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Textos_Religiosos-->REPENSANDO O ESPIRITISMO -- 27/02/2005 - 16:50 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
WLADIMIR OLIVIER











REPENSANDO
O ESPIRITISMO




GRUPO DA AMIZADE
















Edição da CASA DO MÉDIUM

Rua Cinco de Julho, 1184
Indaiatuba — SP





ÍNDICE


Nota explicativa ....................................
Texto inicial — Otávio ..............................
1. Ave, Cristo! — O grupo ..............................
2. Dores de parto — Serafina ...........................
3. Resgates de dor — Cláudio ...........................
4. Pai desavisado — Lúcio ..............................
5. Evento maravilhoso — Duílio .........................
6. A serviço do Senhor — Duílio ........................
7. Nossa escrita mediúnica — Marciano ..................
8. Colhendo os frutos — Otaviano .......................
9. Das Reuniões — Raul .................................
10. Horas de despedida — Expedito .......................
11. Penas de amor — Romeu ...............................
12. Tarde gloriosa — Marcelina ..........................
13. Traquinagens espirituais — Renato ...................
14. Não percamos tempo — Rafael .........................
15. O tartamudeio infantil — Otávio .....................
16. Sem medo — Mengálvio ................................
17. Jornada alegre — Claudomiro .........................
18. Desejos satisfeitos — Honorato ......................
19. Prece e verdade — Camilo ............................
20. Sol nos corações — Rodrigues ........................
21. Experiência divina — Ronald .........................
22. Santos temores — Atanásio ...........................
23. Uma coisa de cada vez — Octacílio ...................
24. Fórmulas — Octacílio ................................
25. Números — Octacílio .................................
26. Patrimônios — Héctor ................................
27. Veículos na espiritualidade — Octacílio .............
28. Compreensão e respeito — Gonzaga ....................
29. Correio sentimental — Maria da Graça ................
30. Caprichos infantis — Laura ..........................
31. Melodia do invisível — Romildo ......................
32. Recordações amargosas — Maria das Dores .............
33. Perdas irreparáveis — Alfredo .......................
34. Para ouvir a voz do Senhor — Elvira .................
35. Rápido como um bólido — Salustiano ..................
36. Ilusão e realidade — Norberto .......................
37. Tirando o time de campo — Odacir ....................
38. Sob o estigma da perfeição — Alfredo ................
Deixando o posto — Otávio ...........................







NOTA EXPLICATIVA






Repensando o Espiritismo não é obra polêmica. O Grupo da Amizade, sob o comando do experiente Professor Otávio (ver Estudando Espiritismo com a Equipe do Irmão Otávio, nesta coleção) almeja que os kardecistas revejam os principais conceitos doutrinais e filosóficos, a partir das experiências de estudos e trabalhos, dentro do movimento espírita. Quase diríamos que se trata de curso de reciclagem.
Havendo no corpo da obra inúmeros comentários a respeito da consecução mediúnica, não haveremos de adiantar observações redundantes. Baste-nos dizer que os textos estão estruturados segundo planejamento didático fornecido aos membros da turma, recebendo os encarnados como que o reflexo das meditações, exposições e debates que se deram na espiritualidade.
Aguardamos, com saudável ansiedade, que os leitores estabeleçam ponderadas críticas, para que possamos reformular determinadas posturas na esquematização das composições, como ainda na argumentação em favor das teses levantadas.
Sempre haveremos de agradecer ao Pai a benevolência deste contatar entre os planos.


Deram-se os ditados no período de 22.3 a 17.5.93, tendo sido conservada sua ordem cronológica.
Se tiver o médium de comentar o opúsculo, só palavras de elogio serão ouvidas. Preferimos, contudo, entregá-lo às sábias mãos dos companheiros, para melhor juízo de valor.
Que Deus abençoe mais esta iniciativa da Escolinha de Evangelização!







TEXTO INICIAL





A nova turma faz questão de se introduzir, ainda que a tarde avance. Queremos tão-só dizer que estamos satisfeitos por apresentar-nos junto ao companheiro para estes ditados profiláticos, tanto que nem quisemos aparecer de início, senão com a rogativa-exaltação que lhe fizemos mentalmente.
Guarde para você a lembrança desta maravilhosa tarde e não se esqueça de que pretendemos volver muitas vezes mais, não nos importando se toma os ditados manuscrita ou mecanicamente. Vá com calma, interprete as vibrações e traduza-as para o vernáculo, da melhor forma que lhe parecer. Não temos pretensões a estilo próprio, portanto, caro amigo, ofereça-se ao trabalho com seus mais sólidos conhecimentos, pois iremos necessitar deles.
Receba em paz a vibração dos amigos do Grupo da Amizade. Abraçamo-lo, respeitosamente, e agradecemos efusivamente a recepção.
Professor Otávio, seu velho conhecido.







1

AVE, CRISTO!





Muitas vezes, oramos ao Pai, segundo a fórmula ensinada por Jesus. Outras muitas, rezamos a ave-maria, conforme antiqüíssima composição extraída dos Evangelhos, de acordo com a anunciação do Anjo. Mas orar a Jesus, pela sua intervenção para as nossas dores e problemas, fazemo-lo consoante a intuição e a fé, nos momentos de martírio.
Não pretendemos iniciar os ditados com lições de fé ou de composições de preces. Queremos enaltecer os sentimentos humanos, quando se volvem para o Mestre e lhe confiam a salvação relativa às dificuldades. Como gostaríamos de que os homens fossem capazes de se deixar envolver pelas pregações cristãs, para a caracterização das necessárias virtudes, para merecerem adentrar o reino de Deus!

Salve, Jesus! Aceitai a nossa determinação e protegei-nos no empreendimento que ora iniciamos. Dai-nos força e inspiração, para que possamos cumprir o dever, e luz, para que o façamos o mais proveitoso possível. Se adquirirmos algum receio, durante a jornada, enviai-nos mensageiros capazes de nos esclarecer, nas suaves figuras dos mestres e protetores. E estendei vosso manto de amor por toda a humanidade.







2

DORES DE PARTO





As mulheres sabem qualificar com propriedade o sacrifício de se colocar no mundo os seres que deverão atuar sobre o ambiente, para torná-lo cada vez mais apropriado ao desenvolvimento espiritual da humanidade.
Entretanto, ao darem à luz os pimpolhos, desconhecem quase completamente qual a sina, o carma, o destino, o objetivo ou a missão que trazem para o Mundo. Se espíritas, desconfiam de que tenham de vir para alguma expiação, mas preferem pensar em que para aqui estão enviados em superior missão de paz, de alegria e de felicidade, além, é claro, de fornecerem aos familiares condições propícias ao desenvolvimento das virtudes.
Criada a expectativa, começam as experiências. Como a aspiração é por demais elevada, a tendência mais comum é a das frustrações. Algumas mães, por razões fisiológicas, chegam a repudiar os filhos, incapacitando-se até para o simples aleitamento. Outras tanto se apegam que desequilibram a harmonia da família, em atitude defensiva do rebento que chega às raias da irracionalidade.
São dores de parto, no sentido mais amplo da expressão.
Não queremos transcrever o rol das possibilidades de reação, porém, esta mensagem visa a alertar para a necessidade de ponderação, mantendo-se as balanças do sentimento e da razão em nível, não enveredando jamais por descaminhos sentimentais que só trarão transtornos para todos, em especial para o recém-chegado.
Eis como se faz a história da aquisição das qualidades que nos abrirão as portas do Céu.
Serafina.







3

RESGATES DE DOR





Às vezes, os partos são o caminho do sofrimento, quando a criança chega defeituosa, física ou mentalmente. Tudo ia às mil maravilhas no lar, mais ainda com a chegada próxima de outra criatura para a felicidade familiar.
Está claro que estamos referindo-nos aos lares tidos como tais, com todas as estruturas formadas segundo os padrões médios da sociedade. Não somos ingênuos e não desconhecemos que crises se dão até com nascimentos de seres absolutamente perfeitos, pois nem tudo é facilidade neste mundo desequilibrado e injusto.
Então, as esperanças se arruínam e, de repente, desaba sobre a família enxurrada de problemas inesperados, difíceis de resolver, porque não se estava espiritualmente preparado para a dor.
Vemos, freqüentemente, lares se desfazerem pela perspectiva do sofrimento e do trabalho. Há até quem repudie a criança, doando-a para instituição de caridade.
Ponhamo-nos na pele do enjeitado.
Se tivermos sido agraciado pela possibilidade de rápido resgate de débitos, gostaríamos, evidentemente, de receber o lenitivo do amor de pais caritativos e compreensivos. Se, ao contrário, estivermos sujeitando-nos a tal conjuntura por imposição dos protetores, ainda mais quereríamos estar ao lado da família que se designou para receber-nos.
Mais tarde, ao refletirmos a respeito dos sentimentos que causaram a repulsa, talvez cheguemos à conclusão de que péssimas vibrações muito comprometeram os planos dos maiores. Podemos, também, apostar na possibilidade de termos sido rejeitados por estarmos sendo enviados para lares de antigos desafetos, por necessidades mútuas de crescimento moral ou espiritual, no sentido da confraternização ou reconciliação.
Qualquer ponto de vista a ser adotado penetra fundo na perspectiva do resgate pela dor, o que nos deverá representar como adjudicatória para a elaboração da divina justiça.
Pensem nisso.
Cláudio.







4

PAI DESAVISADO





Quando pequeno, senti enormes dificuldades de relacionamento com meu pai. Era um senhor meticuloso, cheio de prerrogativas, que julgava que cada geração deveria ocupar o seu lugar no seio da família. Assim, afastou-se de meu convívio até a idade adulta, quando voltei formado da Universidade.
Aí o velho pretendeu amealhar-me para junto dos adultos, local de onde se afastava, pois não admitia na juventude pretensões de partilha das rodas dos encanecidos.
Revoltei-me contra tal atitude e investi forte no contacto com meus filhos, na esperança de dar a eles a companhia paterna que me faltara. Levei nessa vida afetiva os vinte anos seguintes, até que amadureci para a roda dos senhores.
Aí encontrei meu pai metido na companhia dos velhos parceiros, os mesmos de toda a vida, afastando-me eu de seu círculo de amizades, por absoluta incompatibilidade de pensamentos e de sentimentos.
Como eu não houvera afastado meus filhos, convivia alegremente com todos, jamais fazendo questão de gerir os negócios de nenhum deles, mas sempre consultado e respeitado.
Um dia, o velho adoeceu e precisou agasalhar-se com um dos filhos. Minha doce mãe, de há muito, havia partido e não havia quem tratasse das graves afecções do ancião.
Reunidos os irmãos, foi difícil aceitar a idéia de que deveria ser eu, por ser o mais velho, a receber o pai em casa.
Ali, a prepotência antiga brotou e revigorou-se, diante das pequenas aquiescências à sua vontade. Não mais era o pai que administrava os bens ou a educação. Era o escravocrata que exigia obediência e correto cumprimento de cada ordem.
Minha esposa, acostumada com a benevolência dos genitores, em breve tempo se indispôs contra o sogro. Como éramos abastados, pude contratar dois fâmulos, para o constante atendimento das necessidades, além de manter facultativo alerta para as emergências dos achaques.
Além das crises próprias da doença, acresciam outras da senilidade, de forma que a vida em casa se transformou em real sacrifício. Chegamos ao ponto de orar pela morte do infeliz, tantas eram as ranzinzices e maus-tratos com que brindava a família.
Os netos passaram a odiá-lo, terminando eu por encaminhá-los à casa de meu sogro, até que se definisse a transferência do avô para a casa de um de meus irmãos.
Reunida novamente a irmandade, optamos por buscar agasalhar o velho em casa de repouso e tratamento médico adequada ao estágio de sua debilidade física e mental.
A partir de então, tivemos sossego, porém, freqüentemente, éramos molestados pelas fugas do esclerosado senhor. Foram tempos amargos, pois não suportávamos a idéia de termos recusado assistência direta a membro tão importante da família.
Por essa época, ingressamos no Espiritismo e mais as dores conscienciais se agravaram.
Houve, entretanto, bondoso guia familiar que nos orientou, no sentido das preces, pois o que mais precisávamos, na realidade, era de consolação e tranqüilidade.
Nessa vida de sofrimentos morais e de sobressaltos, permanecemos por mais de dez anos, até que se deu o trespasse do velho.
Aí tocamos o barco segundo a nova noção evangélica, sem suspeitar de que um dia ouviríamos o ancião retornar com as lamúrias, através de manifestações mediúnicas no centro.
Em longas exposições, demonstrava arguto conhecimento de cada filho, mas não se contentava em apontar-nos as falhas. Insistia, sobretudo, no fato de tê-lo abandonado na casa de saúde, isolando-o da família. Não atinava, por mais que os doutrinadores insistissem, em que a cada ação corresponde uma reação e que fora ele quem primeiro se afastara dos familiares.
Em determinada noite, quando recrudesciam as queixas, não me contive e derramei lágrimas muito tristes, ao mesmo tempo em que rogava a presença de minha mãe, para o encaminhamento do velho a alguma colônia espiritual de tratamento das afecções morais.
Após essa sessão, nunca mais tivemos notícias do queixoso.
Quando chegou a minha vez de desatar as presilhas carnais, encontrei a família reunida, sob a direção de mamãe. Dentre os presentes, estava velho e alquebrado senhor que mal reconheci como meu pai. Não sorria como os outros, preocupadíssimo em me pedir perdão pelos malfeitos.
Assim que o abracei, senti-me fortemente repelido, afastando-se em seguida aos tropeções, como que perseguido por mil demônios conscienciais.
Fora a primeira vez que se dera a ele permissão para contacto tão fresco com alguém que chegava.
Reunidos em prece, todos nós nos empenhamos em rogar ao Pai por aquele espírito em vias de recuperação.
Hoje estou escrevendo estas memórias ao lado de meu querido pai, já disposto a enfrentar com mais esclarecimento a aventura carnal. Certamente, obterá melhor sucesso, pois se empenha muito para compreender o que fora influência perversa do grupo social em que crescera e amadurecera, daquilo que portava consigo como sobrecarga de irresponsabilidade de outras épocas.
Consultado o mentor do grupo, esclareceu-nos que, embora houvesse muitos prejuízos naquela vida alienada da família, mesmo assim conseguira ele suplantar diversos graves problemas.
Como recomendação final, pediu-nos que nos lembrássemos das palavras de Jesus, segundo as quais não deveríamos julgar a ninguém, pois a medida...
Lúcio.







5

EVENTO MARAVILHOSO





Deslumbrei-me quando, pela primeira vez, percebi que não era eu mesmo quem redigia a comunicação. Descobri cedo que era médium, mas não tive coragem de aperfeiçoar o sagrado dom, tendo deixado passar mais de trinta anos, até que, prevenido por dolorosas circunstâncias, me aproximei da mesa evangélica.
De início, postava-me ao lado dos mais experientes a tartamudear algumas palavras, muito receoso de que tudo o que dissesse fosse fruto da imaginação. Os companheiros diziam-me para deixar sair a voz, mesmo que não fizesse sentido. Mas eu me recusava a atendê-los.
Custou para que compreendesse que era para o meu bem que os protetores vinham trazer a sua mensagem.
Um dia, feliz acontecimento engalanou a minha residência com o nascimento do primeiro netinho. Disposto a captar mensagem da querida esposa, dirigi-me à noite ao centro para a imantação necessária.
Lá chegando, encontrei-me com os amigos, que me felicitavam pela ocorrência. Manifestei-lhes o desejo que me acendera a alma em felicidade e todos me apoiaram a idéia.
Durante a sessão, um dos médiuns incorporou o espírito de minha esposa. Em meio a lágrimas de alegria, peguei a caneta e comecei a transcrever a mensagem, tentando reproduzi-la para os familiares.
Foi, então, que se deu o fato maravilhoso a que aludi acima. Após rascunhar algumas palavras, ao término da comunicação, prossegui escrevendo, seguro das idéias e dos termos. Ao final, dei conhecimento do texto aos demais, que muito me incentivaram a que continuasse na função de psicógrafo, pois levava jeito.
A partir daí, toda quinta-feira, me reunia com os amigos e registrava os dizeres dos instrutores e demais espíritos desejosos de manifestarem sentimentos e lições. Não parei mais, porém, a impressão do primeiro dia nunca se apagou de minha mente.
Comparável a tal evento, só a felicidade de ter podido comunicar-me verbalmente, num dos centros da Capital, no intuito de revelar-me presente e bem para os familiares. Não vou indicar agora o local exato nem o nome da parentela, mas o agrado com que fui recebido valeu os anos de penúria moral em que me debati nas trevas.
Hão de perguntar os leitores:
— Se o amigo era tão ligado ao Espiritismo, como é que se deixou cair nas tentações que o arremessaram tão baixo?
Eis aí confissão que não devo nem desejo fazer. Basta referir-me ao fato de que lá me doía, sobretudo, ter permanecido tanto tempo sem oferecer-me para a intermediação entre os planos.
Mas não fiquei inteiramente isolado nem desconsolado, pois sabia que iria receber, uma hora ou outra, o auxílio que muito esperava. Em lugar, contudo, de me enfronhar nas razões daquele mau pedaço, de acordo com a mesma tendência que me prendera na vida, também ali fiquei inoperante, inativo, aguardando que caísse do céu a salvação.
Ainda bem que sabia as preces principais, pois foi através da meditação a respeito do significado de cada expressão que consegui refletir a respeito dos defeitos morais que me tolhiam ação.
Hoje me encontro satisfeito com esta oportunidade de expor o meu drama pessoal, mas não posso dizer-me inteiramente feliz, já que não sou capaz de elaborar teses de luz com que orientar os amigos encarnados.
Que me relevem a grosseria desta mensagem de exemplificação do mal, como também a séria advertência que deixei impregnada nas entrelinhas.
Pelo amor de Deus, amigos, jamais pensem, como eu, que as perorações espirituais visem a outros leitores e não ao escrevente! Partam sempre do princípio de que o mais necessitado de informação, de auxílio, de consolação, de orientação e até de invectivas e chamadas de atenção sejam vocês mesmos, ao apanharem os ditados. Não fiquem inermes diante do fenômeno mediúnico e procurem dar vazão às suas tendências, buscando fazê-lo organizada e metodicamente, dentro dos templos da espiritualidade que são os centros espíritas.
Não acendam desejos de trabalhar sozinhos, como poucos médiuns conseguem, pois haverão primeiro que saber se "os espíritos são de Deus", na doce expressão bíblica. Entretanto, se descobrirem que estão amparados por equipes de força energética indiscutível e de moral superior, na confiança de que os trabalhos devam ser levados ao conhecimento dos mais experientes, aceitem trabalhar em casa, para honra e glória do socorrismo universal.
Tornar-se, nesse caso, soldado do Cristo não exigirá dos encarnados mais do que dedicação e boa vontade.
Fiquemos nas graças de Deus!
Duílio.







