Naquela manhã ele acordou Marxista, apesar de nunca ter lido Karl Marx, até porque era analfabeto.
Naquela manhã ele acordou revolucionário, apesar de não saber quem fôra Che Guevara e mal manejar um estilingue.
Naquela manhã ele acordou com o coração partido, após ter ouvido seu filho chorar de fome a noite inteira.
Naquela manhã ele levantou com a força que remove motanhas, apesar de desnutrido.
Entrou na fábrica, picou o cartão, sentou-se sobre a máquina que devia operar e não apertou o botão.
Discursou:
Meus irmãos! Precisamos nos preocuparmos com o dia de amanhã e para que esta preocupação faça efeito no hollerite de hoje, precisamos cruzar os braços, sentar sobres as máquinas e quebrar os capacetes nas cabeças dos patrões!
Naquela manhã ele foi aplaudido pela primeira vez na vida, mas o patrão saiu de seu escritório acompanhado de três robôs japonêses e todos foram demitidos.
Naquela manhã ele quase foi linchado pelos companheiros.
®LUMONÊ
DETALHE: Tentei publicar este texto num jornal de minha cidade em 1987, mas fui excomungado pelo proprietário do mesmo.