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Contos-->O EXECUTIVO -- 30/12/2003 - 13:15 (DANIEL CARRANO ALBUQUERQUE) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Não havia a menor possibilidade de erro para quem citasse Arnaldo como um bom exemplo de homem de sucesso. Perdoem-me. Dr. Arnaldo. Chefe de departamento de uma grande e conceituada empresa de engenharia, atraia para si todos os olhares e atenções que envolvessem não só admiração e respeito, bem como ciume e inveja. Era perfeito. Tecnicamente, um dos melhores de sua área. Um excelente engenheiro. Sua capacidade admnistrativa e o talento político que se exigia para o exercício de um cargo daquela envergadura eram elogiados por todos os altos escalões de dentro e de fora da firma. Era bem relacionado com todos os investidores e tinha carta branca para entendimento direto com a direção da matriz extrangeira. O salário não podia ser melhor e à sua renda acrescia-se um alto percentual relativo a produtividade e a outros ganhos, contabilizáveis ou não, enfim, essas coisas inerentes ao cotidiano dos negócios. Sua aparencia era perfeitamente compatível com o grau de sua função e com o seu “status”. Era alto, forte, cabelos moderadamente grisalhos e vestia-se impecavelmente. Sempre de terno, uma elegância sem par, roupas da melhor qualidade, pano de primeira, sapatos caríssimos. Bastante sério, altivo, contudo não despertava antipatia. Ao contrário. Detia um grande poder carismático. Era dessas pessoas que, quando se aproximava de um grupo, todos se calavam e ficavam a aguardar sua manifestação. Se por acaso se discutia alguma coisa, a ele davam o privilégio da palavra final, ainda que não fosse conhecido entre eles. Só pela aparencia. O tom da voz e a postura firme garantia êxito em qualquer tipo de impasse.O assédio feminino era enorme. Tão grande que procurava constantemente a ajuda de entendidos no assunto para ensina-lo a dele se resguardar. Afinal, incluia também naquele setor, a seriedade que lhe era peculiar, uma vez que era casado. Sua esposa, Dona Maristela, a conhecera num dos coquetéis oferecidos pela empresa. De classe média alta, filha de um dos diretores, típica “coquete”, aceitou rapidamente o pedido de casamento daquele jovem atraente e com futuro promissor, que para aquele fim, desfizera um noivado com uma ex-colega de turma. Concorreu para a agilização daquele acontecimento, o conhecimento de que o estado civil contava muito para a ascenção na firma, coisa que aspirava com certeza. Mas todo aquele invejável progresso não havido caido do céu, certamente. Fora fruto de muito investimento nos estudos e em horas de trabalho. Oriundo de uma família sulista de classe média - o pai também engenheiro - desde menino fôra esforçado e disciplinado. Ingressou no IME como um dos primeiros colocados e se destacara durante o curso, o qual enriquecera com vários estágios e pós-graduações, alguns no exterior. Apesar de muito inteligente, para isso teve que se dedicar com afinco, perdendo muitas horas de divertimento numa idade em que corpo, mente e espírito tem sêde e fome por elas. Praias, bares, namoros, bailes, farras, excursões, etc., tudo perdido. Mas teria compensado o esforço. Será?
Ultimamente, vinha Arnaldo percebendo um certo desconforto que, lentamente, tomava um certo corpo. Uma certa sensação de insatisfação. Algo que tornava-o um pouco mal humorado e entristecido. Responsabilizou o cansaço. De fato, para manter-se naquela posição, tinha que fazer acrobacias. A parte técnica, ele a tirava de letra. O difícil eram os contatos. Ter que lidar com superiores, moldar uma política que permitisse conciliar boa dinâmica de trabalho com os superegos daqueles, os quais muitas vêzes conflitantes, era algo que exigia dele uma verdadeira ginástica. Era um mar de vaidades, mágoas, revanches e ressentimentos. Uma disputa acirrada por poder, num jogo em que o dinheiro, e muito dinheiro, era u’a meta comum. Precisava de um laborioso e harmonioso jogo de cintura para não se deixar envolver em tramas irreveláveis. Tinha que dosar com extrema sensibilidade o que não podia ser divulgado e o que tinha que ser confidenciado. Pode ser que estivesse sendo afetado por um “stress”, fruto do acúmulo de tantos anos de trabalho naquelas condições.