6

A SERVIÇO DO SENHOR





Gostaríamos de poder chegar ao irmão médium, sem oferecer qualquer possibilidade de má interpretação, uma vez que, sempre que nos aproximamos, encontramos problemas para serem solucionados, como no caso da escolha do método mais eficaz para o apanhado do ditado: se através da datilografia, se manuscritamente. São pequenos desassossegos que, embora não tirem o mérito da transmissão, perturbam o início dos trabalhos, já que não temos recursos apropriados para enfatizar o que melhor calharia para nós.
Claro está que este dia está sendo aproveitado para oportuna advertência generalizada, que tanto pode servir ao nosso mediador como a qualquer leitor que esteja enfrentando o mesmo tipo de preocupação.
Vamos dizer, então, que o título é bem mais ambicioso do que o início da mensagem possa fazer crer. É que não temos o hábito de manifestar-nos apenas para gáudio do escrevente, mas com a exata necessidade de demonstrar tudo o que estamos aprendendo nas aulas, uma vez que não passamos de meros aluninhos, ainda no princípio da aprendizagem.
Se fôssemos mais experientes, o problema a que fizemos referência não se colocaria, pois os mais preeminentes comunicadores do etéreo conhecem a fundo a arte da magnetização e deixam bem preparados os amigos com quem irão desenvolver os trabalhos mediúnicos.
Pôr-se a serviço do Senhor, na nossa modesta conceituação, é tornar o relacionamento entre as pessoas, vivas ou mortas, o mais próximo possível do mandamento que nos determina amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Não precisaríamos comentar as assertivas, se não tivéssemos o cuidado de deixar tudo o mais claro possível, como nos pede o Professor Otávio, a quem devemos o tema para este reinicio da datilografia. Fique, caríssimo irmão médium, absolutamente tranqüilo quanto às dificuldades que vem enfrentando, porquanto não iremos afastar-nos das lides psicográficas por tão pouco. Afinal de contas, que são umas poucas hesitações e pequeníssimos retardamentos, em função do aprendizado necessário para o domínio da nova disposição dos caracteres?
Por ora vamos suspender esta transmissão, rogando-lhe o máximo de atenção para as palavras de apoio e de esclarecimento.
Fiquemos na paz do Senhor!
Duílio.







7

NOSSA ESCRITA MEDIÚNICA





Não é de nosso interesse desenvolver o tema no sentido de dar-lhe novas perspectivas de abordagem. Pretendemos somente desempenhar o modesto papel de alunos, de sorte que possamos treinar o contato com o plano da realidade tangível dos mortais.
Se tivéssemos maior desenvoltura no aquilatar das manifestações realizadas neste campo, poderíamos conseguir alguma novidade, tendo em vista aspecto técnico não desenvolvido.
Como sempre sucede em tais ocasiões, os preceptores ficam a nos auxiliar, dando-nos idéias a respeito da manifestação em desenvolvimento. Não seria de outra forma com o bondoso e experiente Mestre Otávio, de quem ouvimos os mais sábios conselhos.
Que fique, portanto, atento o amiguinho médium para estas palavras de elucidação, para não requisitar dos expositores que compareçam com temáticas muito profundas. Seriedade sempre há de esperar. Nem seria de outro modo no âmbito desta Escolinha de Evangelização.
Como sempre, em tais ocasiões, vamos encerrar bem cedo a transmissão, solicitando nos perdoem por não termos trazido nada que possa sequer corresponder aos tópicos desenvolvidos por outras equipes, junto a este operoso mediador.
Quanto a nós, sentimo-nos absurdamente alegres, desde que pudemos realizar o trabalho mais importante da compreensão de como se dá a passagem para o cérebro do companheiro encarnado de nossas sensações, pensamentos e sentimentos.
O que podemos acrescentar, sem novidade, é o fato de que o resultado final da comunicação haverá sempre de indicar o momento psicológico do transmissor, como se fora possível retratá-lo sob todos os ângulos, tendo em vista o grau evolutivo em que se encontra conjugado aos humores de que se deixa dominar.
Se me permitirem avançar neste sentido, devo dizer que, embora estivesse apreensivo de início, serenei o ânimo e me ponho muito à vontade para determinar as frases e dizeres que compõem este material psicográfico, até mesmo dando inteira liberdade ao escrevente para as devidas correções das falhas datilográficas, tendo em vista, principalmente, que os automatismos estão sofrendo um pouco com a nova disposição do teclado no que respeita à acentuação. Mas isto foi objeto de comentário do amigo Duílio, de maneira que não irei delongar-me no tratamento de semelhante assunto.
Sinto-me tão bem ditando esta mensagem descomprometida de divulgação que não tenho pejo em estender-me improdutivamente, somente para propiciar aos demais oportunidade para que analisem cada aspecto ou fundamento da magnetização que está sendo posta em prática.
Não é verdade que o título que dei à manifestação está bem adequado ao texto?
Agradeço deveras ao bom amigo que, pacientemente, reformulou alguns dizeres, conforme solicitação nossa, bem como a prudência através da qual se referiu ao fato, quando nós mesmos íamos tornando o período incompreensível.
Dado o fato de não estarmos empregando termos técnicos do jargão espiritista, nem por isso iremos tornar menos precisas as formulações, mesmo porque estamos compromissados com a verdade e com o melhor desempenho que possamos demonstrar.
Fiquemos tranqüilos que tudo haverá sempre de dar certo, especialmente quando sabemos das qualidades dos guardiães que velam para que todos estes exercícios escolares possam realizar-se eficazmente.

Pede-nos o escrevente comentário referente aos textos dos demais grupos, se têm méritos ou se estão muito aquém da possibilidade da apreciação pública, em caso de divulgação.
Preferimos eximir-nos de dar opinião, pois não estamos suficientemente calejados na crítica, nem temos conhecimento integral de todas as mensagens. Não é verdade que existem até textos de outra equipe do Professor Otávio, na busca de orientar os humanos na aprendizagem dos temas espiritistas?
Agradecemos a oportunidade de prosseguirmos neste roteiro, agasalhados pela perspicácia do mediador, que nos faculta estender-nos sempre mais um pouquinho, não só por julgar demasiado curta a manifestação, como também para facilitar-nos o aprendizado das técnicas operatórias do instrumental mediúnico.
Se todas as vezes que abordarmos os encarnados dispostos a nos receberem as mensagens encontrarmos o mesmo nível de compreensão, por certo conseguiremos alcançar todos os objetivos da escrituração psicográfica.
Se algum bondoso leitor estiver seguindo os nossos pensamentos, far-nos-á um bom favor se se concentrar e, apanhando folha e lápis, se dispuser a receber alguma possível mensagem espiritual. Assim, poderíamos ampliar o quadro das observações, ajeitando o instrumental da maneira mais adequada para a imantação de pessoas com diferentes tônus vibratórios ou energéticos.
Eis que chegamos ao final desta comunicação, levada serenamente a cabo pela ponderada atitude de recepção do escrevente, a quem reiteramos os agradecimentos.
Fiquemos todos nas mágicas mãos de Jesus!
Marciano.




Observação.



Não resistimos à tentação de utilizar adjetivação laudatória de última moda nos setores desportivos da sociedade, evidentemente, com o maior respeito. Queiram perdoar-nos, se não entenderem assim a fórmula aplicada ao Divino Mestre.







8

COLHENDO OS FRUTOS





Naturalmente, quem se aproxima desta mesa para comunicações, na qualidade de aluno da Escolinha, deve estar colhendo os frutos das semeaduras de amor. Sendo assim, sempre há que se respeitar um pouquinho os irmãos, mesmo porque têm o grave compromisso do desempenho sério e proveitoso.
Mas nem todos os mortais se dignam compreender o que estamos descrevendo, julgando que os espíritos estão com segundas intenções, prontos para mentir e falcatruar, no intuito de arrebanhar os incautos para as suas redes de intrigas e pressões.
Se é bem verdade que muitos existem nesse caso, também não padece dúvida o fato de que todos os humanos têm protetores e guias, especialmente o denominado anjo guardião. Quando estes se afastam, devemos desconfiar, de imediato, que temos tido participação nesse evento de trágicas conseqüências para a estabilidade existencial.
Assim, o que mais acontece junto aos irmãos espiritistas é o recebimento das informações filtradas pela vigilância dos guias, num tratamento amorável até em relação aos espíritos mais carentes, uma vez que os doutrinadores se postam para as eventuais pregações, sempre que há possibilidade de acesso moral às mentes.
Não ter medo, pois, é sintoma de que as coisas caminham regularmente, estando a casa protegida e o trabalhador amparado.
Vamos configurar a situação de alguém que só incorpore (para utilizar termo facilmente compreensível) espíritos flagrantemente malévolos. Terá dúvida em continuar oferecendo seus préstimos aos protetores? Pensamos que não, pois é o que sucede comumente nas chamadas sessões de desobsessão. Esses tais são facilmente identificáveis e não nos atemorizam, quando estamos exercendo o ministério sacrificial do atendimento evangélico.
Assim, restam-nos os maliciosos que, aproveitando-se de nossa boa vontade ou inexperiência, passam-nos informações dúbias, inexatas ou completamente deturpadas da vida de além-túmulo, na expectativa de que formulemos opiniões divergentes das correntes nos meios espíritas, a ponto de fomentarem juízos de valor que nos afastarão do convívio frutuoso dos centros espíritas. Não é o que sucede com aqueles que se recusam a aceitar as programações doutrinárias e só se sentem bem quando vêem suas opiniões prevalecerem?
Para tais espíritos sutis na maldade, havemos que caracterizar firmemente os conceitos da codificação, por meio da leitura contínua e cada vez mais penetrante dos textos de Kardec, mui especialmente da monumental obra O Livro dos Espíritos.
Se quisermos, por outro lado, categorizar, ou melhor, qualificar as mensagens recebidas das quais verdadeiramente desconfiamos, aí as bases dos raciocínios deverão estar assentadas em O Livro dos Médiuns.
Para acréscimo dos sentimentos mais puros, como os do amor e do perdão, para a compreensão das leis de justiça e de causa e efeito, não haverá outra recomendação que não seja a leitura de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Somente após a assimilação dos ensinamentos contidos nas obras fundamentais é que devem os amigos arriscar-se a adentrar os fortes argumentos de A Gênese, não esquecendo jamais de que O Céu e o Inferno é obra de proveito no incentivo à fé e à esperança, como resultado da meditação sobre a grandiosidade da obra de Deus.
Eis que também esta turma cumpre a obrigação de referir-se à espinha dorsal do Espiritismo, como norma de conduta intelectual, no direcionamento dos sentimentos, em função da aquisição das virtudes e da eliminação dos vícios.
Se o amigo estiver desconfiado de que este grupo de espíritos esteja jogando sujo, na tentativa da ilusão e do engodo, antes de prosseguir na leitura do opúsculo, que se abalance a seguir a orientação proposta para as leituras, a qual acrescemos da advertência de que, para tanta desconfiança, não servirão as obras mais modernas, já que tudo poderá ser arremessado no mesmo caldeirão em que se misturam as noções verdadeiras com as falsas.
Bem faz o escrevente, que vai aceitando todos os ditados, com muita paciência, no aguardo de que as luzes finalmente possam fazer-se para sua inteligência, cultivando, ao mesmo tempo, outros afazeres relativos ao envolvimento que pretende com a edificação do Espiritismo, não só como realização social, mas como filosofia de existência.
Não temos a pretensão de levantar teses novas e tudo o que escrevermos terá o ranço dos artigos que se guardam por inúteis, nos porões ou nos sótãos. Não obstante, não sairemos satisfeitos desta mesa, se não consignarmos integralmente a mensagem que nos foi requisitada como dever escolar inadiável.
Rezemos para que todos os amigos leitores possam, um dia, defrontar-se com este mesmo labor e tenham originalidade suficiente para comporem texto mais agradável e sugestivo. Para tanto, muito apreciaríamos se, desde já, os comentários e as críticas se fizessem, no elevado sentido de nos orientar, uma vez que carecemos de muito estudo e de muita prática evangélica.
Que Deus seja por todos nós!
Otaviano.







9

DAS REUNIÕES





Nada há de mais belo do que o ajuntamento das inteligências e das vontades para a realização do bem.
Sabendo-se disso, havemos de nos preparar convenientemente, ajustando o padrão vibratório ao do conjunto, mediante a devida concentração energética, o que se consegue através da oração dita com muita fé em que seremos amparados pela Divindade.
Dito desse modo, parece até muito difícil de se conseguir a freqüência de ondas ideal, para que os trabalhos se realizem em harmonia, na busca dos melhores resultados. Contudo, basta saber que o fruto haverá de beneficiar também os organizadores e trabalhadores, para se ter em conta que se há de dedicar o melhor da capacidade na aplicação dos esforços do grupo.
Não queremos deixar registradas meras normas de procedimento gregário, estudo proficientemente realizado pelos seres humanos e descrito em compêndios especializados. Exercer papel dentro de equipe de trabalho já é razão para cursos e palestras. Resta-nos destacar tal aspecto, para que os mortais não pensem que só o fato da reunião irá proporcionar-lhes os melhores resultados.
Não esquecer Kardec, que dizia que o Espiritismo evoluiria com as Ciências.
Nossas recomendações se orientam para setores espirituais capazes de propiciar aos encarnados boas razões para o aperfeiçoamento dos relacionamentos corporativistas, uma vez que refugamos a terminologia convencional das congregações religiosas, dado que não estimulamos jamais a hierarquização das funções, tendo em vista os cargos que os indivíduos ocupam dentro do movimento espírita.
Aos que mais necessitam de aprendizado se devem destinar os encargos de maior responsabilidade, já que de tudo se deverá prestar conta ao grupo, em momento oportuno. Mesmo quando há claros desvios dos objetivos fixados, sempre teremos a possibilidade de correção, para o que todos os integrantes das tarefas devem apresentar-se atentos. Mas esse é caso extremo, em que as pessoas em débito para com as demais devem, verdadeiramente, demonstrar suas tendências, especialmente porque assim dão ensejo a que sejam esclarecidas.
Ninguém há de gostar, ao ler esta página, de se ver na situação daquele que se tornou na pedra de tropeço da turma, de forma que não insistiremos nesse sentido, terminando apenas com o aviso de que, de bem intencionados, o inferno está lotado...
Dissemos acima que a preparação deva ser realizada por meio de preces rogativas do amparo dos guias e preceptores. Isto não significa que devamos restringir-nos ao momento inicial da reunião, mas que precisamos, previamente, orar no íntimo, esforçando-nos por compreender os pontos mais positivos de nossa participação, para incentivá-los, buscando caracterizar também as debilidades do caráter, para transformá-las, reformá-las, anulá-las ou extraí-las do aparato intelecto-emocional.
Se todo trabalho grupal deve ser antecedido por tarefas individuais, para que não se perca o precioso tempo destinado às decisões, no campo do auxílio evangélico, tais atividades são especificamente voltadas para o recolhimento e a ponderação.
Em outras palavras, fiquemos atentos a que todas as intervenções busquem trazer ao grupo mais entusiasmo e luz, por força das energias que soubermos concentrar em torno da personalidade. A transparência dessa íntima disposição será o sorriso afável e as palavras positivas de apoio às boas idéias ou os termos de prudência, sempre que estivermos em dúvida quanto à eficácia das medidas propostas.
Se tudo fizermos sem o desejo de sobrepujar os demais, se tivermos a coragem de expor à minúcia todo o pensamento, se conseguirmos amealhar pormenorizadamente as razões em apoio à argumentação, se respeitarmos o direito que todos têm de igualmente refletirem e externarem os raciocínios, é bem certo que teremos bom sucesso junto aos amigos.
E sabem a que tipo de reuniões estamos referindo-nos? A todo e qualquer encontro com o objetivo de se favorecer a quem quer que seja. Assim devemos agir tanto quando estamos interessados em construir a sede própria para o centro, quanto quando estamos simplesmente deliberando a respeito da assistência aos carentes sociais, morais ou espirituais.
Façamos o máximo que nos for possível no campo da participação inteligente e leal e jamais iremos ter desagrados por não vermos vitoriosos os nossos pontos de vista.
Não é bem assim que pensam os caros irmãos leitores?
Graças a Deus!
Raul.







