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Contos-->VEJAM QUEM ENCONTREI DIAS ATRÁS -- 24/11/2003 - 08:49 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
VEJAM QUEM ENCONTREI DIAS ATRÁS

Havia na minha cidade, um louco que perambula pelas ruas. Já o avistara muitas vezes, e me impressionava com o seu jeito de ser. Tinha uma loucura diferente... Um homem muito interessante e porque estava sempre calado, diziam que era mudo. No passado eu havia olhado algumas vezes nos seus olhos e jamais constatei qualquer traço de loucura em seu semblante sereno. Embora se vestisse singelamente, jamais o vi sujo. Ouvi dizer também que ele não comia nem bebia, mas isso julguei que esse fosse um boato desses que contam sobre todas as pessoas diferentes.
Resolvi eu mesmo seguir o louco naqueles últimos feriados emendados do ano passado. Eu estava sozinho em casa porque não tive como viajar com a minha família. Sem entender muito bem porque é que eu estava fazendo isso, ainda contratei um senhor que é guarda noturno, e estava de férias nos dias, pra me ajudar na tarefa. E constatamos que o homem (parecia mesmo que) não comia e não dormia.
No último dia da minha pesquisa, no momento de render o vigia de manhã, ele me ligou do meu próprio celular, pra dizer que estava por coincidência, bem pertinho da minha casa. Relatou ainda por telefone como foi o tempo que trabalhou e (pra ele) não houve nada de anormal. Tive o cuidado como sempre de perguntar se o homem havia comido ou dormido, mas novamente tive respostas negativas sobre esses itens.
Eu já havia pensado que abordaria o homem no último dia, e ele como se soubesse das minhas intenções, facilitou o meu trabalho. Estava (como se de propósito) diante da minha casa, assentado em um bando do jardim da praça. O meu guarda apontou para me mostrar o homem, e me aproximei pelas suas costas. Ele virou calmo como se me esperasse e me olhou com o olhar sereno. Fico emocionado ainda de lembrar aquele olhar. Ele me acompanhou com os olhos enquanto me aproximava e me assentava ao seu lado.
Eu tinha uma comida que havia preparado, pensando que ele estivesse com fome. Estendi a mão e entreguei a marmita sem nada dizer. Ele recebeu, e vi um ar de riso distante em seu rosto barbado e bonito, mas não disse nada e colocou a comida no banco. Não sei descrever o que pude sentir naquele momento, porque o seu gesto me fez entender sem palavras, que não precisava comer. E quando entendi isso, senti um arrepio perpassar pelo meu corpo, e confesso que me veio vontade de chorar, não sei levado por qual sentimento.
-Quem é você?... – eu perguntei.
Ele não respondeu imediatamente. Depois abriu um sorriso enorme e bonito que admirei por causa da brancura e limpeza dos dentes que não combinavam muito com o restante. Depois riu alto antes de responder:
-Talvez pense como os outros que sou um louco, mas sou o dono da sabedoria.
- O que é a sabedoria da qual você é o dono?... – eu perguntei acreditando novamente que ele fosse louco.
Tenho que dizer que muitas vezes meditei nas melhores palavras pra descrever o que aconteceu depois da pergunta que fiz. Mas sei que não conseguiria fazê-lo com precisão: Eu olhava fixo para o seu rosto. Ele tinha os olhos fixos um pouco acima da minha cabeça e por um instante eu pensei que não entendesse o que eu falava. Lembrei que diziam que ele era mudo, mas agora tinha certeza que não era. Os seus olhos mudaram um ínfimo de direção e me pareceu que ele olhava um ponto distante através do meu rosto numa característica bem parecida com as dos loucos. Mas logo a seguir sua visão foi mudando o foco, e fitou o meu rosto. Sua expressão era, repito, indescritível. Senti-me embaraçado de início, mas depois, passou um sentimento em meu coração de que eu estivesse na mira de alguém muito especial... Posso afirmar com certeza que seu rosto não parecia nem um pouco com o de um louco. Pelo contrário, vi algo que só posso descrever com um halo de sabedoria. Mais do que isso, eu via o contrário da loucura.
Ele me fixava, e o seu rosto foi tomando a forma de um sorriso, e posso descrever com precisão, que foi o mais lindo que vi em toda a minha vida. Ainda sorrindo, abriu os lábios como se fosse falar, mas não falou, e eu mesmo julguei desnecessário. Senti algo parecido com uma vertigem, e num instante, como se estivesse ouvido muito, entendi o que não haveria de entender ainda que freqüentasse todas as escolas de filosofia, ou ouvisse todos os discursos de todos os profetas, ou ainda todos os sermões de todos os pregadores de todos os templos em todos os tempos...
Depois que entendi não fiz mais perguntas, e muito tempo depois de calados me levantei pra sair. Ele também se levantou e ficou em pé diante de mim, e senti que era muito maior que a estatura que mostrava aos olhos. Meu coração nesse momento foi cheio de uma alegria e paz que jamais havia sentido. Por um instante pensei em estender minha mão para ele, mas tive receio de tocá-lo. Ele novamente me sorriu quando eu ia virar-lhe as costas para sair, mas mesmo assim não falamos qualquer palavra. Senti novamente a mesma vertigem quando me virei dando-lhe as costas. Foi então que me lembrei da marmita que eu trouxera e virei novamente e ela estava no mesmo lugar no banco, mas o homem havia desaparecido. Nunca mais ele foi visto na cidade.

Meus familiares chegaram de viagem no mesmo dia, mas eu não contei pra ninguém o que aconteceu. Prefiro escrever, porque todos pensarão que isso é ficção...

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Adelmario Sampaio

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