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Cronicas-->MANDOU O BILHETE E FOI DORMIR -- 26/04/2003 - 01:54 (JAQUELINE ALENCASTRO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Sentei-me aqui e comecei a escrever esta crónica sobre os peitinhos. Peitinhos de mocinhas. Inocentes peitinhos. Estes que elas levam para a rua debaixo de uma camiseta e sem a devida proteção de um sutiã ou, como dizem em Portugal, guarda-seios.
No exato momento que ela se vestiu daquela maneira sabia tudo. Sabia que iam olhar, sabia que com uma pequena variação atmosférica, poderiam ficar um pouco mais rijos e em destaque. Sabia que os homens iriam olhar com variados tipos de observações intimas. Sabia o que as mulheres mais velhas iriam pensar. Sabia o que o namorado, caso tivesse, iria pensar. Mesmo assim - e talvez por isso - levou os dois seios para o passeio público.
Pois eu estava aqui escrevendo a crónica sobre a menina. Pensando com os meus botões o que teria ela na cabeça, pois no tronco eu sabia. E via. Até sentia. E a menina são varias por aqui onde moro e escrevo. E os seios, em dobro.
Eis que "de repente, não mais que de repente", como diria Vinícius, o barulhinho da chegada de um e-mail. Eu não deveria ir lá olhar, tinha que ficar aqui concentrado na minha menina e seu par de seios maravilhosos. Mas fui. Era mais de meia-noite. E recebo, eletronicamente, um lacónico e bem escrito bilhete de um velho amigo dizendo que estava querendo se matar, mas só tinha uma misera faca de cozinha em casa. E não era brincadeira. O cara estava falando sério. Ligo para a casa dele, quem atende é a secretária eletrónica, com a sua voz rouca. Pensei: foi com a velha faca de cozinha mesmo. Mando um e-mail. Ele não abre. Observo que ele mandou o seu bilhete-suicida para "undisclosed-recipient", ou seja, para varias pessoas. O aviso era geral. O caso era mais grave do que eu pensava e dos peitinhos que eu analisava.
Eu em Florianópolis, ele no Rio de Janeiro ameaçando que não queria "nem choro nem vela e muito menos uma fita amarela". Esqueço a menina e seus dois seios sem faca, ligo para um amigo comum, o Fernando Morais que, por sua vez, estava no Guarujá. Uma da manhã, conto. O Fernando abre seu computador. Tava lá a mesma mensagem. Diz que vai acionar alguém no Rio de Janeiro.
Acordo a minha editora no Rio que, assustada, vai ligar para outro amigo comum. Alguém tem que ir até a casa dele. Da meia-noite até umas 3 da manhã, os e-mails começaram a rodar pelos ares, os telefones a tocar. Foi o Eric quem conseguiu falar com o filho dele. O suicida estava dormindo. Mas está dormindo mesmo? Alguém cutucou? Estava. Mandou o bilhete e foi dormir. Xingamos o cara. Isso não se faz com os amigos. Queria se matar, escreveu o texto, passou o pepino pra gente e foi dormir. Resolvi ir dormir também. Mas me lembrei da menina dos peitos livres e da crónica. Voltei para o Word.
Mas voltei agora com dois problemas. O que faz a menina não usar o sutiã e o que faz um amigo que avisa que vai se matar e não se mata? Conclusão óbvia. Os dois querem chamar a atenção, os dois estão pedindo que olhemos para eles. Os dois estão procurando amigos. Tanto ela, como ele, querem ajuda.
Os dois merecem uma crónica. Os dois não me deixaram dormir mais. Amigo é pra essas coisas.
Meu amigo acaba de me ligar pedindo desculpas pela aporrinhacão. Mandei ele para aquele lugar. Quanto a menina, ainda não telefonou. Nem um e-mail me enviou. Quem sabe, mais tarde, ne? Quando estiver mais frio e a vida aflorar com mais firmeza na cabeça, no tronco e nos membros das minhas jovens amigas e meus velhos companheiros.
E, para se suicidar, meu amigo, tem que ter muito peito!!!



PS: Mario Prata - Em crónica escrita ao jornal O Estado de São Paulo, em 23 de abril de 2003.




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