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HORAS DE DESPEDIDA





Sempre que desejamos participar das atividades que nos atraem pela fama dos sucessos, ficamos bastante indecisos quanto à receptividade que iremos alcançar. Pensamos que o pessoal organizado não aprecia receber neófitos, para quem deverão organizar roteiros de esclarecimento.
Tal não ocorre nos ambientes abertos do Espiritismo evangelizado, onde constitui ponto de honra a integração de novos elementos, mesmo que nada compreendam do que se passa dentro das paredes de seus templos de trabalho. É que o espírito de Jesus se reparte pentecostalmente por todos os membros das diversas equipes, de sorte que a alegria do acréscimo de mais um trabalhador só é comparável com a aceitação que sente o adentrante.
Esta é a hora da chegada. E quando se dão as partidas?
São várias as razões que levam os amigos a abandonarem os recintos sagrados da confraternização. A mais dramática é a em que se dá a desagregação do grupo por razões de caráter pessoal, como se os pontos de vista não estivessem sendo respeitados ou a predominância dos melhor dotados esteja impondo-se muito mais pela força de razões que não se explicam, do que pela lhanura de convívio sadio e frutuoso.
Todos devem sentir-se bem no seio da irmandade. Para isso, os dirigentes têm de dirimir todas as dúvidas, envidando esforços ou estabelecendo sacrifícios, no sentido de ajustar os companheiros em torno do ideal sacrossanto da codificação espírita, qual seja a assistência contínua aos amigos necessitados, desencarnados ou não. Não há fugir da doutrina para que todos possam conhecer os objetivos do grupo.
Caso haja novidades trazidas por espíritos de luz, podemos categorizá-los por todos os indícios da superioridade moral que demonstram, seja pelo elevado sentido dos ensinamentos, seja pelo linguajar fundamentado nos padrões mais cultos do idioma, seja ainda pelo respeito a todos os tópicos fundamentais das teses kardecistas e da pregação cristã.
Claro está que as vestes que faltam ao Espiritismo não serão confeccionadas por outras criaturas, senão por aquelas que se apresentem como mensageiras do Senhor, de forma, contudo, a não oferecer resistências dos mais experientes, dos mais sensatos, dos mais assentados psíquica e espiritualmente.
Mas, se ninguém pode sentir-se dono da verdade, também é certo que nem todas as informações devam ser tomadas de imediato como incontroversas. Para isso, hão de se resguardar os responsáveis pela divulgação das mensagens tidas como vanguardeiras. Que sejam seguidos os critérios estabelecidos por Kardec, sob a segura orientação do Espírito de Verdade.
Parece-nos que estamos sendo peregrinos nesta exposição, nada avançando que não esteja absolutamente de acordo com o melhor juízo de valor que se possa avocar. Mesmo assim, rogamos para que os dizeres permaneçam em repouso, até que se configure a sua verdade pelos meios e critérios acima propostos.
Eis que não queremos ser tomados por espíritos de valor, meros aluninhos que somos. Todavia, que se pressinta nos textos se somos ou não quem afirmamos ser, e não algum aventureiro que se apresente no intuito de causar transtornos, sob os artifícios mais maliciosos, que seriam os de se fazer passar por representante de instituição de auxílio evangélico superior.
Estamos insistindo nos temas da organização do movimento espírita, pois quer parecer-nos que muitos se têm retirado de suas fileiras, tendo em vista não serem suficientemente esclarecidos das finalidades dos centros.
Outra forma de abandonar a liça é através do desprendimento corpóreo.
Parece que, sob este prisma, nada se poderá realizar em prol dos que se vão. Não obstante, temos umas palavras para dizer no sentido da orientação que está faltando para tais companheiros, porquanto existem certas prevenções quanto ao fato de se desnudarem mais eficazmente as falhas e vícios da alma, em excessiva proteção dos chamados direitos individuais. Em outros termos, queremos enfatizar que o livre-arbítrio jamais irá sofrer restrições de espécie alguma, caso elaboremos rol de atividades em que as pessoas se vejam na necessidade de expor os pensamentos e sentimentos mais íntimos, para receberem o influxo dos conhecimentos e da assistência dos companheiros e dos protetores espirituais.
Não são poucas as vezes em que, através de mensagens pessoais, seres intimamente relacionados com os destinatários das advertências, se põem a comentar a conduta dos pupilos, sem premunirem-se contra possíveis represálias. Aliás, no bojo de tais manifestações, quase sempre se encontram resguardos nesse sentido, a ponto de se ferirem pontos cruciais da personalidade dos orientandos, estranhamente alheios, freqüentemente, à análise de que estão sendo alvos.
Se as pessoas puderem sair para o etéreo melhor conhecendo as principais deficiências do caráter, no mínimo arregimentarão condições de enfrentamento das acusações conscienciais. Eis aí serviço oportuno e utilíssimo do qual damos falta nos trabalhos que se realizam no âmbito do Espiritismo kardecista.
Vejam que não estamos referindo-nos a eventuais sugestões, à vista de claras desídias. O que almejamos é que se instituam com regularidade reuniões precípuas para a confissão pública e conseqüente encaminhamento de soluções, ao invés de se confiar, simplesmente, em que as leituras e debates ou explanações venham a resultar em semelhante efeito. São importantes, mas não especificamente destinadas para a finalidade do desbaratamento dos defeitos e viciações.
Agir em conformidade com a orientação daqueles mensageiros das críticas há de exigir dos amigos forte compenetração de que devam ser corajosos, a ponto de enfrentarem as colocações indesejáveis. Mas isto fará parte da luta pela conquista da verdade.
Se tudo se realizar com amor e boa vontade, prevalecerá a caridade como norma superior a dar as diretrizes de tudo o que se passa dentro das quatro paredes dos centros espíritas.
Não havia eu prevenido quanto a possíveis novidades? Pois que se releia o texto, para que se firmem as principais idéias, no intuito de não se correrem riscos na aplicação prematura das normas.
Quanto a outras formas de se despedir do grupo a que se estiver filiado, todas se restringirão a meras derivações destas que assinalamos, porque, sempre que se deixa um local de tanta luz, se haverá de adentrar outro igualmente iluminado.
Expedito.







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PENAS DE AMOR





Há quem diga que amor, dor, felicidade, harmonia etc. são conceitos criados pelos humanos, com base em sua realidade existencial. Desse modo, os animais teriam outra série de valores a considerar, segundo a estrutura psicossomática.
Generalizando o conceito, passam a oferecer aos desencarnados outras qualidades e defeitos, mais de acordo com organização material, se assim podemos denominar os tecidos da contextura corporal, já que não há possibilidade de existência, sem que haja base molecular ou fluídica.
Na mesma linha de raciocínio, fundamentando os silogismos na afirmação de que Deus é perfeito, sem contradita por qualquer filosofia ou religião, até mesmo por aqueles que lhe não admitem a existência real, chegam a elaborar tese sobre a qual edificam todos os devaneios, na busca da realidade superior em que subsistem os espíritos de luz, ao lado do Pai. Chegando a esse ponto, investem os pensamentos na área da perfeição do divino amor, consolidando, definitivamente, a teoria.
A partir daí, tecem manto de conclusões, conseguindo afirmar que as penas que se concretizam nos sofrimentos da alma são a contraposição do amor, que, não levado com a devida seriedade, tem o condão de cegar para a verdade, formando espessa nuvem caliginosa de incertezas, de hesitações, o que caracteriza a relatividade dos seres, sua pequenez e imperfeições.
Não há duvidar de que, para se atingir tais proposições, há que se ter o espírito bastante evoluído. Entretanto, neste orbe de ensaio e erro, qualquer teoria idealista padece do mal da elaboração meramente imaginosa. Dessa forma, não há como providenciar a comprovação desse ideário, como também não se apresentam recursos para a contra-argumentação.
Não queremos enquadrar a perspectiva dos que assim fantasiam a realidade das esferas superiores. O que almejamos, segundo postura terra-a-terra, é canalizar tais lucubrações para os fatos corriqueiros, aqueles que nos atingem a toda hora, pois julgamos desperdício dedicar tanta energia a temas de tamanha amplitude, sem, contudo, oferecer qualquer meio de superação das dificuldades transitórias.
Seguindo tal roteiro norteador das mentalidades menos arraigadas nos princípios materiais, tememos pelas teses espíritas, que fazem vislumbrar, ao final da caminhada evolutiva, cenários de luz transcendental, onde a perfeição conduz o ritmo da existência.
Há, no movimento espírita, muitos idealistas desse porte, que se fazem penetrar por aspirações por demais grandiosas, deixando de executar os pequenos serviços essenciais que regulamentaram o ingresso na carne. São seres, muitas vezes, dulcíssimos, amabilíssimos, que vêem, nos companheiros, futuros anjos e arcanjos, com quem deverão conviver, em absoluta paz, no reino de Deus.
Por isso, não se dedicam aos estudos comezinhos das instruções que compõem o conjunto da codificação, segundo os quais o procedimento moral superior exige de todos que se compenetrem das dificuldades, buscando-lhes a causalidade, para a supressão dos defeitos e vícios, onde estiverem instalados. Tal postura repercute de imediato na compreensão da lei do perdão, favorecendo que haja liberdade completa para todos, até que, subitamente, se encontrem perante algum monstro assassino que, feroz, os arremessa no monturo das dores e dos sacrifícios.
Se estamos avultando as condições mais trágicas do impacto das vicissitudes, por força das contrariedades naturais em que se acham mergulhados os seres humanos, é para dimensionarmos as lutas dentro da realidade atual das mentalidades.
Deveras, a Terra é orbe de dor e de expiações; mas também agasalha muitas entidades de boa evolução, que para aqui são enviadas em missões superiores, na ajuda àqueles que precisam vencer as etapas elementares de seu devir de glória.
Dentre tais seres exponenciais, seria lamentável encontrarmos muitos, por força das reminiscências das felicidades etéreas, em estado de êxtase ou contemplação das belezas e grandiosidades divinas, sem ânimo ou vontade de realização dos programas assistenciais de que foram encarregados.
Sem recriminações ou advertências, queremos deixar recado para os esperançosos de se livrarem das grosserias da carne, para reingresso imediato nos círculos de onde partiram, esquecidos, evidentemente, de que sua aquiescência é que deu azo a que o encarne fosse possível.
Grandes ideais não devem ser relegados como atividades mentais de segunda categoria; porém, devem estar acompanhados da competente aproximação dos eventos de cada dia, para formarem segura base sobre que edificar o amor, que a todos unirá em torno do Pai, quando tivermos subido todos os degraus da perfeição. Agora, é mourejar na construção deste texto, buscando organizá-lo de modo a cumprir as diretrizes evangélicas, que é o objetivo final de todos, neste verdadeiro vale de lágrimas.
Exemplificamos com o nosso dever. Quais são os dos amigos: cuidar da família, dirigir centro espírita, distribuir alimentos para os necessitados, labutar de sol a sol para o ganho do pão?...
Que cada qual investigue dentro do coração, para saber se o ideal mais elevado lá se encontra, como farol a dirigir a nave para fora dos rochedos dos vícios, ou se, simplesmente, invigilantemente, vem servindo para o descumprimento das obrigações.
Sejamos sinceros nas avaliações íntimas, mesmo que nos causem algum desassossego. Saibamos colocar o destino nas mãos de Deus, mas facultemos-lhe os meios de concretização do amor.
Romeu.







12

TARDE GLORIOSA





Muito nos tem preocupado o fato de termos de vir, também nós, trazer alguma mensagem, neste posto avançado da doutrinação e do aprendizado mediúnico.
Tivemos pouco treinamento dos relacionamentos entre os seres, dado que, na última encarnação, ficamos alheada do mundo por injunções religiosas das mais drásticas, já que fomos irmã de caridade votada ao claustro e ao silêncio.
Dentro da vetustez das caiadas paredes, não soubemos o que se passou na Terra, por mais de quarenta anos de isolamento, danificando-se-nos, lamentavelmente, o cérebro, revestido de fé, mas deteriorado pela avidez da plenitude da glória e da graça do Pai. Almejávamos o paraíso e caímos fragorosamente nas trevas mais espessas do Umbral.
Acostumada, contudo, ao consentimento tácito dos eventos, por mais misteriosos fossem os desígnios dos que assim determinavam para o grupo das irmãzinhas encarceradas, não reagimos jamais, por maiores fossem os sacrifícios que se exigiam das que ali se encontravam.
Havia, porém, angústia íntima pela incompreensão de não termos tido o privilégio de sermos recebida por São Pedro, à porta do Reino da Perpétua Felicidade, e revolta calada, por estarmos recebendo tratamento de fortes transtornos, já que aceitávamos a estadia no Purgatório, onde não localizávamos quaisquer seres demoníacos, como se fosse natural o aguardo para a ascensão venturosa.
Dizer que passamos ali um ou dois anos ou a eternidade será o mesmo, tão graves foram os distúrbios da personalidade. Finalmente, em tarde gloriosa de maio, o mês de Maria, doce criatura desceu para nos retirar daquele embaraço. Vinha o anjo envolto em magnífica vestimenta de luz, sem as asas, mas com o sorriso mais feliz que já pudemos testemunhar.
Não pretendemos fazer a apologia dos merecimentos para a excelsitude do gesto de amor e comiseração, entretanto, não há como deixar de expressar os mais entusiásticos agradecimentos pela ventura da salvação.
Durante mais de três anos, lutaram os amigos da espiritualidade para nos compenetrarmos de que tínhamos, simplesmente, sido devolvida ao convívio amorável da família, pois pensávamos que estávamos nas antecâmaras do Reino Divinal.
Sentimos muito não termos tido o dom maravilhoso da comunicabilidade, embora tenhamos a sensação de que as frases fazem efeito e se constituem em digno exemplo de como chegam ao etéreo as vítimas das grandiosidades efêmeras das fantasias religiosas. Eis que nos encarregaram de trazer o memento doloroso das falácias apontadas na mensagem anterior.
Se tiverem os amigos a consideração da análise dos textos, poderão aquilatar os riscos que talvez estejam correndo por se deixarem impregnar dos mesmos fugazes desejos de se verem dotados de propriedades espirituais de caráter superior, como se todas as virtudes pudessem concentrar-se, desde já, em indivíduo revestido de carne e osso.
Hoje, mais do que em qualquer momento da última existência, sentimos correr pelas veias o quente sangue da verdade da vida, como se estivéssemos recuperando o ensejo da transitoriedade que desperdiçamos, pela vanglória da superioridade moral da entrega ilusória dos despojos carnais ao Senhor, na crucificação sentimental das apelidadas filhas de Nossa Senhora.
Não queremos apontar falhas nas organizações humanas que arregimentam jovens para os trabalhos sacrificiais do atendimento aos pobres e aos sofredores. Nem, ao menos, vamos execrar a instituição dessas ordens que fazem definhar as criaturas na ilusão do poder perante o Pai. Pode ocorrer que, tal qual a nós, haja quem necessite de reclusão durante o tempo de permanência na Terra. Contudo, nada pudemos usufruir dessa verdadeira trajetória de dor e loucura, uma vez que não nos estimularam para o bem e para a compreensão da humana necessidade de reciprocidade nos atos de amor que deveríamos cultivar, na humildade daquele esquecimento voluntário.
Em suma, porque julgamos que iremos ser lida tão-só por pessoas de fé espírita e de elevado esclarecimento doutrinal, vamos dizer que temos tido a felicidade, ultimamente, de percorrer os mosteiros e conventos, infiltrando-nos junto aos sofridos corações daqueles que desertaram do congraçamento social, para inspirar-lhes a verdadeira doutrina de Jesus, buscando dar-lhes o sentido moral da existência, em frustras tentativas, às vezes, de conduzi-los a procedimento digno relativamente aos irmãos, para a supressão do egoísmo que os mantém em permanente débito para com a encarnação.
Sonhávamos com o dia em que por aqui estivéssemos para a pregação obrigatória e temíamos muito pelo destino das palavras, como se fôssemos realizar algo que pudesse converter-se em página de dor e sofrimento, como se despejássemos para o papel apenas o fel que nos amargou a existência no Umbral. Diante do que fomos capaz de realizar, no entanto, estamos tranqüila e esperançosa de termos recuperado a harmonia idealizada do amor que sabíamos necessário para o merecimento da ascensão ao Reino do Senhor.
Consciente do futuro de lutas que nos aguarda, mas resoluta e determinada a ultrapassar os limites da ignorância, despedimo-nos, iluminada pela fé intimorata de que haveremos de conquistar lugarzinho junto ao Pai.
Não é essa a conclusão a que todos gostariam que chegássemos?
Promessa é dívida e se nossa promessa está fundamentada no amor, só o amor é que deveremos praticar para o engrandecimento da obra de Deus. Guiemo-nos, pois, pelas luzes dos espíritos mensageiros e saibamos reconhecer nas mensagens o verdadeiro sentido do bem-querer que começa a expandir-se em ondas de fraternidade, no solidário encaminhamento das esperanças que se nos assentaram nos corações. Ergamos hinos de paz e de reconhecimento pela misericórdia do Criador e entoemos hosanas de agradecimento pela possibilidade que temos de encontrar a verdade, nas palavras nem sempre explícitas de Jesus e nos ensinamentos fundamentais da Codificação Kardequiana.
Graças ao Pai, por nos ter dado a inteligência e a afetividade, através das quais iremos aprender a respeitar todas as criaturas! Salve Nossa Senhora, mãe dulcíssima de Jesus, amparo de tantas infelizes que se espojam nas crenças deletérias da superioridade dos sacrifícios apostólicos, alienadas da realidade! Oremos por elas!
Marcelina.