Notara aquele mal estar com maior clareza, num final de expediente em que a turba de funcionários agitava-se mais do que nos outros dias. Havia pressa para irem embora porque haveria um disputado e bastante divulgado jogo de futebol. Todo aquele burburinho, aquela algazarra, aquele alvoroço, enfim, toda aquela alegria provocou-lhe um pouco de inveja. Seria um dos últimos a sair, pois havia um relatório inadiável a ser expedido. Ficaria alí, com uns poucos a assessora-lo, até mais tarde. E a gratificação de chegar em casa também não era lá essas coisas. As preocupações relativas ao trabalho acompanhavam-no. Maristela era u’a mulher distante. Não haviam conflitos. Mas, por outro lado não haviam interesses mais comuns que não fossem aqueles ligados a despesas. Os filhos, um casalzinho de recém-adolescentes que viviam cada um em seu mundinho exclusivo, mal o cumprimentavam, a não ser na hora de pedir, ou melhor, exigir a “grana”. Embora Arnaldo, como já dizíamos acima, ganhasse muito bem, havia sempre um “déficit” em suas contas. É que as despesas acompanhavam em quantidade o valor de seu capital. O padrão de vida da família era altíssimo. Maristela era excessivamente vaidosa e pertencia a um círculo de amizades da alta roda. Os meninos, parecia que passavam os dias elaborando as mais variadas formas de gastar dinheiro. Não diríamos que Arnaldo não juntasse. Era um bom financista e tinha um bom capital guardado e aplicado. Mas a lista de coisas a que era destinado todo aquele dinheiro que vinha sendo acumulado e reproduzido era tão grande que o que sobrava para ter um lugarzinho num cantinho de seu bolso era literalmente nada. Carros novos, motos novas e de modelos de última geração, viagens, festas, programas os mais sofisticados, jantares para o “society”, presentes caros, etc.. engoliam tudo com uma voracidade cada vez maior. Arnaldo sabia que era difícil fazer um contrôle de gastos numa família burguesa que crescera alimentada com um metabolismo avariado pela moderna sociedade de consumo.
E havia algo mais que o intrigava quando ia para casa. Um vizinho. Ocupando uma das esquinas da rua em que morava, no Alto da Boa Vista, uma casinha humilde destoava das mansões que lá haviam. A família de tres pessoas que nela residia, chefiada por um rapaz de uns 40 anos, um mulato corpulento e extrovertido, era a mais completa expressão da alegria. À noite ficavam sempre na calçada, sentados e bebendo cerveja em torno de u’a mesa de aço, daquelas usadas pelos botequins. A farra diária atraia amigos que dela participavam até bem tarde. O asssunto mais debatido era sobre os últimos lances do futebol. Em dias de jogo, então, o foguetório era dali que se originava. O filho, um simpático menino de uns 10 anos brincava em volta com amiguinhos. De um rádio emitia-se sons alegres e algumas vezes o sossego da vizinhança era afetado por um grupo de pagodeiros convidados. De tudo aquilo, o que mais assombrava Arnaldo eram as gargalhadas de Osvaldão. Eram constantes, persistentes, o som mais frequente e audível num raio de quase 200 metros, pelos moradores do bairro. A mulher compartilhava fielmente de toda aquela felicidade. Nos fins de semana, saiam com o seu carrinho velho, mas bem cuidado e que permanecia todo o resto guardadinho na garagem. O contentamento do menino era bem evidente naquela hora. Por falar em contentamento, impressionava Arnaldo a relatividade com que variavam os motivos para alegria entre as pessoas. Presenciara, certa vez, da varanda de sua casa, a explosão de felicidade que o garoto demonstrou ao receber de presente uma pequena e simples bicicleta. Comparou-a com os seus. Nada os satisfazia. Havia sempre a necessidade de ter mais do que já tinham e o céu era o limite. Havia sempre um amigo que tinha um modelo de carro, por exemplo, mais moderno e mais caro que