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Textos_Religiosos-->Polônia e Cuba: colaboração eclesiástica com o comunismo -- 02/02/2007 - 16:43 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Polônia e Cuba: colaboração eclesiástica com o comunismo

por Armando F. Valladares (*) em 01 de fevereiro de 2007

Resumo: Poucos fatos da história eclesiástica contemporânea nos países comunistas poderiam ser mais graves que o caso do arcebispo Wielgus.

© 2007 MidiaSemMascara.org


O reconhecimento feito pelo arcebispo de Varsóvia, monsenhor Stanislaw Wielgus, de sua colaboração com a tristemente célebre Sluzba Bezpiecenstwa, a polícia política do regime comunista da Polônia, golpeou e encheu de horror as consciências dos católicos poloneses e do mundo inteiro. Ante as evidências apresentadas pela Comissão Histórica Eclesiástica da Polônia, o recém nomeado arcebispo de Varsóvia, que até o momento havia negado as acusações, reconheceu sua culpabilidade e renunciou ao cargo.

Não são poucas as delicadas perguntas que surgem em torno deste episódio. Por exemplo, como é possível que a diplomacia vaticana, em tantos títulos considerada como uma das melhores e mais informadas do mundo, não estivesse a par dos graves antecedentes relacionados com as atividades de espionagem do tal Pastor contra seu próprio rebanho. Tal desconhecimento chegou ao ponto de que, quando estavam no auge as denúncias contra monsenhor Wielgus, o Departamento de Imprensa do Vaticano emitiu uma nota em defesa do alto prelado e do próprio ato de sua designação, afirmando textualmente: “Quando a Santa Sé decidiu pela nomeação do novo arcebispo de Varsóvia, levou em consideração todas as circunstâncias de sua vida, dentre as quais se encontravam as relativas ao seu passado” (Agência Zenit, Roma, 6 de janeiro de 2007).

Poucos fatos da história eclesiástica contemporânea nos países comunistas poderiam ser mais graves que o caso do arcebispo Wielgus, principalmente quando, segundo especialistas, as atividades do alto prelado a serviço dos serviços secretos do anterior regime comunista da Polônia, podem constituir a ponta de um iceberg sobre o colaboracionismo eclesiástico na Polônia e nos demais países comunistas.

Nesse sentido, no que se refere à Cuba comunista, me permito lembrar aqui um antecedente particularmente doloroso e lamentável, que tive ocasião de narrar no livro “Contra toda esperança”, minhas memórias de 22 anos nas prisões castristas, sem ter sido desmentido até hoje. Em dezembro de 1980, os três jovens irmãos García Marín buscaram asilo na Nunciatura de Havana, sendo posteriormente retirados dali com promessas de liberdade e de segurança individual, por pessoas que ingressaram vestidas com roupas eclesiásticas no próprio automóvel da Nunciatura. Na realidade, não eram eclesiásticos e sim agentes da polícia política cubana que os arrancaram da Nunciatura mediante engano, para serem selvagemente torturados e finalmente fuzilados (cf. A. Valladares, “Contra toda esperança”, Plaza & Janés, Barcelona, 1985, cap. 48, pág. 416).

Diferentemente da Polônia onde, por causa de atos de colaboração com a polícia política o arcebispo de Varsóvia renunciou, em Cuba, pela entrega desses três jovens indefesos ao regime comunista, por parte da Nunciatura Apostólica – que é a embaixada da própria Santa Sé e goza do privilégio da extra-territorialidade – não consta que se tenha adotado nenhuma medida, sequer uma advertência, contra o Núncio da época e contra outros eclesiásticos eventualmente envolvidos nesse deplorável acontecimento.

Porém, há algo mais grave do que a colaboração com as polícias secretas comunistas, algo que, sem dúvida, quando minha querida pátria recuperar a liberdade, uma Comissão Histórica Eclesiástica de Cuba deveria assumir a alta missão de investigar com rigor e objetividade. Trata-se da identificação ideológica de bispos cubanos com as próprias metas comunistas, tal como mostrei em recente artigo (cf. A. Valladares, “Bispos cubanos, Encontro Nacional Eclesial Cubano e castrismo sem Castro”, Diario Las Américas, Miami, 12 de janeiro de 2007). Trata-se também da análoga identificação ideológica dos artífices da teologia da libertação latino-americana, a qual, com o aval dos bispos cubanos, transformou-se na ilha em uma teologia da colaboração com o regime. Trata-se, finalmente, de declarações complacentes e até elogiosas em relação ao comunismo cubano e ao seu ditador, implacável perseguidor dos católicos, de uma longa série de altos eclesiásticos, vários deles purpurados, que peregrinou à ilha-cárcere, três dos quais coroaram suas carreiras eclesiásticas como cardeais secretários de Estado da Santa Sé (cf. A. Valladares, “O drama cubano e o silêncio vaticano” e “Cuba: o Lobo e os Pastores celebram encontro ‘construtivo e amistoso’”, Diario Las Américas, Miami, 26 de abril de 2003 e 29 de novembro de 2005).

Me vi na obrigação de consciência de escrever artigos a respeito de praticamente cada uma das viagens de tais cardeais e altos eclesiásticos, tal como consta nos arquivos do Diario Las Américas, de Miami. Coloco esses artigos à disposição dos leitores, bastando que me enviem um e-mail solicitando-os.

Em contraste com os ditos, feitos, omissões e silêncios de tão altos prelados colaboracionistas, brilha a estrela gloriosa dos cardeais Mindszenty, Stepinac, Slypyj, Korec e de tantos outros purpurados e prelados que, seguindo os passos do Salvador, foram Pastores sempre dispostos a dar suas vidas por seus respectivos rebanhos.

Lembro com enorme perplexidade que, nos textos de João Paulo II e de diversos cardeais nos quais se pediu perdão por aquilo que consideravam como pecados passados e presentes dos filhos da Igreja, não me foi possível encontrar a mais mínima referência à cumplicidade de tantos eclesiásticos com o comunismo em Cuba, em países do Leste europeu e na China, por ação ou omissão, durante as últimas décadas; nem tampouco às devastações no rebanho católico provocadas pelos “teólogos da libertação” de inspiração marxista. A constatação dessa protuberante ausência me encheu de perplexidade e até de angústia. Com efeito, se se trata de identificar e admitir culpas, pode haver fatos mais graves, neste século XX recém acabado, do que a colaboração eclesiástica com uma ideologia “intrinsecamente perversa”, responsável pela maior perseguição religiosa e política da história que incluiu o massacre de 100 milhões de pessoas? Como explicar esta omissão? (cf. A. Valladares, “O pedido de perdão que não houve: a colaboração eclesiástica com o comunismo”, Diario Las Américas, Miami, 22 de março de 2000).

Quanto desejaria que estas respeitosas reflexões e filiais interrogações de um ex-preso político cubano e fiel católico, que viu sua fé fortalecida ao ouvir os gritos de jovens mártires católicos que morreram no paredão de fuzilamento proclamando “Viva Cristo Rei! Abaixo o comunismo!” – interrogações compartilhadas por milhões de cubanos dentro e fora da ilha – subam até o próprio trono de São Pedro, em busca de uma sábia resposta.


(*) Armando Valladares, ex-preso político cubano, autor do livro “Contra toda esperança”, onde narra 22 anos nas prisões castristas, foi embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU, em Genebra, durante as administrações Reagan e Bush. E-mail: armandovalladares2005@yahoo.es

Tradução: Graça Salgueiro



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