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TRAQUINAGENS ESPIRITUAIS





Chamamos de traquinagens espirituais a todas as peripécias a que os humanos fazem passar os pensamentos, lucubrando situações em que pessoas imaginárias se põem a agir, segundo procedimentos completamente inadequados ao cumprimento fiel das diretrizes morais estabelecidas por Jesus.
Não se trata, propriamente, de fantasias, mas de recursos de que se utilizam para a configuração de possíveis ações em que se verão envolvidos, caso os parâmetros das ações conjeturadas se tornem realidade, como se pudessem exercer o domínio das probabilidades.
Quer parecer-nos que a tese se apresente bastante complexa, já que nem sempre os mortais se dão à meditação séria a respeito de todos os comportamentos intelectuais, sob o influxo das condições emocionais daquele determinado conjunto de circunstâncias sob cuja pressão se esteja vivendo.
Não padece dúvida, entretanto, que temos de nos esforçar para evitarmos o alheamento da realidade, no que diz respeito à segurança com que devemos enfrentar todos os desafios da sorte. A intemperança intelectual poderá resultar em desequilíbrios, a exigir recomposições da organização psíquica, toda vez que nos virmos afrontados por pessoas inconseqüentes, loucas ou, simplesmente, sob o domínio do álcool ou das drogas alucinógenas.
Se temos de nos deparar, a cada momento, com as reações que se nos incrustaram nos hábitos, na formulação da personalidade que portamos, também havemos de criar anteparos emocionais de razoável resistência, para não nos virmos sob o impacto das ameaças do meio ambiente.
Saibamos restringir as fobias, adquirindo forte confiança em que Deus é pai de misericórdia e não nos desamparará se, por acaso, não tivermos pronta resposta para cada situação. Contudo, no interesse do trabalho doutrinário de que estamos investidos, a partir do momento em que aceitamos o Cristo como salvador da humanidade, vamos esforçar-nos para tornar cada vez mais raros os titubeios, na ação benemérita do agasalhar dos que necessitam de socorro, mas que contra nós investem furiosos, sem controle dos pensamentos e das emoções.
Certo, estamos referindo-nos aos assaltos gratuitos de que somos constantemente vítimas, na via pública ou mesmo dentro dos lares. A serenidade do procedimento evangelizado não condiz com estremecimentos emotivos, a forçar o organismo ao destempero da adrenalina.
Se é absolutamente natural que tenhamos medo e que ajamos conforme o padrão dessa solicitação psicomotora, também é justo aceitar os ensinos de Jesus, procedendo em harmonia com os ditames das superiores leis do decálogo, que nos obrigam ao resguardo das ofensas e dos impropérios, ainda que vibrados na intimidade da mente ou, o que é pior, do coração.
Imaginemos que, estando entretido a trabalhar, venhamos a ser ameaçados de morte por algum dementado ou bêbado que nos julgue, por razões próprias, seu inimigo. Como fazer para superar a crise que se estabelece na mente, dado que não se pode prever (conforme as premunições de que se arma todo aquele que fica a imaginar as situações mais esquisitas) acontecimentos tão ilógicos, a ponto de nos fazerem suspeitar de que, para eles, não valha a lei de causa e efeito?
Simplesmente, orando com ternura pelo bom encaminhamento de tal indivíduo, caso já não esteja portando alguma arma, permanecendo apenas nas rudes ameaças. O mais correrá por conta de nossa formação espiritual, que nos remeterá, assim que nos tranqüilizarmos, para a compreensão integral dos fatos que conduziram a pobre criatura a acusar-nos impensadamente, sem qualquer apoio na realidade.
Não nos assalte a idéia de que estejamos diante de algum inimigo de outras vidas, que assim iremos cair diretamente nas garras daquele tipo de lucubrações a que de início fizemos referência. Baste-nos saber que existem pessoas totalmente desvinculadas da realidade, que vivem os sonhos de mentes perturbadas.
Eis que, de repente, os lunáticos tomam a feição das pessoas de bem, assemelhando-se-lhes justamente na maneira de concretizarem os pensamentos que argamassam sem a fundamentação na verdade. Não há aí o que chamamos de traquinagens espirituais?
Deixemos aos irmãos leitores o dever de completar a exemplificação, sem se utilizarem, é evidente, dos recursos da imaginação. Busquem caracterizar pensamentos comprobatórios desta teoria, fazendo esforço de concentração, no sentido de nos passarem as idéias. Quem sabe esteja aí o princípio de algum profícuo intercâmbio espiritual. Mas não se dediquem apenas a consubstanciar mentalmente tais contactos entre os planos, pois cairiam, fatalmente, no que denominamos de traquinagens espirituais. Façam-no na convicção de que a mediunidade existe e de que aí está para nos oferecer os recursos mais eficazes, para nos livrar dos devaneios improdutivos.
Que Deus nos inspire nesses instantes de grandiosidade da fé no poder dos protetores e guias!
Renato.







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NÃO PERCAMOS TEMPO





Quando, por qualquer razão, sentirmos que o desempenho mediúnico irá deixar a desejar, arremessemo-nos ao trabalho, crentes de que os protetores estarão atentos para as possíveis incorreções que possam verificar-se no apanhado das informações espirituais.
Não perder tempo, então, adquire o sentido da necessidade da prestação do serviço, mui especialmente se os trabalhos estão sendo realizados no terreno do atendimento doutrinário. Não é o nosso caso, pois não oferecemos assistência direta a nenhum necessitado de socorro a quem o auxílio se dê em caráter de urgência, em virtude de se deverem sanar deficiências que estão causando dificuldades no relacionamento com os obsessores, ou para o esclarecimento oportuno das condições atuais, sempre no campo das adaptações aos atributos específicos que se exigem dos espíritos no etéreo.
O escrevente não tinha completa certeza do contacto desta tarde, tendo em vista dificuldades no campo da energização ambiental pela tempestade que desabou, impregnada de eletricidade. Entretanto, tendo percebido que as condições atmosféricas se haviam estabilizado, correu para o posto habitual, dispondo-se alegremente para o serviço.
Aproveitando-nos do ensejo desta inusitada situação, estamos referindo-nos às diversas atitudes mais saudáveis em tais circunstâncias, para evidenciar que não teríamos tido qualquer prejuízo na transmissão deste ou de outro tipo de mensagem, a não ser do ponto de vista da recepção, a qual poderia se ver truncada pelos temores do médium. Fique, portanto, bem claro que, embora não se trate de nenhum aspecto eminentemente supersticioso, ainda assim o querido amigo não agiu com inteiro domínio das variáveis.
Sabemos que temia mais pela perda da comunicação, haja vista que a energia elétrica se viu cortada por diversas vezes, o que inutilizaria o ditado, por causa do desaparecimento da memória do computador. Ainda agora, está escrevendo ressabiado, pois sente-se ameaçado pela falta da energia. Claro está que não precisaríamos fazer a recomendação do apanhado através da escrita a lápis. Se preferiu arriscar, não perdemos tempo e estamos lançando-lhe as idéias na mente, para a transcrição habitual.
Sabemos que este tema não traz grande interesse para quem não está afeito aos problemas técnicos da mediunidade. Contudo, não hesitamos em vir desenvolver alguns tópicos, pois os médiuns poderão demonstrar curiosidade a respeito das aflições dos companheiros de profissão.
Sorrateiramente, impregnamos a mensagem com alguns sentimentos que roçam pelos temores relativos à inocuidade dos relacionamentos entre os planos, como se os amigos mortais que se dedicam a este mister pudessem estar, simplesmente, perdendo tempo, ficando a ouvir série de comentários inteiramente dispensáveis.
Não é verdade que tal dúvida lhe aflorou na mente e fez desenhar quadro de pequenas perversidades morais, como se os atendimentos aos espíritos nem sempre resultassem úteis para os encarnados?
Não é verdade que muitas vezes nós apanhamos as obras oferecidas através da mediunidade e as julgamos absolutamente frouxas, quanto ao conteúdo, e pobres, quanto à forma? Teriam os espíritos e os médiuns perdido tempo?
Pois não devemos julgar o trabalho realizado por outras equipes como inúteis, quando nada significam para nós. Quem será capaz de afirmar que não existem leitores para todos os temas, segundo as expressões lingüísticas mais diversificadas? Este texto mesmo poderá estar sendo causa de enfados e de entusiásticas leituras, já que sempre haverá quem dê importância aos estudos fundamentados na teoria, enquanto muitos outros podem julgar que só as apreciações derivadas diretamente das situações reais, concretamente vivenciadas e diretamente relacionadas com seus interesses vitais é que deveriam merecer não só o privilégio da publicação, como até a simples transmissão para o plano terreno.
Assim, a relatividade do conceito da perda de tempo advém da razão direta do grau de conhecimentos que se adquiriram a respeito da temática desenvolvida.
Qual será a melhor conduta intelectual concernente a estes itens? Para nós, como acreditamos em que todos devam evoluir harmoniosamente em todos os setores da contextura espiritual, a melhor maneira de encarar os conhecimentos é só considerá-los supérfluos ou ultrapassados, quando completamente sob o domínio da inteligência. Enquanto houver campos novos para a aplicação das ciências físicas ou metafísicas, a investigação deverá prevalecer sobre os julgamentos de valor.
Querido amigo, não percamos precioso tempo em considerações a respeito de que algo devesse ou não ter ocupado a mente dos companheiros encarnados ou não. Apliquemo-nos com amor ao estudo de todas as facetas das instruções mediúnicas e jamais nos satisfaçamos em criticar. Se é tão curta a permanência na Terra, que tal passarmos, imediatamente, a outros temas substantivos da filosofia espírita?
Como último comentário, gostaríamos de deixar registrado que esta provocação se endereça a todos, em função do universo dos interesses humanos. Não obstante, como existem irmãos que demonstram dificuldades no entendimento das sutilezas argumentativas, dirigimo-nos a estes em particular, para adverti-los de que nem sempre o que, aparentemente, não expressa informação alguma de mérito realmente está vazio de significado. Orar para que Jesus nos encaminhe para a compreensão dos mistérios é obrigação de todos, já que todos, em algum aspecto, deixam a desejar perante a necessidade da perfeição. Eis porque nunca conseguimos demonstrar, com meridiana clareza e objetividade, todos os pontos de vista espirituais a respeito da existência, ficando alguns tópicos obscuros, segundo o acervo cultural de cada um.
Que Jesus nos abençoe a todos, nesta fase difícil dos trabalhos, quer no que tange aos emissários, quer no que compete aos leitores, os primeiros por estarem a cumprir obrigações escolares indispensáveis, os últimos porque devem compreender que terão de estabelecer prioridades segundo a visão existencial que lhes está sendo evidenciada como irretorquível e em conformidade com sua capacidade de entendimento.
Não percamos tempo!
Rafael.







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O TARTAMUDEIO INFANTIL





Consignamos, sob tal título, a manifestação dos jovens em idade pré-escolar, no desejo de manifestar-se junto aos mais velhos, já que são proficientes na comunicação entre si. Se não tivermos razão em nossa tese, pelo menos iremos fazer esforço para que haja transmissão inequívoca das premissas que nos garantirão os desenvolvimentos.
Feita a devida reserva, tendo em vista as dificuldades de assimilação das verdades provindas do etéreo, cujas diferenciações com as dos mortais são assinaladíssimas, principiaremos por coadunar as informações colhidas junto aos petizes.
Em primeiro lugar, não têm desenvolvido todos os setores cerebrais, o que prejudica a concatenação das idéias, mesmo quando a intuição lhes dá a diretriz correta para as apreciações que fariam. Como não estão equipados com o instrumental da abstração, o máximo que fazem é aproximar dos ouvintes algumas concepções, cuja tradução se torna complicadíssima, principalmente porque existe todo um preconceito relativamente à insipiência dos mais novos.
Vemos ocorrerem casos desastrosos, quando muitos não acreditam em que tenham as crianças visto algo apavorante, que pretendam passar aos mais velhos. Há lamentáveis equívocos, a provocarem o descrédito dos menores pelos que deveriam ser-lhes o exemplo do raciocínio frio e despojado de idéias preconcebidas.
Mas não viemos para informar a respeito de dados tão facilmente demonstráveis, mas para afirmar que não existe, realmente, tartamudeio infantil, senão que as diretrizes do pensamento racional não se encontram definidas, segundo os hábitos tradicionais da cultura ocidental, a qual atribui aos infantes apenas o papel de aprendizes, quando muitas observações deles poderiam embasar concepções mais próximas da realidade, se traduzidas com proficiência.
Caso estejamos rodopiando em torno das mesmas idéias, queiram transferir os apanhados para a esfera dos conhecimentos em formação dos petizes, no sentido de possível avaliação a respeito do que se passa com a mentalidade das crianças.
Se bem que não consigam elaborar teses filosóficas, a maneira pela qual demonstram estreitos vínculos com a natureza deveria fundamentar programas de observações, para a confirmação do que vimos dizendo.
Embora existam precursores nos estudos que estamos propondo, são ciências bem no início de desenvolvimento, de sorte que não é do domínio público tal avanço metodológico. Mesmo para nós, as perspectivas de divulgação destes apanhados teóricos são remotas, o que nos força a permanecermos ignorados e escondidos. Mas não iremos deixar de providenciar informes, para que o mediador anote em suas páginas mediúnicas, já que estamos muito próximos da maneira pela qual as crianças se deixam levar pelas intuições, sem a capacidade de desmembramento das partes, para o oferecimento das investigações em caráter prático, a propiciar o encaixe metódico das peças que comporão o extenso quebra-cabeças.
Sentimos, pois, não poder amealhar muitos elementos para a feitura de teses a serem apresentadas em congressos de psicólogos e de educadores.
Eis que se revela a verdadeira intenção desta mensagem: a de propugnar aos leitores que se deixem envolver pelas sugestões de trabalho, sem caracterizá-las previamente, para que não se percam os aspectos originais. Para tudo no mundo deve existir adequado tônus mental de receptividade das idéias, de forma que esse primeiro contacto com o vanguardismo intelectual se faça da mesma maneira como o mundo se apresenta para os pequenos, cheio de volumes e formas sem repercussões, a se constituírem em perenes desafios.
Do mesmo modo que as crianças se sentem no dever de apreensão da realidade, todos nós devemos estimar as oportunidades dos encontros com o novo e o desconhecido, orientando-nos pela necessidade de decifração, muito mais do que pelos pendores evidenciados nos albores das racionalizações que empreendemos e que se transformaram em conceitos dos quais hesitamos muito em nos afastar.
Isto é válido para todas as criaturas, quer no sentido de se aceitarem as doutrinas espíritas (no caso de pessoas de outras fés religiosas), quer no de se estudarem teses novas, que se apresentam a cada momento mediante as informações provindas dos mensageiros do Senhor (no caso de muitos crentes da Codificação Kardequiana).
Estabelecer os princípios dos temores, julgando da procedência supersticiosa deles, como se se pudesse perder o paraíso só porque estamos perfilhando idéias diferentes das defendidas por Kardec, por exemplo, é de obrigação, pois pode parecer que tudo o que se faça de bom leva necessariamente ao Céu, e tudo o que se desconheça ou não se domine encaminhe diretamente para as labaredas do Inferno.
Estamos desenvolvendo idéias no limite da compreensão de muitos espíritas, que se julgam proficientes na doutrina, não desejando aceitar que possa haver qualquer coisa além, pois se dão o direito de terem perlustrado todo o campo, tornando os sacrifícios valiosíssimos e, por isso mesmo, categorizados como os mais eficazes para a condução deles para o lado do Pai.
Não vamos acusar tais indivíduos de pernósticos, nem de serviçais do Senhor, nem de engrandecidos pela fatuidade da perfeição. Pode até ser que alguns viessem a enquadrar-se nessas categorias. O que nos atemoriza, contudo, é que lancem anátema contra todos os informes que os espíritos tentarem passar, da mesma forma que os adultos não aceitam discutir os princípios das experiências das crianças.
Se transferirem o que acima dissemos relativamente ao convívio mais conveniente que se deveria estabelecer entre as idades para os conhecimentos que se estão insinuando nestas mensagens, abrindo a mente e o coração para o agasalhar dos espíritos, da mesma forma que se faz com as crianças, apesar de não se dar a devida importância a elas (ou a eles), terão consignado o pensamento que viemos trazer nestas linhas.
Fizemos de propósito não tornar excessivamente claro o nosso ponto de vista, para que, da decifração dele, possam os leitores fazer nascer outras idéias mais pertinentes ao tema em pauta. Há que se criarem para o cérebro condições de crescimento, no sentido da percepção da verdade, mesmo que os caminhos se apresentem ínvios ou dificultosos. Eis que as nossas palavras irão ganhando sentido, à medida que os amigos derem largas às teorias do conhecimento como algo não totalmente assimilável da parte das criaturas, enquanto seres muito imperfeitos, apegados fortemente aos princípios e aos roteiros estabelecidos como intocáveis. Analisar, examinar, julgar, criar critérios, descobrir e inventariar, pode resultar, exatamente, no rol dos conhecimentos prévios, mas a aventura da sabedoria trará consigo a sublimidade dos eventos mais felizes do universo, portanto, aqueles que nos aproximam de Deus.
Saibamos, com humildade, esquecer que existimos como individualidades e apeguemo-nos com força à necessidade da percepção do existir como ato ou ação do Criador, porque assim nos engrandeceremos sem os percalços dos vícios morais.
Se parecer excessivamente difícil a lição, lembrem-se, amigos, de que os aprendizes levam a vantagem sobre os mestres de não terem ainda configurado o esquemas dos ensinamentos. Eis pequeno mistério a ser devidamente resolvido, em tempo oportuno.
Fiquemos todos nas graças de Deus!
Otávio.