o deles. Não os culpava, pois sabia que apenas exprimiam a forma com que foram moldadas as suas mentes pelo sistema capitalista, frenético pregador do consumo. Procurou, por curiosidade calcular quais seriam os gastos para manutenção de um padrão de vida daqueles. Osvaldão vestia-se sempre com a mesma bermuda e a mesma camiseta sem mangas. Calçava apenas sandálias de dedo. Exceto nos fins de semana, nos quais trocava de bermuda, vestia uma camisa e calçava alparcatas. O filho e a esposa tinham as mesmas preferências. O menino freqüentava a escola pública. O veículo de uso somente nos fins de semana não demandava muito custo com combustível e manutenção. A família vivia da venda de salgadinhos preparados por Delourdes – a esposa – e transportados pelo marido no porta-embrulhos de uma bicicleta, com a qual percorria os bares, parques e casas das redondezas. O expediente do casal terminava a 1:00 hora da tarde. O resto do dia era ocupado pelos papos e bebericagens a que nos referimos acima. Sempre que passava por eles, Arnaldo recebia uma gentil saudação de Osvaldão que elevava o copo de cerveja, num convite, que, julgavam ambos, certamente jamais seria aceito.
Era esse o clima, quando ele resolveu fazer uma visita ao seu médico, com fins, inclusive, de atualizar o seu “check-up”. O Dr. Armando de Campos Menezes da Fonseca atendia num luxuoso consultório na Lagoa. A clientela, de altíssimo nível social, fazia-se notar pelo vestuário e pela elegância. A secretária, com aquele ar robotizado de praxe, conduziu-o a uma sala ao lado, onde foi sumetido a um eletrocardiograma, por uma vistosa enfermeira com ares de atriz “holiwoodiana”. Chegada a sua vez, foi convidado a entrar na sala do Dr. Armando. Aquele homem sisudo, magro e baixo, cerca de 45 anos de idade e com modos tão estudados como se tivesse sido o primeiro aluno num curso da Socila, acessou no computador, o nome do cliente e fez uma leitura rápida de seu prontuário. A seguir, passou a uma entrevista igualmente rápida, acompanhada de um exame físico que consumiu o mesmo tempo daqueles. Apertou uma campainha, fazendo entrar a loura cinematográfica com o registro do eletrocardiograma na mão. Colocou-o num acessório do computador, que projetou-o sobre a tela e devolveu-o com todas as informações acerca do coração de Arnaldo. Fez um comentário animador, procedeu a algumas digitações e, após, recolheu da impressora um certo número de requisições de exames que incluiam ecocardiograma, tomografia computadorizada do tórax, mapeamentos coloridos de várias regióes do corpo, numerosas análises sanguíneas, além de diversos encaminhamentos para outras especialidades, seguindo-se, enfim uma receita com cerca de quatro a cinco medicamentos e algumas orientações. Tudo escrito ali. Um cumprimento seco e formal e Arnaldo estava já na sala de espera assinando o cheque de R$450,00, que passara às mãos da cibernética secretária. Enquanto aquela preenchia o recibo, apreciou, nas paredes do recinto, o grande número de certificados e diplomas emoldurados, e, não sabendo bem por que, fixando-se naqueles selos arredondados e franjados dos quais se penduravam as duas fitas coloridas, lembrou-se do tempo em que, criança, acompanhava seu pai nas visistas a exposições agropecuárias e surpreendeu-se maldosamente, a maquinar uma associação entre o seu distinto doutor e as premiadas vacas leiteiras de sua infancia. Aquilo o fez sorrir. E percebeu que não sorria há muito. No caminho para casa – resolvera não retornar ao trabalho naquele dia – iniciou uma série de reflexões sobre o que tinha sido a sua vida até então. Sabia da rapidez com que voa o tempo e que em poucos anos já não seria tão jóvem. Já perdera a sua juventude e chegava a hora de se fazer mudanças para não ver perdidos também os derradeiros anos ainda com saúde e jovialidade.
