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Contos-->Enfim... Sós! -- 27/12/2003 - 02:44 (Iracema Zanetti) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


ENFIM... SÓS!
IRACEMA ZANETTI

No meu tempo, a primeira vez...
não acontecia na primeira vez!
Ah, entre namoro, noivado
e casamento, quem namorou
o meu amor foi meu pai...

Os dois conversavam sobre mil
assuntos que não me interessavam...
Eu abria a boca, bocejava,levantava,
voltava, sentava novamente,
num desassossego sem tamanho,
e meu queridinho ali...
conversando com meu pai!

Meu pai não levantava do sofá
nem para tomar água... pra filhinha não tentar arriscar nem um beijinho na boca do noivo!

Eu queria pegar meu pai pelo pescoço,
e trancá-lo à chave em seu quarto,
onde minha mãe ressonava.

Mas quando ela percebia
que meu pai entrava no quarto,
sabia que a conversa havia terminado.
Ah, aí, ela despertava como um galo,
ao nascer do sol!

Ela devia querer matar meu pai, por nos deixar sozinhos na sala...
Como a danadinha levantava ligeirinha,
o sono, como que por encanto, acabava...

Ela queria mesmo era apressar nossa despedida que acontecia no portão da minha casa,
assistida por um vizinho alemão
que nos espiava... como um retardado...

Minha mãe queria que nosso boa noite,
fosse um simples até logo!
Mas que nada... não tínhamos olhos para o alemão, nem pra minha mãe e nem pra santo nenhum
que por ali baixasse!
Ah... que saudade daqueles beijos que não terminavam...

E assim foi até o dia do casório...

Casamos, depois da recepção,
ele foi dormir na casa dos pais...
e eu, na casa dos meus, no meu quarto de virgem solteira...
Por que os pais dele... e muito mais os meus... acharam que ir dormir num hotel
para viajar na manhã seguinte, era um verdadeiro absurdo.

Com muita raiva por dentro, falamos amém aos quatro... e nos despedimos com um simples beijinho no rosto!

Passei a noite em claro, com vontade de gritar...
Paiiiiiieeeeeee...... Mãeeeeeee.......
Eu casei! Tenho marido...
Mas a vontade de esgoelar, morreu na goela.

Bem cedinho, estava meu Super Herói
no portão...
No carro, sentada no banco de trás,
minha sogra... esperava minha mãe...
Tinham combinado entre elas que iriam assistir à missa e comungar, para pedir proteção ao casal de pombinhos que iam viajar de carro sozinhos... uns seiscentos quilômetros de estrada, asfaltada... e sem movimento!
Olha o risco... duas crianças viajar por uma BR perigosíssima...
Vai que na longa viagem, de poucas horas,
desse a louca nos recém casados, e a noiva engravidasse...
E os vizinhos... as comadres... quais seriam os comentários?
Que certamente, minha mãe não prendeu
sua cabritinha como devia... e o bode solto... meteu a cara...

Bem, deixamos as duas na porta da igreja e fomos nós... pra famigerada lua de mel...
Tudo certinho, sem problemas...
Ai... enfim sós... que frase certa e abençoada...

Casamos num mês de baixa temporada,
e tivemos o privilégio de ocupar a suíte presidencial... de um Hotel de alto luxo...
Chegamos na hora do almoço...
Os dois encabulados... nada de banho juntos...
Porta fechada à chave, e as roupas colocadas sobre a cadeira que levamos do quarto ao banheiro, para de lá sairmos vestidinhos e calçados!

Almoçamos, e fomos dar uma voltinha de carro pela cidade, nada de andar a pé, tínhamos
que poupar energias, para nossa primeira vez ou primeira noite!

Antes do jantar, fomos até a boate do Hotel tomar um aperitivo...
Dei apenas dois ou três golezinhos, e senti
imediatamente minha cabeça girar, como pião de menino.
Em seguida, fomos para o salão de jantar, eu, já meio cambaleando...
É claro, que por brincadeira de mau gosto,
o barman colocou algo no meu copo...

