificar a poesia de Valdecy de social, há poemas que refletem essa realidade, quais sejam: "Fragmentos", "Vidas brincando com a vida", "Sonho de Liberdade", "Sangue nos Jornais", "Menino" e Fósseis"; esta com fortes elementos histórico- sociais [pré-históricos, drama, tragédia].
O forte mesmo do seu trabalho é o caráter psicológico. A preocupação com as ações e reações humanas, os conflitos dos seres, o incansável prescrutar do comportamento humano.
Outro traço marcante é o sensual. Trabalha muito o corpo, a exemplo de "versos no banheiro" [erótico], "ações de um beijo", "dançando contigo", "mais uma vez", "cúmplice de um pecado", "desejo", "praga de amor", "nós dois", "close", "vigília"[ o drama noturno, sob o simbolismo do sexo]. "Caso de amor", que disfarça não um caso de amor normal mas de um sexo desviado dos padrões normais. Termina denotando o tédio, a falta de amor entre as pessoas. Vejamos esses versos: "comemos e bebemos,/ saciamos a dor,/ quando a festa acaba,/ eu fiz por acaso,/ por falta de amor".
Apesar do autor não entregar seus sentimentos com facilidade, resistindo em derramar suas emoções íntimas e pessoais, percebe-se a partir de determinados poemas e versos que Valdecy coloca o amor em alto grau na vida.Prova disto é o poema "Menino", nos seus últimos versos, de alto teor ético-filosófico: "vive o teu tempo menino/solta essa força que vem/ aprendi que o amor/é a semente do bem".Em "Sonhos Espatifados" é o amor-sonho, que tendo sido importante, inebriou mas se espatifou. Este vocábulo dar um sentido de muita intensidade realista.
Há outros bonitos poemas de amor: "Meu Querer", "Você" e "Luana"- este parece ser um amor idealizado pelo autor, no qual revela seu lado romàntico, extremamente lírico. Em "Lembrete", que é um poema diálogo do dia a dia, utiliza uma linguagem prática do cotidiano,aparecem vocábulos da linguagem popular: cara, bobagem etc.
O poema "Pode Ser" marca a vida amorosa do autor, com forte cor emotiva, desta feita, inspirada em seu próprio sentir- uma paixão sem fim que enclausurara dentro do coração. É o amor desencanto que alimenta a própria solidão, tornando-se mito.
No poema "fantoche" faz uma alegoria fantástica, é o tipo de poema, que muitos tendem a se identificar com ele. Estes versos são bonitos: "me soltei em tua ilha e me perdi em teus braços, és um pássaro lindo de canto violado´.Aí se encontram a aparência e a essência do ser.
Até do trágico, do real caso de amor ou aventura amorosa, que termina em morte inexplicável, o autor extrai material vivo para sua poesia. É o que acontece com "Página de Lamento". Em "Tua Carapuça" faz uma crítica ao empresário bem sucedido que termina ficando avarento. Rochedos aparece no autor, uma forte inspiração na natureza; o que não é comum,a natureza não é seu forte.
Os sentimentos de fraternidade, amizade, o telurismo aparecem no "Perigoso Ser", em "laço fraternal"- neste, se inspira na família: os pais, a irmã adolescente. Monteiro, sua terra natal é objeto de um poema com a mesma toponímea. "Amiga" que fecha a última página do livro, também é um bonito poema. "Retrato" em homenagem ao seu pai é um misto de solidariedade filial e desencanto, com os espinhos da vida. Estes versos são emocionantes e realistas:
"pobre triste velho desnorteado/sem cão para morder quem ladra/corpo trêmulo, alma cansada/senta-se meu pai cabisbaixo/de som cerrado numa mesa posta/ sem convidados/meu pai lava o prato com as lágrimas/e enxuga-o com o vento das palavras."
O transcendentalismo no autor está anunciado no poema "força maior", quando ele diz acreditar numa força superior que existe: "como uma mão que afaga e pede que sigamos com um grito que acaba a guerra, como o canto de um pássaro livre que ama e sofre, eu creio em ti".