Ao aproximar-se de sua residência, percebeu que um Tempra arrancava da calçada defronte ao seu portão. Reconheceu-o. Era de Cláudio, filho de Teresa, uma amiga de Maristela. Sua esposa sentada ao lado. Há muito tempo, vinha Arnaldo notando que o rapaz estava permanentemente presente nas reuniões dos amigos da mulher. E mais, sempre ao lado dela. Haviam cochichos, risadinhas e outras posturas que inquietavam o nosso amigo, mas ele sempre adiava uma observação mais atenta e uma conversa com Maristela sobre o assunto era deixada para depois. Coitado. Não sobrava tempo nem para ter ciúmes. Para onde estariam indo naquela hora, num momento em que ela pensava estar o marido no auge de suas funções na empresa? Teresa estava em viagem no exterior e portanto ficava descartada uma simples carona à casa daquela. O rapaz, nos seus 23 anos, era alto, forte, bronzeado e meio infantilizado, sendo também bastante alegre e descontraido. Acompanhavam-o todo o tempo, os olhares de moças e de mulheres de todas as idades. Arnaldo acabava de ser acometido, não de uma forte suspeita, mas de uma certeza que causou-lhe um doloroso e amargo aperto dentro do peito. Não prosseguiu. Ficou um tempo com o carro parado e depois de estaciona-lo no mesmo lugar, desceu e caminhou rua abaixo. O que fazer? De repente, viu-se na calçada de Osvaldão. Aquele cumprimentou-o um pouco desajeitadamente e fez o convite para “chegar”. Ele precisava daquilo. Aceitou. O rapaz puxou uma cadeira e ofereceu-a, mas não sem antes nela esfregar demoradamente um pano, fazendo-o também com a mesa. Estavam todos em silêncio, mirando aquela extranha criatura a qual acostumaram-se a ver só de longe. Osvaldão gritou para Delourdes que trouxesse a cerveja mais gelada que havia e os bolinhos de bacalhau saidos naquele instante. Acercou-se de Arnaldo e tentou entabular um diálogo sobre amenidades. Aquele, um pouco sem jeito, o olhar deixando transparecer uma indisfarçável consternação, não conseguia dizer muita coisa. Agarrou o copo de cerveja e começou a beber. Os copos foram se renovando. Os bolinhos ajudavam. O homem foi se sentindo mais leve. De vez em quando lançava um olhar para a sua casa, na esperança de que o carro voltasse. As horas, entretanto, iam passando, a cerveja adentrando, mais pessoas chegando, a tarde escurecendo e ele resolveu dar definitivamente as costas àquele portão. O álcool foi fazendo o seu papel e Arnaldo já conversava fluentemente. Veio uma enorme sensação de bem estar, há anos não vivenciada. O decoro, porém, falava mais alto, o que o impediu de aceitar o convite de Jane para ensaiar uns passos de samba. Era uma torneada moreninha de uns 20 anos de idade, uma simpatia sem par e uma disposição para dançar como ninguém. Os cabelos compridos, ondulados e negros, o corpinho pequenino e ágil, sacudindo-se dentro do minguado vestidinho faziam o quarentão experimentar um suave sabor de mato e uma selvagem doçura. Chegando a hora de ir, levantou-se meio trôpego e com uma vertigem que de longa data já não o acometia, afastou-se em direção ao gélido lar e ao voltear-se para saudar os que ficavam viu que todos o fitavam com simpatia e admiração. A recepção em casa, como já esperava, foi a pior possível. Maristela esgoelava-se, deitando recriminações onde o vexame e a vergonha eram a tônica. “Vergonha. Olha quem fala.!”, pensava Arnaldo e sem dar-lhe a menor das atenções, caiu no sofá e dormiu a noite toda. No dia seguinte, levantou-se no horário e da maneira habitual. Após uma demorada ducha, barbeou-se, vestiu-se como de costume, fez o lanche matinal e saiu para trabalhar. Maristela acompanhou-o calada, por todos os cômodos, braços cruzados e fisionomia enrijecida e tensa, esperando explicações sobre aquele comportamento repentino