Observação



Quis o professor responsabilizar-se pelo desenvolvimento desta mensagem, devido, naturalmente, à complexidade da apresentação. Nem tudo reluz alvinitente sob o sol da inteligência. Há intempéries que servem para a fertilização dos solos. Ou não?!







16

SEM MEDO





Não nos espantaria o fato de termos de reescrever a mensagem, mesmo que não tenhamos completo domínio das ânsias dos médiuns. Assim, a perda das transmissões mais cuidadas poderá até parecer que irá perturbar-nos, já que os objetos, na Terra, quando se partem, dificilmente se recompõem inteiramente. Estas comunicações de cada dia não têm o mesmo dom relativo de perfeição, podendo perder-se em definitivo. Outras apreciações espirituais substituirão a contento, dado que as lições não são tão profundas que tenham o sinete do Senhor. Afinal de contas, os Evangelhos aí estão, e as obras da Codificação Kardequiana.

Enquanto escrevíamos o primeiro parágrafo, a máquina cismou de engrupir, de forma que o que se encontrava na tela pôde ser copiado, não tendo ficado nada perdido.

Analisemos o conteúdo daquela parte inicial e consideremos as verdades ali assinaladas. Haverá alguma cujo desaparecimento pudesse lamentar-se? Não seria irrisório o processo de recomposição de tão insignificantes pensamentos?
Aproveitamos a deixa da superficialidade das considerações para evidenciar que não estamos aqui para suprir as necessidades de crescimento espiritual de ninguém. O fato mediúnico, quando levado a efeito para o fim a que nos propomos, qual seja o do treinamento dos alunos da Escolinha de Evangelização, não adquire o nível da importância dos que visam a captar o interesse das pessoas para as teses espíritas, no sentido de encaminhá-las mais facilmente à redenção.
Temos tido a felicidade de alguns textos até que bem definidos quanto à metodologia e às idéias, mas nada de fundamental que possa reorientar os teóricos da doutrina, no sentido de perfilharem novos conceitos, para o avanço que se prevê desde os tempos dos primeiros contactos com a plêiade de espíritos que trouxeram os conhecimentos organizados por Kardec.
Nós até que tentamos reproduzir idéias mais modernas, no entanto, o que mais fazemos é adaptar o pensamento antigo às estruturas mentais dos contemporâneos, para atualização da pregação. Nada mais que isso.
Este grupo está particularmente interessado em registrar noções bem claras a respeito das responsabilidades do existir na carne, favorecendo vida mais espiritualizada ou evangelizada. É mero auxílio que procuramos assinalar em algumas páginas, onde a principal qualidade é a boa vontade com que redigimos e transmitimos.
Esperamos, com este tipo de mensagem, conseguir agasalho nas mentes dos amigos cônscios das verdades do Espiritismo, pois queremos desapegá-los um pouco mais das práticas religiosas ou morais muito próximas dos temores medievais de que se deixam impregnar no inconsciente.
Não são poucas as pessoas que incrustaram no coração as trevas e demais cambiantes da atmosfera infernal, de sorte que se prejudicam imensamente, por não se atreverem a romper com esse instável equilíbrio do toma-lá-dá-cá, que caracteriza os atos da benemerência com que se objetiva conquistar o paraíso.
Tal simplicidade de oferenda é ilusória. Enquanto os indivíduos não se conscientizarem de que o progresso depende da vigilância e da instrução, muito mais do que das tarefas rotineiras, ainda perlustrarão a face do planeta, cada vez mais conturbados, por não julgarem justo que tanto façam pelos irmãos, inutilmente.
Claro está que haverá conforto e consolação, mas o real progresso está na linha evolutiva que se estimule a seguir, cada vez mais profundamente, pois a verdadeira sabedoria se fundamenta na riqueza espiritual e esta só se alcança mediante a compreensão da realidade.
Fugir das leituras, mesmo destas em que os autores se consideram muito frágeis para a indicação dos melhores caminhos, é não dar-se as oportunidades todas de colheita dos benefícios da luz.
Sagradas são as iniciativas que visem a esclarecer as dúvidas, por meio das leituras públicas, discussões e debates, ainda que os coordenadores não consigam oferecer todas as respostas.
Alistemo-nos nas hostes da caridade e aprendamos a exercê-la também em relação a nós mesmos. Não depositemos todas as responsabilidades nas mãos dos que já entenderam mais do mundo e da vida do que nós. Desconfiemos de que tenham investido tempo e sacrifícios nas conquistas de caráter mais elevado e jamais atribuamos os progressos deles à condescendência de Deus ou à insistência de mestres melhor dotados.
Saibamos compreender a nossa parte e envidemos todos os esforços no sentido do progresso. Isto é o que nos toca, onde quer que estejamos, pois, se estivermos melhor capacitados para o entendimento da existência, trabalharemos mais harmoniosamente com os ideais espíritas e cristãos. Compenetremo-nos da necessidade do estudo e esforcemo-nos por extrair deles todo o prazer das descobertas. Lembremo-nos dos grandes navegadores e coloquemo-nos em suas peles, exultando de alegria toda vez que dermos em plagas novas, ansiosos por penetrar nos mistérios que se guardam nas profundezas.
Transformemos o ato de aprender em ponto de honra e dividamos o tempo com sabedoria, para que, mais tarde, não tenhamos a ingrata surpresa de sermos acoimados de medrosos pela consciência.
Sem medo, iremos progredir; medrosos, permaneceremos intocados para a evolução e não há nada mais triste do que ver os amigos distanciarem-se de nós, porque, antes de nós, compreenderam o sentido do evolutir, perante a Natureza e perante Deus.
Fiquemos alegres por estarmos compenetrados das verdades evidenciadas, mas não nos atemorizemos de ter de enfrentar regiões desconhecidas. Saibamos compreender a força do intelecto e a contrapartida do empenho dos instintos. Ajamos em consonância com as diretrizes evangélicas e procuremos entender o mecanismo de todas as virtudes, de sua assimilação e aplicação.
Estejamos sempre dispostos a nos agasalhar nos braços misericordiosos do Senhor, mas façamos o possível para merecê-lo.
Mengálvio.







17

JORNADA ALEGRE





Para quem não desejava escrever, até que a chegada ao posto não foi desagradável.
Tivemos percalços vários, mas soubemos contornar os problemas, dando prioridade às apreciações que fomos capazes de fazer, tendo em vista o aconselhamento do grupo de professores que se estimularam a cuidar de nós.
Dito de tal modo, poderá até parecer óbvio que para cá fomos trazido contra a vontade. A verdade, porém, é que insistimos muito em participar das glórias de uma tarde de psicografia. Eis benemerência que não pretendemos esquecer.
Fique o médium tranqüilo, porque não temos a intenção de conturbar o ambiente, ainda porque estamos totalmente dominados pelo grupo de alunos e colegas, que pretenderam fazer-nos falar, para demonstrar que nem tudo na Escolinha de Evangelização é simplesmente estudo, havendo também programação de assistência espiritual para aqueles que deixaram recentemente os leitos hospitalares, como ‚ o caso deste que lhes escreve.
Mas vamos aos fatos que nos impeliram a aceitar o convite dos irmãos. É que desejávamos, de longa data, experimentar o gosto da escrita, pois falar, através dos médiuns, já conseguíramos em várias oportunidades.
Hoje, esta experiência está sendo duplamente proveitosa, uma vez que estamos dando cumprimento ao conjunto das manifestações do Grupo da Amizade e matando a forte curiosidade que nos fascinava.
Afora isso, há pouco que acrescentar, pois os amigos já disseram tudo que lhes competia, conforme pudemos examinar no roteiro que apresentaram.
Ficamos, pois, envergonhado por ocupar tão distinto lugar, sem trazer nada de muito estimulante para os leitores. Com certeza, esta página será rapidamente virada, por ocasião da publicação, não merecendo pertencer ao conjunto, mesmo porque até qualquer nota não justificaria o absurdo de inscrever este tema, dentre tantos de tão largas aplicações.
Pedem-nos para limitar a participação a comentário a respeito da importância dos estudos, já que, na oportunidade da manifestação, nada temos para registrar.
De fato, apesar de ter tido oportunidade de freqüentar a escola na Terra, não nos animamos a respeitar as instruções dos professores, preferindo perambular ocioso pelas ruas.
Quando adulto, encontramos emprego bastante cansativo, ou assim nos parecia, de forma que, mesmo se houvesse boa vontade, ainda assim não teríamos como empenhar-nos para aprender.
Hoje em dia, ofereço sérias resistências aos ensinos, pois noto a falta de base, principalmente quando estou perante o grupo.
O escrevente intuiu que fomos muito boa pessoa, sempre pronto para auxiliar o próximo, segundo a recomendação de Jesus.
Entretanto, a ajuda que devíamos dar a nós mesmos foi esquecida no âmbito dos conhecimentos, tanto que estamos sofrendo muito para manter os verbos na primeira pessoa do plural, segundo a recomendação que nos foi feita pelo professor Otávio, como forma de autocontrole.
Queremos acrescentar que, a nível de arrependimento, até que nos sentimos frustrado, pois a hora mais dramática em que deveríamos oferecer o testemunho de incompetência está passando, pois se trata desta mesma mensagem, que vai sendo produzida com a ajuda de todo o grupo e da percepção do médium, que vai escrevendo logo o que sente chegar-lhe à consciência, para que tudo que lhe conseguimos imprimir no cérebro seja aproveitado, dando possibilidade a que o texto fique bastante longo, do mesmo modo que este parágrafo sem pontos, à moda das pessoas ignorantes, que começam a escrever e não param mais, encadeando as idéias, sem permitir que haja qualquer pausa para a respiração.
Desconfiado de que iríamos tentar prosseguir mais um pouco, o mediador, cansado do longo ditado, pôs fim ao período, colocando ponto-final onde lhe pareceu melhor.
Não vamos reclamar de nada, pois tudo está acontecendo de maneira bem superior ao que imaginávamos.
A bem da verdade, supúnhamos que iríamos só servir de cobaia para o grupo, mas estamos vendo que o sofrimento de todos só está a demonstrar que jazem jus ao nome de Grupo da Amizade.
Devemos agora agradecer a todos e abraçar o médium. A Deus, oramos com fervor, para que nos dê um pouco mais de vontade para aprender, pois está bem claro que estamos muito cru para este tipo de apresentação.
Se nossa vontade foi satisfeita, para que se evidenciassem fraqueza e ignorância, também pudemos atender à solicitação dos benfeitores, trazendo modelo inédito das conseqüências dramáticas da falta de estudo e ausência de dedicação para o desenvolvimento intelectual. Até as expressões mais comuns estão sendo assopradas pelos companheiros.
Deus lhes dê todas as bênçãos para que alcancem a merecida felicidade!
Claudomiro.




Observação



Parece-nos ter ficado claro que o amigo Claudomiro observou o que se pretendeu com sua mensagem. Eis as conseqüências funestas para aqueles que ingressam na Escolinha de Evangelização, com preparo muito elementar e deficiências acentuadas no campo do intelecto. Há que recuperar o tempo perdido e, para tanto, deverá reingressar na carne, até que tenha aprendido a controlar o desejo de permanecer ocioso perante a agitação universal.
Nos velhos tempos das dissertações didáticas (ver Estudando Espiritismo com a Equipe do Irmão Otávio), indicaríamos pontos a que os leitores deveriam dedicar-se, à guisa de exercícios de reflexão. Que cada qual busque tais temas, extraindo-os da conjuntura em que se viu metido o mensageiro.
Otávio.







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DESEJOS SATISFEITOS





Embora estivéssemos ansiado por principiar esta tarde de mensagens, não nos estimulamos suficientemente para demandar do médium esforço condizente com o tipo de trabalho a ser desenvolvido. Estamos gostando muito da forma pela qual está sendo recebido este ditado (datilografia em máquina de escrever elétrica), pois julgamos que nos fica bem mais clara a escrita. Não haveremos, contudo, de alterar substancialmente a estrutura da comunicação, tendo em vista que nos preparamos para ela com inteira responsabilidade.
Principiemos, então, o tema que nos trouxe ocupado durante as últimas semanas.


Sabidamente, este grupo tem vindo demonstrar conhecimento na área didática, assegurando-se de comunicados que visem ao desenvolvimento das virtudes, sem oferecer roteiros muito rígidos ou exercícios demasiado rigorosos. Estamos crentes de que os mortais têm mais ou menos fixas as tendências de comportamento, de forma que nos parece, às vezes, pura perda de tempo ficar a prognosticar-lhes males, em decorrência dos dúbios procedimentos. Bastam-nos as explicações a respeito de como se dão as reações, à vista das ações.
Um dos principais preconceitos contra que temos lutado é a expectativa de santidade dos amigos que trazem da espiritualidade as mensagens de orientação e carinho. Esteja claro, no espírito dos leitores, que não temos sido prejudicados por tais atitudes nem, ao menos, ficamos aborrecidos se, por acaso, são oferecidas resistências às elucidações que portamos. A vida ensinará a todos, como tem ensinado a nós.


Vamos reorientar a palestra, no sentido de torná-la mais coesa em torno de idéias melhor definidas. Sabemos que estamos com dificuldades de transmissão, quase chegando ao ponto de requisitar ao escrevente que largue a máquina de escrever, conforme a intuição está a indicar-lhe.
Muito obrigado pela tentativa!
Quando atendemos à solicitação para a escrita datilográfica, era desejo do médium que satisfazíamos. Agora que volveu a manuscrever, está atendendo a pedido nosso. Não são desejos satisfeitos, conforme se lê no título?
Pois vamos prosseguir deste ponto, para comentar as idéias que se formam nos cérebros humanos e que parecem essenciais para os desenvolvimentos dos trabalhos.


Como há choques entre os pensamentos das pessoas, crises existem para superarem-se. Se todos fossem condescendentes, a ponto de favorecer que os testes se fizessem, poder-se-ia argumentar através dos fatos, em favor da tese a prevalecer.
Que o exemplo da lhanura da atenção do escrevente possa servir para que as pessoas reflitam a respeito deste tema. Não é verdade que, se insistisse, irrefletidamente, em permanecer junto ao teclado, nos causaria transtornos difíceis de superar? Ao contrário, tendo condescendido em desligar a eletricidade e em apanhar a caneta, pôs-nos à vontade para o desenvolvimento que tínhamos preparado.
Haverão de perguntar se a idéia da datilografia partiu do escrevente. Por certo, mas foi estimulada por nós, através, inclusive, de pequeno texto, em que lhe pedíamos para prosseguir no experimento . Ainda mais méritos adquiriu, quando acedeu tão presto ao trabalho manuscrito.
Eis que, de novo, estamos rodopiando em torno de pequeno assunto, como se tudo o que escrevêssemos não tivesse outro mérito além do treinamento da equipe. Todavia, insistimos em observar que a alma carece de pequenas virtudes, dentre as quais se podem formular algumas, com fundamento nas qualidades em jogo nesta escrita.
Com um pouco de imaginação, os leitores irão descobrir a que nos referimos. Talvez não dêem importância à descoberta, mas pode ser que as reflexões subsidiem alterações de comportamento de vulto.
Por exemplo, será que lhes ocorreu a possibilidade do oferecimento de tempo para a transcrição de ditados deste teor? Ou não teriam coragem, pensando nos riscos que correriam de cair em mãos, pelo menos, inábeis?
Como vai o espírito crítico? Teriam facilidade em desenvolver tarefas para as quais se exige completa inocuidade da vontade, de forma que o resultado do trabalho só adquira valor após o término? Tornando mais fácil a frase: dar-se-iam inteiros à psicografia, sem possibilidade de reação quanto ao mérito dos dizeres, no ato mesmo da transcrição? Sujeitar-se-iam à vontade dos mensageiros, oferecendo o veículo corpóreo para este tipo de comentários?
Pois aí estão questões que nos parecem oportunas, nesta altura do desenvolvimento dos trabalhos deste Grupo da Amizade.
Por certo, não queremos traçar planos para ninguém, muito menos quando as pessoas detêm a vontade firme de só consolidar os próprios desejos. Dar canja para equipes do etéreo pode até estar programado, desde que se satisfaçam as condições da superioridade, da profundidade, da sabedoria, da originalidade e, em suma, da perfeição. Se não houver segurança de que tais tópicos vão ser observados pelos mentores espirituais, retraem-se e não se deixam envolver pelo magnetismo mediúnico.
Se a crítica estiver sendo recebida com reservas, agradeceríamos algumas reflexões no sentido do esclarecimento das dúvidas ou das certezas em contradição com nosso ponto de vista. O que jamais toleraríamos seria a indiferença, dando se a leitura só para se poder dizer que se atendeu à solicitação de amigo ou para se cumprir ritual da moda.
Sabemos que, muitas vezes, vamos longe demais nos comentários a respeito das prováveis reações dos leitores, mas, às vezes, cumprindo as próprias recomendações, devemos correr os riscos de perdas, para ganhos substanciais junto a leitores mais efetivos. Os que debilitam a leitura, não se deixariam envolver, de qualquer forma, por texto algum, por mais veemente possa ser.
Exagerando um pouco os riscos, poderíamos dizer até que as leitoras dos romances estão perfeitamente enquadradas no tipo acima descrito, pois só estão em busca de emoções baratas, aspectos sentimentais que respeitem as próprias experiências, no campo das fantasias improdutivas.
Começamos o texto de forma muito devagar no campo do ideário espírita e estamos encerrando de forma contundente, oferecendo asperezas conceituais pouco encontradiças neste tipo de comunicação. Para os que se desgostaram da leitura, pedimos paciência e compreensão. Procurem guardar os argumentos na memória, para possíveis confrontações de idéias quando estiverem vis-à-vis com os mestres das escolas do etéreo. Quem sabe aí a sua importância se revelará, de forma utilíssima para a aprendizagem dos temas de pureza espiritual superior.
Saibamos, de qualquer forma, conformar-nos com a singeleza das apreciações dos mais cordatos, mas não nos deixemos facilmente arrepiar pelos dizeres que trazem no bojo pontiagudos acicates, para espetar-nos os raciocínios e os sentimentos.
Se obtivermos sucesso junto aos editores, talvez esta manifestação ganhe leitores inesperados. Rezemos para que tal ocorra em proveito de todos. Entretanto, se for para tornar revoltados os amigos, então, não fazemos questão que se perca esta página, crestada no fogo do esquecimento.
Valha-nos Deus para nossos empreendimentos de amor! Que os desejos do Pai se satisfaçam sempre, para o estabelecimento definitivo da verdade em todas as mentes e corações!
Honorato.







