Quem me dera poder acordar de manhã e ter alguém para confidenciar os sonhos, os bons e os ruins, e trabalhá-los no conhecimento profundo e sincero de mim mesmo. Quem me dera um dia poder, com minha amada, buscar respostas a esses sonhos nas interpretações de Jung e nas mais profundas sendas espirituais, independentemente das amarras das religiões. Quem me dera poder me alegrar e me encantar com o novo, o transcendente, aquilo que ainda não conheço mas busco, com a companheira que sempre sonhei. Quem me dera poder estar em minha sala trabalhando e a busca que ela e eu empreendermos juntos ser uma alavanca para tornar mágicas e construtivas as atividades que para muitos são metódicas, chatas e rotineiras. Quem me dera poder tomar, quem sabe num futuro distante, um delicioso café com meu único amor logo depois do almoço e ter minhas forças renovadas em instantes únicos e perenes da vida que se apresenta infinita e maravilhosa, como no "What a Wonderful World" de Louis Armstrong. Quem me dera poder conversar com ela sobre Caos e Física Quàntica e, mesmo sendo nós de áreas distintas, sentir a ressonància mórfica dos nossos seres criados para a plena realização espiritual. Quem me dera, um dia ao menos, poder receber os seus e-mails e sentir minhas energias percorrerem meu corpo, produzindo todo tipo de hormónio e neurotransmissor que a fisiologia do ser humano entende como sendo dos mais altos níveis de renovação do organismo. Quem me dera saber que os anjos poderiam, quiçá, usar o poder divino para aproximar duas almas gêmeas para serem testemunhas ao mundo de que o verdadeiro amor existe e, ainda que escondido ao clássico medroso, está ao alcance de quem quer e por ele luta. Quem diria que um belo dia, esses "quem me dera", porque fizemos por merecer, seriam funções de onda colapsadas em nossas realidades? Quem diria que o antigo suspiro pelos mistérios da união de ciência com religião tivesse uma profunda e recóndita sintonia entre um rapaz e uma menina que viviam em lugares distintos, mas que já se conheciam de algum lugar do passado? Quem poderia afirmar se Thiago de Mello, em seu "Estatuto do Homem", não quis dizer que o amor mais profundo e sincero entre dois seres humanos é tão estranho aos olhos do mundo material que tudo que é pensado, falado e realizado mais se parece com o "absurdo" de se caminhar pelas tardes usando uma imensa begónia na lapela?