e tão absurdo. Mas têve que assistir o carro dele afastar-se rua abaixo, sem ser agraciada com nenhuma resposta. O caminho para o trabalho foi preenchido por uma agradável e ao mesmo tempo sinistra sensação de leveza nunca antes experimentada. E um pensamento. Um plano rigidamente determinado. Chegando ao escritório, investiu-se de sua laboriosidade rotineira, procurando de modo ágil, compensar o pouco tempo em que estivera ausente. Não se via nele, o menor sinal do que acontecera no dia anterior e somente os mais sensíveis e observadores podiam perceber uma pequena diferença que começava a despontar no temperamento daquele homem. A esposa cansou de ligar, mas havia recomendações expressas de que não lhe passassem a chamada. No final do dia, teve uma longa conversa com um dos diretores e participou-lhe que gostaria de afastar-se por uns 20 dias, com fins de cumprir com recomendações médicas. Mentiu. Depois de receber o aval da direção e preparar o seu interino, dirigiu-se para casa arquitetando mentalmente a difícil conversa que teria com a esposa. Pela primeira vez o rotineiro “rush” não lhe parecia tão maçante. Não tinha pressa. Naquela tarde, não se fixavam seus olhos, de maneira tensa como de costume, no para-choques do veículo da frente. Olhava em torno e prestava atenção nas pessoas que ocupavam os outros veículos. Compreendia que estava se livrando, lentamente, dos incômodos antolhos que lhe foram instalados desde muito cedo em sua vida. Finalmente, em casa, procurou Maristela e sem mencionar suas suspeitas em relação ao “affair”, iniciou um delicado discurso no qual realçava a sua enorme disposição de alterar seus caminhos através de um acerto em algo importante para ambos que era a vida em comum, numa fase em que, de certa forma ainda jovens, lhes era propício. A resposta da mulher, em tom de surpresa e ira, era toda fundamentada com aspectos econômicas que priorizavam a pensão e a partilha. Arnaldo tranqüilizou-a, dizendo que aquele era o lado mais simples da questão. Depois haveria o diálogo com os filhos. Passou todo o dia seguinte preparando papéis, separando coisas e contatando o seu advogado. À noite, foi dormir em um “apart-hotel” da Sernambetida, mas antes disso passara no Osvaldão.
Aquela foi a noite mais alegre que Arnaldo já tivera em toda a sua vida. Bebeu muita cerveja, conversou muito. Foi rodeado pelos novos amigos que se divertiam com histórias que não estavam habituados a ouvir. Mas especialmente, aceitou o convite de Jane para dançar. Um samba romântico se escutava da caixa de som e o corpinho leve e ágil da menina, repousado suavemente em seus braços, balançava cadenciadamente dentro do vestidinho miudo, o frescor da pele endiabrando seus sentidos, os cabelos brilhantes exalando um perfume que o fizera viajar imerso em verdes folhas tropicais misturadas às mais coloridas, selvagens e afrodizíacas floragens. Jane, sensitiva como todas as mulheres, já houvera notado o que faltava no ansioso Arnaldo e dotada do ardil especial das concubinas, mirava profundamente em seus olhos, penetrando-os com uma sincera e ardente mensagem de amor. E a noite terminava ali, com o novo apaixonado pela vida despedindo-se galantemente de sua parceira, com um suave e doce beijo a revelar com ternura a gratidão de um recém-enamorado. Dois dias depois, no Aeroporto Antonio Carlos Jobim, sentado numa confortável poltrona da aeronave, Arnaldo deliciava relaxantes momentos a caminho da costa baiana, permitindo-se aconchegada ao seu lado, meio tímida, meio exultante, a deliciosa moreninha. E decolava então Arnaldo para o resgate da maravilhosa vida que perdera.
Maio de 2000 Daniel Carrano Albuquerque
E-mail: notdam@bol.com.br










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