19

PRECE E VERDADE





Na hora da prece, todo ser deve prestar-se à reverência ao Senhor. Não quererá isso dizer que as palavras devam ser as mais apropriadas, nem as figuras de linguagem, as mais felizes. Deus não quer que se elaborem peças de sentido literário, mas moral. Quem tiver facilidade orientará as orações com a terminologia mais adequada para a expressão dos sentimentos. Entretanto, todos deverão deixar impregnados nas composições os anseios mais profundos, em consonância, evidentemente, com os princípios evangélicos da pregação de Jesus.
Não desejamos, todavia, exprimir qualquer veleidade de conhecer o arbítrio divino. Quando dizemos: "Deus não quer..." ou "Deus quer...", só estamos referindo-nos aos conhecimentos que adquirimos das leis e demais mensagens de caráter superior, a nós trazidas pelos espíritos mais evoluídos e registradas no saber tradicional das populações.
A concepção divina, contudo, preservamos como o mais puro dentre todos os pensamentos, de forma que, se Deus é perfeito, como prescrevem as religiões, deverá existir pleno de verdade. Como iremos dirigir-nos, então, ao Criador, se não estivermos impregnados dela?
Restará conceituar de modo irretorquível esse conhecimento moral de caráter elevado. O que é a verdade? Verdade é a realidade existencial mais profunda, aquela de que se enche o Espírito do Pai. Amor e Verdade se confundem no Absoluto, de sorte que exprimir pensamentos verdadeiros é expor os mistérios da alma ao Senhor.
E não haveria esconder, dado que o conhecimento de Deus é total. Dizer as preces, pois, em verdade, e repetir o que o Pai já sabe, na perfeição da excelsitude do Ser.
Temos consciência de nossas inferioridades? Mesmo que não tenhamos de forma completamente clara, só o fato de sabermos que Deus conhece todas as mazelas de nossa atual postura existencial já nos propiciará condições de conduzir os peditórios sem hipocrisia, sem malícia, sem mentira. Se tentarmos evitar a exposição da verdade do que somos, iremos obrar em falso, oferecendo textos talvez até muito razoáveis, mas que não condizem com as intenções. Às maldades anteriores, estaremos acrescentando mais uma, além de, absolutamente, não estarmos orando verdadeiramente, plenamente, harmoniosamente.
Queremos pedir aos amigos que confirmem a anuência aos postulados referidos, oferecendo breve rogativa ao Pai, em função dos males que se concretizam no Planeta. Na prece improvisada, deverão pensar nos fatos mais terríveis que tenham presenciado, de sorte a proporcionar ajuda energética de profundo valor positivo àqueles que foram os focos, conscientes ou não, das amarguras dos demais. Dessa forma, será preciso afastar qualquer sombra de ódio ou desejo de vingança. Será possível atender a esse pedido?
Caso os leitores tenham conseguido dizer alguma oração bem emocionada, pode contar que nos atraíram para o seu lado, de modo que, a partir de agora, a leitura estará sendo acompanhada de perto por algum representante do grupo. É hora, pois, de conjugarmos os pensamentos, no sentido do agradecimento de todos os benefícios recebidos do Senhor.

Pai de amor infinito, preservai-nos do mal, atendendo aos reclamos das almas em aflição. Dai, Senhor, a todos os que sofrem o poder de elevar, em preces verdadeiras, suas rogativas, para que possam confortar-se com vossa paz e vossa misericórdia. Saciai-os da verdade, para que tenham o condão de conhecer o carma como resultante das ações e reações aos próprios atos. E orientai-os nas sendas do bem, para que não mais lhes faleçam as forças diante da necessidade do sacrifício. Pai de amor infinito, preservai-nos de todo mal. Amém.

Como não somos capazes de elaborar preces de magnificência transcendental, sabendo que Deus é onisciente, onipresente e onipotente, deixamos de registrar diretamente os temores que nos assaltam, mediante a formulação dos juízos que possamos realizar a respeito dos semelhantes. Evitaremos sempre acusá-los do que quer que seja, pois sabemos que a cada um será dado segundo as suas obras. Sendo assim, se houver o reerguimento dos maldosos, o mal será extinto.
Haverá, em nosso raciocínio, alguma falácia, algum duplo sentido, alguma armadilha, para que possamos prevalecer, caso sejamos atendidos pelo Senhor? Só se não admitirmos a falência que se verificará a partir de tal deslealdade. Desta forma, desconsideremos possível arrogância e rojemo-nos ao solo, no pedido de perdão pelos erros. Também aí haverá sentido na solicitação do afastamento do mal.
Elaboramos em erro? Mantenhamos firme o desejo de melhorar. Somos um dos que agem em desacordo com os mandamentos divinos? Cerremos fileiras em torno dos ideais cristãos, trabalhando o mais humildemente possível pelos irmãos inferiorizados pela sociedade e pelos atributos pessoais.
Se agirmos prudentemente, expressaremos a verdade do ser e receberemos oportuna ajuda, nos limites mesmos das necessidades. Confiemos em que Deus é pai de misericórdia e lhe depositemos na mão as almas, impuras que estejam, mas ansiosas pela perfeição.
Camilo.







20

SOL NOS CORAÇÕES





Não temos traquejo em efetuar ditados, apesar de inscritos na turma do Professor Otávio. É que desejamos ardentemente aprender a contribuir para o enriquecimento do acervo psicográfico do irmão médium, sendo esta uma das formas mais rápidas de fazê-lo. Agora que aqui estamos, vamos percebendo que o trabalho é dos mais simples, dada a participação e a colaboração do grupo.
Queremos enfatizar o fato para que se não pense que todos os alunos conseguem absoluto sucesso; é que, chegada a hora, têm, artificialmente, a alma serenada pelos fluxos de radiação energética dos companheiros, a ponto de manipularem com real eficiência o aparelhamento mediúnico.
Para que a tarefa, contudo, não desande, há o médium que manter elevado o contexto de captação, energizando-se positivamente nas preces e dedicando-se à função alheado dos problemas pessoais. Muitas vezes, até tal aspecto se converte em fator favorável, pois os mentores desagregam da mente do amigo as condições de infelicidade, permitindo-se ampararem-no, mediante o desenvolvimento dos tópicos concernentes às aflições.
Não teria sentido este discurso, se não propuséssemos aos leitores que estejam atentos aos princípios da elaboração dos textos e de sua apresentação por meios magnético-espirituais. Se se derem de coração ao trabalho, capacitar-se-ão ao recebimento das comunicações com o máximo de tranqüilidade.
À nossa chegada, haverão de sentir alguns estremecimentos naturais, pois há toda uma emoção a superar-se, até que haja naturalidade na postura da mediunização. Com o treinamento, os espíritos vão colocando-se mais à vontade, de forma que, se houver uma única equipe protetora, a produção se avantajará em pouco tempo.
Nosso mediador, até o presente instante, se ressente de certa ansiedade, pois teme a possibilidade de fracasso, já que os grupos vão revezando-se e os temas repetindo-se. Apesar de o estilo variar bastante, o rol dos assuntos não há fugir dos tradicionais, da mesma forma que os esquemas lingüísticos não poderão sofrer significativas alterações, já que se trabalha sempre no mesmo sentido.
Estamos prevenindo, para que os amigos não fiquem aborrecidos com o fato de só alcançarem dissertações muito semelhantes. Com o tempo, haverão de aperfeiçoar-se, devendo, para isso, auxiliar o ritmo evolutivo, através de sérias leituras, onde os temas tratados possam apresentar-se com formulações diversas e a taxionomia não se monotonize.
Queremos agradecer ao irmão escrevente a bondade da sugestão do título, pois cada pequenino mensageiro da turma sente banhado o coração pelo sol da sabedoria, quando se encontra junto a esta mesa.
Esta mensagem não tem por que ser longa, uma vez que buscamos resumir a temática, evitando as exemplificações exaustivas. Se tivéssemos o dom da prolixidade, iríamos abeberar-nos nas Escrituras Sagradas ou nas obras de Kardec, para a fatídica erudição de quem se esmera em profligar os irmãos quanto à necessidade de se superarem as inferioridades. Limitemo-nos a reler o texto Prece e Verdade, para assenhorearmo-nos definitivamente dos conceitos ali exarados.
Quanto a nós, sentimo-nos muito felizes, quase dissemos resplandecentes, pelo fato de termos merecido tanta atenção.
Se as considerações tiverem o dom de atingir o coração dos confrades, exerçam a caridade em relação aos amigos do etéreo, favorecendo-lhes, da mesma forma que ocorreu comigo, a oportunidade de exporem os pensamentos, os quais, embora frágeis e muitas vezes desconexos, irão possibilitar-lhes a crítica do público especializado constituído dos mestres da Escolinha de Evangelização e dos leitores mais sábios ou, o que também é muito importante, o exame das reações mais diversas, no sentido de captarem os pontos positivos, para aperfeiçoamento, ou negativos, para eliminação.
Que a serenidade desta tarde amena de outono possa refletir-se nesta mensagem, enchendo os corações de esperança e luz, nas promessas que se farão de amor ao próximo, segundo a orientação sublime do Cristo.
Oremos um pai-nosso com muita devoção e agradeçamos, em silêncio, a ventura desta existência de realizações.
Rodrigues.




Observação



Claro está que o intento de dar o máximo de monotonia ao texto foi conseguido, em grande parte. Pretendemos com isso fazer com que os amigos consigam desprender-se das pressões corpóreas, adquirindo vigor evangelizado, pela reflexão a respeito das diretrizes das tarefas socorristas ou caritativas. Se os amigos se deixarem dominar por certa letargia ou dormência mental, aproveitem-se desse estado de meio hipnotismo ou meio sonambulismo para perpetrar reflexões positivas, no campo das decisões a respeito dos padrões a serem assimilados, para o devido oferecimento à mediunidade de sua capacidade motora. Isto quererá, necessariamente, dizer que a sonolência irá constituir-se em dom do Senhor, para que o magnetismo dos grupos de protetores se coadune com a faixa de ondas dos amigos em vias da prestação do serviço apostólico do mediunato.
Teremos exagerado nas pretensões?
O mesmo.







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EXPERIÊNCIA DIVINA





Quem haverá no mundo que não deseje encontrar-se frente a frente com o Criador de todas as coisas? Até os seres que consideramos os mais desqualificados têm tal nível de aspiração, conquanto não admitam a remota possibilidade do fato. É que algo nos acusa a todos nós de impureza ou imperfeição. Entretanto, queiramos ou não, estamos caminhando, imperturbavelmente, nessa direção, ou seja, da aquisição das condições ideais para o definitivo encontro com o Pai.
Atualmente, muitas pessoas de profundo misticismo crêem que, todo dia, se põem perante Deus, mesmo que seja unilateralmente, pois não sabem testemunhar a presença dele, senão pela íntima impressão de que algo muito forte ou poderoso esteja realizando a experiência suprema.
Nós não estamos falando desses fugazes pensamentos de plenitude existencial, os quais são mais ou menos vivenciados pela grande maioria da humanidade. Quando estamos referindo-nos à experiência divina, queremos dizer daquele esplendoroso momento que se transformará em eternidade, do qual não haverá mais retorno, dada a profunda, a real, a verdadeira transformação que se fará, no âmago existencial do ser que somos, dando-nos a condição de entidade integrada no seio do Criador, para a assunção do absoluto.
Muitos, sabemos bem, não aceitam a tese ora desenvolvida, por estimarem que Kardec, sob inspiração dos mentores espirituais, afirmou que não há perda da individualidade. Não queremos penetrar profundamente nessa argumentação, pois não estamos incitando qualquer rebeldia perante o augusto codificador. O que desejávamos trazer à consideração dos leitores é o fato de que, se Deus nos chamar para junto de si, não seremos nós quem estipulará condições. Se ao Pai parecer melhor conduzir-nos ao seu regaço de amor, perenemente, teríamos o que objetar?
Pensem nisso com muita atenção, pois a nós nos parece fundamental para a seqüência das atividades, dos atos, dos procedimentos que determinaremos como prioritários, para a superior realização do existir, como fato intrinsecamente fundamentado na lei de evolução.
Se julgarem, contra a expectativa desta turma, que haverá perda nesse divino chamamento, ajam de conformidade com o pensamento maior que Jesus nos colocou para roteiro de vida: o amor a Deus e ao próximo, incluindo entre os semelhantes até os inimigos.
Se, ao contrário, alimentarmos o desejo de prosseguir no caminho ascendente do aperfeiçoamento integral, façamos da pregação cristã o nosso norte, a nossa divisa, o nosso lema, pois não haverá progredir ininterruptamente, sem a ascensão coletiva do grupo de que fazemos parte, pois a nossa responsabilidade é transformar todos os sentimentos em pureza de amor, o que inclui, além da premissa de amar, a ação do amor como ato de total participação existencial.
Caso fôssemos todos nós, espíritos e encarnados, dotados da excepcional condição da angelitude, por certo não estaríamos preocupados com esta fase incipiente da tomada das primeiras decisões morais. É por isso que vagamos erráticos sobre a face deste globo de dores e expiações. Façamo-lo, contudo, com toda a dignidade evangélica que nos for possível, pois a hora é chegada de nos enfronharmos nos mistérios da encarnação, como roteiro para a aquisição dos bens morais ou virtudes em falta.
Façamos de cada pequenino ganho, nesse setor, divina experiência, que começaremos, desde já, a antegozar os prazeres do absoluto, ainda que a natureza de nosso ser constantemente esteja a nos lembrar a temporalidade dos eventos terrestres. Aos poucos, iremos conquistando o cerne da sabedoria possível para nossa mentalidade, ao mesmo tempo em que iremos controlando as reações emotivas ou sentimentais, tornando-as, sem a frieza dos enfatuados, dons de nós mesmos, condição primeira estipulada há milênios pela filosofia, ou seja, o conhecimento que deveremos tornar inexorável de nós mesmos.
Tememos pela redação destas mensagens tão desproporcionais quanto à temática discutida. Entretanto, solicitamos a todos que exerçam pleno domínio dos textos, buscando amarrá-los com a corda da boa vontade, em laços apertados de paciência e resignação. Façamo-lo por amor do socorrismo ativo que principia, justamente, na caridade da compreensão que devemos ter em relação a todos.
Aceitem a rogativa e mantenham-se silenciosos, mesmo que por alguns instantes, tentando concretizar mais uma experiência sob o amparo, sob a luz, sob a proteção do Pai.
Ronald.







