307 Norte, o lugar em que nascemos
E junto com a meninada
Todas nós fomos crescendo.
Fomos lindas e frondosas
Tínhamos flores delicadas
E nossas favas saborosas
Alimentaram passaradas.
Nossos galhos majestosos
Receberam tantos ninhos
De pássaros maviosos
Que encantavam os vizinhos.
O joão-de-barro catito,
Que é um bom construtor
Viu desmoronar aflito
A casa de seu amor.
Éramos somente árvores,
Discretas mas imponentes
E víamos pelas vidraças
A vida de muita gente
Mas nunca contamos nada
Daquilo que a gente via
Porque a nossa função
Era dar sombra e alegria.
Reparem quando passarem
Lembrem-se da nossa beleza,
Nossos galhos, nossas flores,
Encantando a natureza,
A natureza da Quadra
Que um dia aqui se criou,
Trazendo o cantar dos pássaros
Que hoje silenciou.
Agora quando os senhores
Olham de suas janelas,
Não sentem a nossa falta?
Nem das flores amarelas?
Teve quem justificasse,
Sem muita convicção,
Que as nossas lindas raízes
Não se firmavam no chão.
Por isso foi decretado
Que devíamos morrer,
E homens com serra elétrica
Vieram nos abater.
Não tivemos quem quisesse
Fazer a nossa defesa,
Se alguém assim fizesse
Ajudava a natureza.
Hoje está faltando sombra
Sobre o banco cinzentinho
E o canto da passarada
Quando retornava ao ninho.
Resta o síndico sisudo
Que não fala com ninguém,
Mas vai ter que prestar conta
Dos seus atos no além.
Este cordel foi feito em homenagem às nove árvores da família dos Guapuruvu, abatidas numa trágica manhã, diante do prédio onde eu vivo. Foi muito triste retornar do trabalho e não ver mais nenhuma daquelas lindas árvores.
O “decreto” que as sentenciou foi um laudo conseguido não sei como e nem onde.