Meu marido, sem experiência, nunca havia casado, não sabia o que fazer com a mulher completamente bêbada... isto acontecendo na mesa reservada aos noivos...onde a pobre noiva via tudo ao quadrado, ao usar a faca, apenas a raspava no prato de porcelana, porque do jantar ela não viu a cara...

Sei lá porque, ele não me levou diretamente para a suite,isso ele nunca me contou!

Fez-me caminhar horas seguidas pelos jardins
que circundavam o Hotel...para ver se a brisa da noite me traria melhoras...
Chegou ao ponto de ter que me levar nos braços, para o quarto, pois eu estava tropeçando nos próprios pés, caindo de exaustão, bêbada e com sono!

Lembro-me de ele ter me colocado na cama,
do jeito que eu estava, acho que nem mesmo
os meus sapatos ele tirou...
Depois disso, não vi mais nada...

Acordei de madrugada, com o telefone tocando, e o marido sentado aos pés da cama, desiludido, olhando sua mulher acordar de cara amarrotada!

Ele atendeu o telefone, levou às mãos à cabeça, e disse:
Não... não... não brinquem com coisa séria... vocês estão é querendo me chatear...
E sabe o que mais... tchau pra vocês...
e desligou.

Por essas alturas, minha cabeça
parecia que tinha sido atropelada
por uma jamanta... tanto ela doía...
Fui para o chuveiro...
Mas, apesar da tremenda dor e da sensação que a cabeça estava a um fio de explodir,
ainda assim,fui maliciosa e deixei a porta do banheiro apenas encostada.
Terminei o banho... cadê o marido?
Nem pra dar uma espiadinha, na mulherzinha, ele chegou até a porta???
Ah, aquilo feriu meus brios... foi demais...

Fui para o quarto, batendo o pé, e não o vi!
Entrei em pânico...
Senti-me uma pobre noiva.
Abandonada, pelo marido que não aprovou o casamento, ao descobrir que a mulher era uma alcoólatra refinada!

Com certeza estava atrás de algum advogado, para anular o casamento que não havia sido consumado...
Mas àquela hora, procurar advogado?
Que pensamento mórbido...
O dia nem havia clareado...

Fiquei encolhidinha numa poltrona
de veludo azul marinho...
De repente ele entrou chorando...
olhei pra ele e disse...
Amor... eu não vou beber nunca mais...
prometo... juro...
Dê-me uma chance, uma só!

Ele me abraçou com tanta força
que senti estalar algumas costelas...
Não sabia o que ele estava pensando...
depois do vexame que passou com os hóspedes e os funcionários do Hotel...
Achei que ele estivesse dando uma de sucuri...
e seu desejo era mesmo acabar comigo,
triturando-me todos os ossos.
Olha... pensando bem, eu merecia isso...
Alguns pares de costelas fraturadas, para nunca mais fazer o marido passar tanta vergonha!

Quanto mais ele me abraçava, mais chorava...
Até que resolvi com jeitinho perguntar a ele: Amor, por que está chorando tanto?
Você viu que bebi apenas três golezinhos!

Ele me apertou mais forte ainda,
beijou minha boca... como nunca havia beijado
antes e falou:
Tesouro... volta para a cama e dorme novamente.
Descansa, vou ter que voltar para São Paulo, minha avó acabou de falecer...

Ele foi, e eu fiquei três dias sozinha no Hotel.
Não vou contar o que aconteceu,quando ele entrou no quarto,no dia de sua volta...
Ele não comentou uma só palavra sobre o acontecido em sua viagem a São Paulo, também nada perguntei...

Carregou-me nos braços e me colocou na cama...
Virou às costas e dirigiu-se em direção à porta. Fiquei gelada, pensei novamente:
Ai... deuses... agora ele resolveu... vai mesmo embora...

Ele abriu a porta e colocou o aviso no trinco,
do lado de fora:"Do Not Disturb"

Voltou para a cama, suspirou, me abraçou e falamos juntinhos:
Aiii... Enfim... Sós!!!
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