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SANTOS TEMORES





Temos, freqüentemente, topado com obras espíritas bem intencionadas, mas que, gravemente, pecam contra a doutrina, ao incitarem para a superstição e a irreflexão.
Modelos claríssimos dessa falsidade de postura se encontram em diversas obras de interpretação, que se apresentam desejosas de esmiuçar os detalhes, para transformar os dizeres, didaticamente, em quadros mais fáceis de compreensão. O resultado é o reflexo do pensamento dos exegetas, que não entenderam convenientemente a mensagem original e, por isso mesmo, não conseguem elucidar a contento os pontos que se dispuseram a esclarecer.
Planificam cidades, projetam mundos, penetram na intimidade do Umbral, sobem a planetas de bem-aventurança, em suma, voltam a atenção para o retrato três por quatro de imensos painéis existenciais, sem se darem conta de que muitos elementos essenciais se perdem nessa pseudotradução para as mentes consideradas atrasadas dos pobres mortais.
Não vamos tentar estabelecer critérios para a análise das causas de tais investidas. O que desejamos é vir à presença dos encarnados para a prudência de oportuno aviso, no sentido de que não se dê curso às superstições. O mais que podemos dizer é que se leiam com atenção as obras originais, deixando as divagações dos comentadores para mais tarde, quando estiverem definidos a respeito das próprias dúvidas, tendo ainda o cuidado de não aceitarem peremptoriamente todos os dizeres, só porque se encontram em letra de forma.
Quando se trata de ler as mensagens dos desencarnados, Kardec definiu as prevenções que se devem ter, para o desestímulo das pregações hipócritas. No que concerne, contudo, à voz dos vivos, não há roteiro estabelecido, precisando nós de utilizar de bom senso e paciência para o cotejo das diferentes passagens, para não sermos iludidos em matérias fundamentais.
Caso desconfiemos de que esteja havendo erro interpretativo, sem, todavia, reunirmos condições de averiguação da verdade, é preferível sábia atitude de resguardo emotivo-intelectual, não embarcando desde logo na mesma perigosa travessia.
Deveremos prosseguir lendo Kardec, à exaustão, e, mesmo aí, buscar compreender o que lhe foi ditado pelo plano espiritual responsável pela Codificação, eliminando certos trechos de cunho pessoal, absolutamente faltos de controle daquelas entidades.
Admirar-se-ão os amigos:
— Quer dizer que Kardec não é totalmente confiável?!...
Não seremos nós quem irá levantar dúvidas quanto às informações constantes das diferentes obras, mas deveremos alertar para certas posturas do Mestre eivadas dos preconceitos da época, quer no que respeita à superioridade presumida da civilização do século XIX, quer no que se refere às preferências raciais, dado que a escravatura vigia e precisava apoiar-se na mentalidade dos homens.
Que se deveria dizer mediante a assertiva de que "jamais um negro entrará na Academia"? Pois a frase consta de artigo publicado na Revista Espírita e deixa bem claro que o Codificador não estimava a possibilidade de todas as raças abrigarem espíritos adiantados.
Eis que estamos extrapolando até os temores santos do próprio Kardec, aplicando a seus textos as mesmas precauções que recomendava em relação a todas as publicações de caráter espírita, prevenção que desenvolveu a respeito dos textos bíblicos do Velho e do Novo Testamento.
Que os leitores não se percam pelo alerta que estamos lançando, tentando ver nestas palavras a condenação do Espiritismo ou a maliciosa insinuação de que não devamos adotar a doutrina por Kardec codificada, como norma superior de vida.
Se é verdade que iremos encontrar inúmeras dificuldades para a compreensão de todos os quesitos para o indefectível progresso, no sentido do aperfeiçoamento espiritual, também não podemos deixar passar todos os fatos como puríssimos, imaculados, verdadeiros e absolutos.
As palavras refletem o pensar de cada indivíduo, mas não são suficientemente aptas para declarar-lhes plenamente as intenções. Algumas vezes, a voz áspera e rouca está carregada de sublimes sentimentos, e isto precisamos reconhecer. Outras vezes, a melodia parece-nos celestial, mas ali está para nos embotar a razão, impedindo-nos o livre exercício do raciocinar, e isto também precisamos saber reconhecer.
Vamos, então, colocar todos os textos sob o escrínio da mais lúcida inteligência, para não sermos levados a defender pensamentos eivados de falhas, de preconceitos, de superstições. Em absoluto caso de impossibilidade de reconhecimento dos pontos negros da hipocrisia, do erro, do vício, do engodo, do enleio e da malícia, recolhamo-nos em oração, para que possamos vir a ser inspirados pelos bons amigos da espiritualidade.
Deus é pai de misericórdia e saberá destinar a nós o mensageiro mais apto para deslindar-nos todas as dúvidas. Basta que nos manifestemos humildes e plenos de boa vontade.
Atanásio.







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UMA COISA DE CADA VEZ





Muitos amigos do plano carnal desejam, de pronto, obter dos espíritos todas as informações a respeito da vida e da morte. Têm a sutil tendência do grandioso, pois se julgam bastante bem equipados intelectualmente, para a abstração da filosofia e dos pensamentos místicos.
São, assim, os que dominam os temas espiritistas da Codificação, uma vez que se deixaram envolver pelo misterioso halo de luz emanado da sabedoria superior. Com isso, adquirem certa voracidade de conhecimentos, absorvendo, indiscriminadamente, a todos, esquecidos somente de que os amigos da espiritualidade nada mais são que companheiros das mesmas agruras e sofrimentos.
Desejar saber, portanto, é bem de superior quilate, mas não se pode exigir dos demais que forneçam todas as diretrizes da verdade, pobres seres que todos somos, caminhando de mãos dadas, dentro do mesmo reino de ignorância e de ansiedade, pelas graças do Senhor.
Quem está em condições de perguntar deveria ir adquirindo a confiança em responder, tornando-se mestres dos mais frágeis e dos mais novos. Uma coisa de cada vez é o que se requer para o aprendizado maior dos caminhos que conduzem à suprema felicidade.
Quisemos enveredar por este tema tão banal, por termos presenciado certas discussões entre as pessoas, no sentido de se apurar o quanto de sabedoria se pode conseguir por meio das mensagens provindas do plano da espiritualidade. Embora houvesse discordância na concepção de alguns tópicos circunstanciais, compunham-se nos pontos básicos, estimando que as verdades mais profundas estariam impedidas para as comunicações, limitando-se a atuação dos protetores em aconselhar moralmente e em prevenir espiritualmente, impelindo os seres a realizarem o que se consignou em seus destinos carnais. Quanto aos aspectos mais profundos da doutrina, tudo estaria devidamente registrado por Kardec.
Houve quem lembrasse a inspiração dos matemáticos, físicos e demais cientistas, para quem haveria a possibilidade do recebimento de idéias relativas aos seus campos de interesse. Chegou-se a dar o exemplo de alguns médiuns incapazes de apanhar ditados técnicos, onde se poderiam ler teoremas incompreensíveis para as mentes dos mediadores, a tal ponto que lhes seria vedada a retransmissão fidedigna.
Lembraram certos escritos mediúnicos no âmbito da xenoglossia, nos quais médiuns registraram longos trechos em idiomas que lhes eram desconhecidos por completo. Neste caso, insistiram no ponto principal segundo seu parecer, que consistiria em recurso valiosíssimo para a demonstração da existência dos mecanismos da mediunidade, embora os conceitos expressos, seja em que língua for, pertencerão sempre a uma ordem inferior de pensamentos.
Quem reconheceu a importância dos médiuns deu-lhes o papel de instrumentos nas mãos dos operadores espirituais, de forma que as instruções interessariam, sobretudo, aos melhor dotados de inteligência e cultura. A humanidade receberia, assim, importantes comunicações, nada, entretanto, que contivesse a Verdade do Pai, tal qual será preciso conhecer, para que se possa ingressar em seu reino.
Conhecemos as diferentes teses dos mais doutos no campo do Espiritismo aplicado em sistema pelo movimento organizado aos moldes das recomendações kardecistas e julgamos que são de muita prudência e sabedoria. Entretanto, o medo de que se percam alguns neófitos, pelo impacto das mensagens mais categóricas ou importunas, tem impedido que muitos mensageiros do Alto transfiram suas vibrações de amor em roteiros mais profundos para a aquisição daqueles conhecimentos que se lhes imputam de impossíveis de transmitir.
Nesta altura da exposição, parece ter ficado bem claro que defendemos a tese da possibilidade da informação mais categorizada, bem como estamos levantando a hipótese da inutilidade das transmissões para pessoas que somente se dizem necessitadas da verdade, mas que, no fundo, temem recebê-las, à vista das experiências frustradas no campo do entendimento, especialmente porque não foram capazes de decifrar a contento o que se contém em determinadas manifestações espirituais de caráter superior e que já se encontram editadas, ao alcance do público.
Se dissermos que não se esforçaram para compreender o teor dos pensamentos filosófico-doutrinais ali impregnados, iremos cometer séria injustiça. Há mesmo quem se tenha dedicado com afinco para o entendimento integral de todas as passagens. Isto é irretorquível.
O que desejamos apontar é a falta de encadeamento lógico, a partir dos conhecimentos codificados, de forma a se estabelecer unidade doutrinária. Como há pontos aparentemente conflitantes com o desenvolvimento de Kardec, preferem aceitar cegamente a palavra do Mestre Lionês, temendo, de forma absurdamente supersticiosa, que qualquer infiltração de teorias contrárias possa oferecer o perigo das trevas eternas, por meio da terrível excomunhão do seio da comunidade espírita.
Se estamos insistindo neste ponto, não será, certamente, por estarmos querendo trazer aspectos novos da doutrina. Não temos pretensões nem autorização dos setores encarregados da orientação planetária. Mas nos cabe, conforme aceito por todos os espíritos, a advertência oportuna, para que as pessoas se sintam seguras, até mesmo quando livremente debatem a possibilidade de ter Kardec oferecido conceitos equivocados.
Mas vamos por partes, uma coisa de cada vez, pois, se não tivermos integral conhecimento dos tópicos essenciais da Codificação, não haverá por que tentar enfronhar-nos nos misteriosos conceitos das comunicações mediúnicas mais atuais. Por outro lado, se temos firmeza no campo doutrinário, por que não enfrentarmos o duro labor da decifração de todos os conceitos modernos?
Praticamos o bem? Exercemos a caridade? Amamos o próximo? Oramos com fervor pela proteção dos que sofrem? Então, com denodo e boa vontade, vamos dar aos mensageiros do etéreo condições de apreciarem a existência de seu ponto de vista, livremente, para que possam realizar as comunicações que parecem vedadas para a compreensão humana. Aí poderemos avaliar realmente o quanto de ajuda é possível receber da espiritualidade, no que respeita aos conhecimentos mais profundos da Verdade.
Perdoem-nos os mais evoluídos que praticam o espírito libertário que reclamamos. Unam-se a nós nesta proclamação de interesse universal, para que todos possamos, um dia, reunir-nos sob o sacratíssimo manto do Pai.
Octacílio.







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FÓRMULAS





Para muitas mentes humanas, deveriam os espíritos condensar toda a sabedoria em termos inteligíveis universalmente, como na linguagem pictórica, musical ou lógica. Temos visto artistas voltarem às suas técnicas, auxiliados pelos recursos de médiuns mais ou menos aptos para o manuseio dos pincéis, das tintas, do teclado ou do buril e do cinzel. Não são poucas, também, as peças musicais inspiradas pelo etéreo, muitas das quais assinadas por renomados compositores.
Precisamos dizer que, tal qual o que ocorre com os versos e a prosa, também as outras formulações são relegadas a segundo plano, apontando os humanos, defeitos na elaboração, desconfiando até da autoria declarada, buscando acusar espíritos de mais baixa categoria ou os médiuns pela inferioridade das produções? Não é verdade que nós mesmos, muitas vezes, não gostamos de textos claríssimos, porque não contêm o selo da originalidade, parecendo-nos que as lições espíritas se repetem de maneira insossa?
Pois aí vai inusitada formulação matemática a ser aplicada no dia-a-dia das pessoas:


Vamos explicar, legendando, para o efeito da compreensão intelectual:
E é o Espiritismo, tido como procedimento evangelizado e superior de vida. C é a base moral sobre a qual repousa a insigne doutrina kardequiana, ou seja, a Caridade. Como a caridade não se exerce sem a ajuda do sentimento superior propugnado por Jesus, ela deve multiplicar-se por A, isto é, pelo Amor, potenciado pela tendência de  a n, quer dizer, amor que progredirá indefinidamente, até a perfeição. Mas o Espiritismo não poderia situar-se no plano metafísico das conveniências pessoais, por isso a caridade, multiplicada pelo amor, deve dividir-se por S, letra símbolo da soma, que, para nós, indicará o conjunto dos Semelhantes, conforme a requisição evangélica.
Explicitamente, diremos que o verdadeiro Espiritismo nada mais é do que a dedicação dos indivíduos aos semelhantes, com quem repartirá todo o amor, por efeito da caridade de que se deixou dominar, como norma superior de conduta moral.
Mas isto, hão de dizer, é bem pouco, pois o Espiritismo é filosofia adstrita ao terreno das realizações, no âmbito das esferas onde a dor e a expiação dão o tônus existencial.
Não iremos, contudo, abandonar a rica fórmula, mas introduziremos pequena alteração, para que abarque a maior lei, qual seja a da evolução. Para tanto, substituiremos, simplesmente, o elemento ou fator E (Espiritismo) por e (evolução) e teremos, naturalmente, o que se espera de cada ser particular e do todo universal:


Não haveremos de ser muito percucientes para entender que, se o amor tende ao infinito, em busca da perfeição, impregnará cada termo da fórmula, acabando por termos de registrar:


Para quem não se contenta com palavras, reduzimos tudo a simples expressão "numérica". Se quiserem tornar mais "física" a interpretação da mensagem, basta entenderem a caridade como fluxo energético condensado, com vetor direcionado do âmago da alma para o exterior; amor é o mesmo fluxo a se alimentar perenemente, por força da assimilação das vibrações correspondentes propulsionadas pelos demais seres em conjugação ou afinidade de anseios; semelhante passa a ser aquele enfeixe luminoso de mesma extensão de onda que a nossa, sendo, portanto, o reconhecimento de que criatura e Criador se encontram na obra universal de Deus. Conseguir reunir tais condições será propiciar ao "ambiente" cósmico ou campo energético a faculdade do aperfeiçoamento, pela proposta do crescimento intérmino das "qualidades" ou "virtudes", dado que todo material interferente vai quedando de lado ou sendo integrado ao conjunto.
Não será mais fácil, simplesmente, compreender o que nos propôs Jesus, ou seja, o amor ao Pai e aos semelhantes, deduzindo todas as "necessidades" decorrentes da aplicação axiomática da lei maior?
Em suma, para não avançarmos muito nas considerações, digamos que


onde a tendência para n está realizada e D é a configuração matemática da Divindade, do Criador, ou seja, de Deus.
Perdoem-nos o atrevimento da lição e fiquem em paz, nas mãos do Pai.
Oremos sempre para que tudo possa resolver-se de modo tão claro, como a propositura que fizemos hoje. Ou não terá sido bem assim?
Octacílio.







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NÚMEROS





Esperamos, é certo, muitas críticas à mensagem precedente (Fórmulas), não só pela simplificação dos esquemas, como ainda a respeito das pseudo-interpretações científicas ali dispostas.
A pergunta que se fará, de imediato, remeterá ao exame das figuras, para a descoberta de onde quedou a outra asa do amigo, uma vez que só ao sentimento, aparentemente, se deu importância. No entanto, a necessidade do conhecimento, tal como no ensino de Jesus, está implícita, quando afirmamos que o amor deverá tender para a perfeição. Como seria desenvolver as emoções, as intuições, a sensibilidade, ao nível superior, sem se dedicar à compreensão dos valores, sem atingir a sabedoria?
Fica, assim, esperamos, respondida a primeira questão.
Sabemos da oportuna representação contra as fórmulas, que mais fazem atrapalhar. Mas pensamos que, memorizada a figura "numérica" ou a "equação" espírita, a transposição para a área existencial, conforme a lei de evolução, se torna bem mais atraente, não havendo, contudo, necessidade de se buscar, desde logo, o relativismo intelectivo, segundo a percepção que se possa adquirir do universo como essência "quântica".
Eis que os conceitos se complicam, de acordo com a complexidade inerente às propriedades da "matéria". Imagine-se o quanto se pode intricar ainda mais, se tivermos de nos aprofundar no conhecimento do "espírito", ou da "matéria" cósmica universal ou fluido energético transexistencial.
Estamos fazendo questão de colocar alguns aspectos menos inteligíveis para a maior parte da humanidade, para demonstrar o quanto seria impraticável que anjos possuidores de conhecimentos superiores viessem trazer teorias incompreensíveis, para a mente humana tão fortemente arraigada nas necessidades corpóreas. Por isso é que se prefere influenciar diretamente sobre o pensamento dos melhor dotados ou mais preocupados filosoficamente em deslindar a verdade última da existência, quer como realização no campo dos fluxos energéticos, quer como conceituação para o entendimento das leis, como produtos perfeitos da inteligência incorrupta do Criador.

Sofremos bastante com a tradução dos pensamentos, pois julgamos que, quaisquer fossem as expressões utilizadas pelo mediador, jamais conseguiríamos explanar de modo didático, a ponto de transformar em miúdos cada pequenina idéia, em função do esclarecimento de todos. Deixemos assim, pois, por injunção das dificuldades temáticas.


Fomos adiante nos números, pensando ser do agrado dos leitores e expressamos outra metáfora, reduzindo a mero esquema, para maior facilidade mnemotécnica:



Cremos que muitos refutarão a possibilidade de algo igualar-se ao conceito humano de Deus. Haverá fortes resistências, principalmente por haver Kardec colocado em O Livro dos Espíritos (ver questão de número oitenta e três e comentários finais ao capítulo II; ver ainda o capítulo XI de A Gênese, os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo), a sugestão de que os espíritos mantêm a individualidade, por mais perfeitos venham a constituir-se, mercê da aplicação infinita da lei de evolução.
Tradicionalmente, a maior aspiração das criaturas é enxergar a face do Criador. Isto está em todas as literaturas. Mas tal visão, segundo os mitos mais importantes, reduz as possibilidades de os seres voltarem a conviver com os demais, dada a paralisação que se observa nas funções de relacionamento. A mais simples descrição torna cego aquele que olhou para o Pai.
Para nós, muito imperfeitos na compreensão de tão elevados temas, quer parecer-nos que as lendas e demais manifestações da alma humana simbolizam tão-só o aspecto da ansiedade da criatura e, por isso, lhe mantêm o ponto de vista. É a perspectiva humana que se retrata.
Da mesma forma, as manifestações mediúnicas, por mais poderosas e abrangentes sejam, também colocam a visão de Deus sob a ótica das criaturas.
Não queremos discutir se tal iniciativa está certa ou errada. O que pretendemos é, sem ofensa aos princípios estabelecidos por fé inabalável, por convicção irremovível, firmar que outro pode ser o ponto de vista do Pai, cuja percepção todos nós estamos impedidos de conhecer, por força de não sermos perfeitos.
Que fazer? Progredir o mais que se puder, no sentido da aquisição de todas as virtudes, o que gerará obras de benemerência, a serem sopesadas na balança da justiça, em favor do crescimento espiritual. E aguardar, pacientemente, que a visão do universo vá acrescendo-se das verdades intuídas e dos conhecimentos testados e comprovados, perpassando, incessantemente, por todas as esferas superiores, até chegarmos a reconhecer que a tendência evolutiva está bem próxima da perfeição. Aí será colocar a vontade nas mãos do Pai, para que, segundo a prece imortal de Jesus, prevaleça a vontade dele.
Eis a serenidade com que gostaríamos que fossem discutidas as nossas idéias, da mesma forma que se analisam os algarismos que se organizam em números, nas racionais e frias equações matemáticas. Lançar anátema contra quem ousa apontar a possibilidade de falhas nos escritos da Codificação não será o mesmo que excomungar o católico que ousou desafiar os dogmas?
Ergamos preces de amor ao Pai e roguemos que nos ampare em todos os momentos da existência. O mais é trabalhar com afinco para a elucidação das verdades, o que só ocorrerá quando nos dispusermos a usar de franqueza para conosco, levantando as dúvidas que insistimos em dissimular através da afirmação da fé em que tudo o que a doutrina diz deva, axiomaticamente, estar correto. E auxiliar os irmãos, informando-os desses mesmos titubeios, mostrando-nos a eles como de fato somos: imperfeitos e carentes de conhecimentos.
Resistamos à tentação da fácil assertiva de que a capacidade é diminuta. Sabendo-nos em evolução, não há estacionar, por mais conscientes estejamos de todas as leis e ensinos de Kardec e de Jesus.
Respeitosamente,
Octacílio.