Apesar de não gostar da solidão, há alguns poemas seus impregnados do vazio existencial, sutilmente simbólico: "houve um verão", "horizonte perdido" e "rumo alado"- este amor inacessível e esperado. Também "espalhafato", ao qual já nos referimos, é marcado pela solidão e carência de afeto a dois.
Entendedor dos comportamentos, o perquirir das ações e dramas humanos, trás latente dentro de si, o romancista- imprime em seus trabalhos a marca psicológica. "Cala" e "Perigoso Ser"- este que serve de título ao livro, ambos são de natureza filosófica. Tem sentidos diversos, se esconde nas profundezas deste título, a complexidade de todo ser humano. Conflitos, frieza, sarcasmo, ironia, medos. Também "paralelo"; "versos de ser para o ter", impregnado de escárnio realista, o materialismo do amor. Há uma forte influência do poeta Augusto dos Anjos.
O tema sexo é seu forte; às vezes oculto, às vezes tácito. Por exemplo em "faz de conta", "me escondo das paredes do que faço". Em "versos do banheiro", está o sexo incontrolável, estranho no impulso do homem quase animal.Fala de maneira voraz, sedenta e raivosa; no fundo transmite a falta de amor . O campo semàntico utilizado: nojento, porra, berro, carne, rasgando, dão uma tessitura cruamente realista ao poema, a condição meio animal, meio homem.É um pornó-poema; o erotismo grassa. Também o realismo sensual animal de "Noite de Cão e Gato no Cio".O animal, o brutal, o lado fera do homem, os bichos, os fantasmas. Encontramos também a fantasia-reminiscência infantil e fantasias eróticas em "espalhafato"
Apesar do romantismo sentimental não ser seu forte ou procurar escondê-lo, há alguns poemas líricos bonitos. "pode ser", "pessoalmente" e "como é lindo o entardecer". O soneto "beijo fresco" é de grande beleza lírica, ideal, salpicado de realismo náusico. É como se o poeta fizesse tentativas, passeios líricos, mas a realidade o acorda, contrariando seus sonhos altos."Como é lindo o entardecer" e "pessoalmente" fogem ao gênero predominante do autor."Pessoalmente" é de uma leveza e comunicação fácil, esplêndido poema modernista, intimista, confessional.
Enfim, classificaria, se é que devo ou posso, quanto ao conteúdo- a poesia de Valcecy, de predominància psico-erótica existencialista; e quanto à forma, modernista- quer rimada ou não, ela soa como livre, solta. Tem grande originalidade de criação. Múltiplos potenciais para a arte de escrever.
Apreende a realidade com muita sutileza, expressando-a com campos semànticos bem pertinentes. Converte as sensações e pensamentos em linguagem, sempre inovando, construindo seu estilo próprio.
O autor não possui formação linguístico-literária mas sua força é tal, que sem nenhuma dúvida, ultrapassa o lugar comum.Inúmeros versos impessoais, encravado no realismo do mundo, numa contemplação irónica, não brilhante de estrelas, mas de bichos humanos. Transpõe para o plano artístico sua experiência pessoal com o mundo; tem esperança nele, mas desconfia dele.
Foi através de suas reflexões com o mundo que virou poeta. De impressionante versatilidade de tons, projeta a infinita mutabilidade da alma humana, sensual, sofrida, irónica, lírica, acomodada ou revoltada.
Com singular habilidade vai de um tema a outro, equilibrando a qualidade de estilo, que nem sempre se coaduna no mesmo texto [muda de temática no próprio texto]. A palavra sempre assume a onipotência, na ànsia de força de expressão.
O poeta Valdecy não é um novo poeta, é um poeta novo, no sentido de inovação, de criação - reveladores da inquietude da alma humana, em busca dos caminhos da plenitude e perfeição- em forma de símbolos e idéias.


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