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PATRIMÔNIOS





Constituem patrimônio da humanidade todos os conhecimentos assentes sobre diretrizes evangélicas. Assim, se tivermos a capacidade tecnológica de confeccionar artefatos de guerra, não podemos considerá-los patrimônio nosso. Pertencem ao arsenal das armadilhas que impedem o livre avançar no campo evolutivo espiritual.
Tal raciocínio deve ser estendido para todos os setores.
Só mais um exemplo. Temos visto que os processos da captação das imagens conjugadas aos sons a distância têm conseguido esplêndido desenvolvimento. Isto, porém, só poderá ser considerado espiritualmente plausível, se servir para que a humanidade progrida. Empregar a televisão para a difusão das perversidades, com intuitos hipócritas de domínio da população, mascarando os ideais perniciosos com argumentos da mais irrepreensível beleza, não terá qualquer avanço significativo na aquisição das virtudes prescritas por Jesus para quem ousa pensar em estar com o Pai um dia.
Eis que revelamos poderoso prisma para o exame dos eventos técnicos, qual seja, o de que o caminhar da moral é que deve prescrever a necessidade deles. E não basta formular teorias de que a moral é relativa aos usos e costumes, variando de povo para povo. A moral a que estamos referindo-nos é a que se fundamenta na verdade.
Por outro lado, poder-se-á perguntar o que é a verdade, remetendo-se a perquirição até aos Evangelhos, na voz de Pôncio Pilatos, quando a endereçou ao Mestre. Quem estiver lembrado da resposta do Cristo, poderá supor que o desconhecimento da verdade é direito líquido e certo da humanidade. Contudo, se temos fé e acreditamos sermos filhos de um Ser criador, por certo, haveremos de nos predispor a aceitar que a verdade se encontra nos atos provenientes do Pai.
Há os que temem errar e estão bem certos da pequenez humana. Não seremos nós quem irá definir para estes os princípios evolutivos que determinaram a postura intelectual de tal compenetração. Mas haveremos de dizer-lhes para que leiam os textos do Novo Testamento e as diretrizes condensadas nas obras de Kardec. Talvez consigam encontrar ali o fio da meada que os conduzirá, convictamente, a proceder com honra e dignidade.
Mas chega de debater o tema das indefinições. Quem se deixar conduzir por tal enredamento metafísico desvinculado da realidade, não estará criando raízes para o estabelecimento de pontos de apoio, para a criação de patrimônios moralmente saudáveis, que servirão para a reestruturação psíquica dos que almejarem, desde logo, conseguir o seu nível de progresso na presente encarnação.
Tememos pelos escritos. Sabemos que estamos mal tocando em pontos cruciais do penar terreno e nada mais podemos informar que não esteja definido na literatura espírita. Se ameaçamos registrar algo inusitado, foi só para demonstrar que nem tudo está sendo passado, pelas mesmas razões explicitadas por Jesus e referendadas por Kardec, sob a autoridade do Espírito de Verdade: o ser humano não está preparado para tudo compreender.
Nem nós, a quem coube tão-só alertar para a suspicácia de alguns que se julgam eminentes na doutrina, despojando-se de algumas virtudes essenciais para o progresso.
Vamos encerrar esta curta manifestação, rogando aos irmãos que não nos considerem falsamente modestos, pois sempre insistimos em que nossas luzes são de empréstimo e que só nos cabe retransmitir alguns conceitos, tendo em vista o necessário treinamento de futuros socorristas.
Este exercício também visa a estabelecer profícuo contacto com os encarnados, obrigando-nos a algumas reflexões mais, para o desenvolvimento de conceitos não inteiramente assimiláveis pelas atuais condições de vida da maioria. Havemos de encarar os males sociais como superáveis, se não através da elaboração de leis mais justas, a ponto de haver distribuição igualitária de bens e riquezas, pelo menos através da firme determinação de se estudarem com amor, com firmeza, com abstração das injunções corpóreas, todos os temas de interesse para o espírito imortal.
Deixemo-nos estar dessedentados nas mãos de Jesus, o qual tem por nós a maior consideração e respeito. Tenhamos a mesma dignidade, aceitando o carma da passagem pela Terra, lutando por melhorar, sem, todavia, pensar em que a desgraça de algum irmão irá beneficiar-nos. Reflitamos sobre os patrimônios que todos possuímos e fiquemos com os bens que os ladrões não roubam nem a traça ou a ferrugem comem.
Repousaremos, finalmente, um dia, no regaço do Pai. Lutemos para isso!
Héctor.







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VEÍCULOS NA ESPIRITUALIDADE





Estranha, sobremodo, a quem se acostumou com as descrições trazidas a público por Kardec, as quais determinavam volitação espiritual como o meio mais utilizado pelas entidades do etéreo, ler, em Nosso Lar, de André Luís, pela psicografia incomparável de Francisco Cândido Xavier, que, naquela instituição, seria utilizado veículo funicular, a que denomina de aeróbus.
Ficam os mortais descontentes com a informação, pois desejariam experimentar meios próprios de locomoção, assim que desembarquem na espiritualidade.
Evidentemente, havemos de compreender que os níveis de desenvolvimento moral, intelectual e sentimental é que determinam o grau da proximidade que cada qual guardará em relação à densidade terrestre. Espíritos muito evoluídos, por certo, saberão empregar a energia, dominando tecnicamente os elementos cósmicos, para vencê-los pela predisposição da mente.
Como se desejar obter todos os segredos da imaterialidade circunjacente, quando se chega de vidas profundamente demarcadas pelo interesse das sensações e do domínio sobre os semelhantes? Quem não se tiver dedicado a estudos de caráter espiritual, quem não se predispôs ao sofrimento pelo lenitivo das dores alheias, quem não estabeleceu os sacrifícios como metas reais da encarnação, não poderá almejar chegar ao nosso lado preparado para se deslocar livremente pelo espaço fluídico. Haverá de ser carregado.
No caso em tela, o carregamento se faz por meios externos, na conjugação energética dos trabalhadores daquela cidade de transição, onde os seres chegam para o solene aprendizado das principais noções que lhes facultarão a compreensão do meio ambiente em que se desenvolverão em estado de desencarnados. Evitamos denominar tal condição de espírito, porque, em fase tão rudimentar de evolução, as pessoas estão mais próximas da grossa vestimenta da Terra do que da qualidade etérea da real espiritualidade.
Teremos, acaso, esclarecido o tema, ou haverá quem gostaria de vê-lo melhor explicado? Pensamos ter deixado claros pontos fundamentais: os veículos existem por terem sido fabricados por entidades capazes de trabalharem a obra-prima cósmica, às quais cabe também definir os procedimentos técnicos para o controle da locomoção. Há, portanto, o que chamaríamos de usina de força energética.
A utilização de tal meio de transporte, dentro dos limites da organização de assistência aos sofredores, passa a ser obrigatória, por razões de ordem interna, conforme estabelecido em legislação pertinente. Há instituições outras que nem tal recurso apresentam, utilizando-se os habitantes da tração animal. Em outras, contudo, a norma é a deslocação individual, por meios próprios, segundo os preceitos de segurança instituídos. Não conhecemos, mas fomos informados de que, em regiões superiores, o deslocamento se dá na velocidade do pensamento, em verdadeiro teletransporte, mas ignoramos os processos envolvidos, uma vez que tais usuários têm poderes muito superiores aos nossos, conforme graus evolutivos mais elevados.
No Umbral, dificilmente algum espírito em missão consegue locomover-se sem sofrer as pressões atmosféricas do ambiente, havendo regiões em que o sofrimento corresponde a fortíssimos dispêndios energéticos, necessitando o intruso manter-se em estreito relacionamento com os socorristas de apoio postados além dos limites das trevas, para recarregamento energético contínuo. Se houver desfalecimento, é porque o protetor se deixou penetrar por negras influenciações, dando curso a tendências de imperfeição mal equilibradas pela performance no campo da moralidade ou da prática evangélica. Em tais casos, dificilmente estarão autorizados para as incursões, sendo de iniciativa própria a temeridade do auxílio solitário.
Não temos o tempo todo à disposição, em todo caso, deu para pequena amostra de alguns conhecimentos que se podem passar aos encarnados, a respeito das atividades básicas, elementares, dos que se encontram bem próximos do desempenho carnal.
Por isso, recomendamos sadia leitura da obra Nosso Lar, sem preconceitos ou superstições, não levando extremamente a sério as informações ali contidas, pois pode-se correr o risco de decepção, ao momento de se cruzar o espelho existencial que separa os planos. Se estivermos atentos, iremos observar, no texto, que, constantemente, o narrador se refere a si mesmo, enquanto personagem, como levado a considerações íntimas, a meditações a respeito do que via ao derredor, sem, todavia, explicitá-las ao público-leitor. Exerçamos o mesmo direito, não admitindo as descrições simplesmente, segundo a formulação material, mas envidemos esforços para realizar as mesmas reflexões da personagem. Cedo ou tarde, obrigatoriamente, iremos passar pelas mesmas experiências.
Quem sabe muitos dos leitores consigam aportar na espiritualidade aptos à volitação, conforme a esperança despertada pelas instruções remetidas a Kardec!... Fazemos votos para que assim seja.
Octacílio.







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COMPREENSÃO E RESPEITO





Muito temos incentivado a utilização dos aspectos racionais da inteligência, para que haja compreensão dos fatos e fenômenos existenciais, incluindo aí todas as atitudes dos seres humanos, quer favoráveis a feliz congraçamento, quer as que acendem guerras de rancor e ódio.
Sob tal aspecto, pensamos ter aplicado todas as forças da peroração convincente. Mas há outro recurso de poderoso alcance, na mente humana, que é a possibilidade de reagir contrariamente a tudo o que seja ofensivo. Desse modo, se nos armarmos convenientemente com os ensinos de Jesus, poderemos perceber o que lhe seja fiel ou contrário, estabelecendo princípios rigorosos a serem seguidos com segurança.
No instante em que aplicarmos corretamente tais aprendizados, iremos, mais do que compreender, respeitar os procedimentos, mesmo que invistam contra as normas sublimes trazidas aos mortais pelo Mestre Nazareno.
Não temos a pretensão de estar a ditar normas de conduta superiores, mas quer parecer-nos que muitos falham na execução dos mandamentos cristãos, pela dificuldade de se desvencilharem dos anseios da vontade, como se fora mais importante ganhar as discussões e as lutas, sem esclarecer devidamente os pontos, não só para os oponentes, mas principalmente para si mesmos, já que não têm recursos para aplacar a fúria do coração.
Se respeitarmos os semelhantes, por força de serem filhos do mesmo Pai, iremos aprender definitivamente a tratar a todos, superando inúmeros preconceitos arraigados na mente, como aqueles que consideram indivíduos de outras raças como seres inferiores.
Revoltemo-nos, sim, contra nós mesmos, sempre que percebermos estar agindo em discordância com as diretrizes evangélicas. Se o fizermos no intuito sério de conceber a vida como rápido suceder de estágios que precisam ser vencidos, sempre no sentido do aperfeiçoamento moral, iremos, por certo, concluir a jornada na Terra aptos a ingressar nas hostes do socorrismo ativo, preparadíssimos para freqüentarmos as aulas de cujos conhecimentos mais necessitarmos, sem estagiarmos nas negritudes do Umbral.
Haverá mais que compreensão e respeito, para que obtenhamos tais privilégios, evidentemente, mas, se faltarem, com certeza não adentraremos felizes as muralhas das instituições escolares onde se dá curso à linha evolutiva, sem tropeços significativos.
Consideremos estes comunicados como tendo alguma sabedoria e o aconselhamento como provindo de seres bem intencionados. Se não for assim, como é que pretendemos ser, por nossa vez, bem recebidos junto às pessoas a quem nos dirigimos, no sentido da oportuna orientação? Vamos especializar-nos na compreensão dos dizeres mediúnicos, respeitando-lhes a origem, até mesmo quando flagrantemente oriundos de sofredores empedernidos, cuja única pretensão seja o engodo e o ludíbrio.
Caso tenhamos bem aguçados os conhecimentos estabelecidos na doutrina espírita, aí poderemos não só surpreender os defeitos e vícios das transmissões, como orar fervorosamente pelo esclarecimento moral e intelectual daqueles indivíduos que conseguiram romper a barreira material para a hediondez das falsas pregações. Amemos os inimigos, conforme a mais sublime lição de Jesus, pois aí estará, com certeza, o segredo do maior desenvolvimento espiritual passível de ser adquirido no plano terreno.
Eis que, finalmente, suspiramos por sermos também nós compreendidos e respeitados, não tanto pelos méritos das composições, mas pelo incentivo que pretendemos ministrar através delas. Bastar-nos-ia, entretanto, servir de modelos para futuras dissertações dos aluninhos destas escolas. Se isto for pedir muito, que nos contente, então, simplesmente, o fato de que alguém optou por orar algumas preces pelos espíritos que têm estes misteres de elucidação, através do instrumental mediúnico, embora desconfiados de que nem tudo esteja absolutamente de acordo com os roteiros kardecistas.
O que é feito com amor, com boa vontade, com limpeza de intenções, certamente, propiciará ao círculo a que pertencem tais criaturas motivos de imensas alegrias, especialmente quando se percebe que se está sendo abençoado por Jesus. Saibamos agradecer tais momentos de enlevo, de êxtase ou de esplendor místico. Dia virá em que a existência transcorrerá sob o influxo de tais sensações superiores. Trabalhemos afincadamente para isso.
Gonzaga.







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CORREIO SENTIMENTAL





Muitos encarnados pensam que os contactos com os irmãos na espiritualidade têm o mesmo significado dos bilhetinhos pseudo-amorosos que as crianças e adolescentes enviam uns aos outros, nos festejos pueris das escolas e quermesses. Assim, pretendem só dizer de seus sentimentos em relação aos familiares passados para o campo do etéreo, recebendo deles o mesmo teor de correspondência.
Não somos de criticar as pessoas pela infantilidade das aspirações espíritas, menos ainda nos dispomos com propriedade para isso, dado que temos inúmeros trejeitos da mesma puerilidade. Contudo, assim como costumamos aconselhar para a aquisição das virtudes evangélicas, gostaríamos de ver todos os irmãos preocupados em captar, através das mensagens mediúnicas, informações seguras a respeito das próprias necessidades espirituais, de forma a dar aos protetores oportunidades para o exercício direto das funções socorristas.
Há muitos pais que obtêm informações a respeito dos filhos desaparecidos em plena idade de formação intelecto-afetiva, mas que insistem em pensar nas criaturas como crianças ou jovens, esquecidos de que o espírito, ao reassumir a condição etérea, deixa de ser a mesma entidade que se apresentava na Terra, conforme programação biológica definida. Está claro que muitos, à vista das necessidades paternas, conservam as características que os distinguiam dos demais, formulando os pensamentos conforme o hábito terrestre. Não olvidemos, também, que muitos ficam a marcar passo, pelas mais diversas razões, no estágio evolutivo que demonstravam ao retirarem-se das lides terrenas. A grande maioria, contudo, é bem capaz de desenvolver teses de valor para a orientação dos parentes, em razão de estarem adiantados, a ponto de merecerem o apanágio da comunicação. Caso não estivessem, seriam, obviamente, impedidos de contatar o plano da realidade material.
Nosso objetivo é o de fazer frutificar esse relacionamento, não dando vazão somente aos aspectos da ternura que se deseja transmitir, algumas vezes até porque faltou durante a vida em conjunto. No entanto, neste círculo espiritual, as quireras do relacionamento são postas de lado, dando-se importância ao que realmente tem valor, ou seja, aos princípios evangélicos que deveriam estar sendo postos em prática pelos que ficaram cumprindo as obrigações cármicas na densidade corpórea.
Outros aspectos dessa vacuidade de pensamentos positivos poderíamos aduzir para a configuração da minimização da importância que se dá ao intercâmbio mediúnico, mas, como não estamos analisando casos específicos, vamos permanecer neste comentário de caráter bem generalizado.
Esperamos que os amigos que estejam lendo a mensagem possam ter a intuição da integridade destes comunicadores, buscando introduzir no modus vivendi os conceitos sobre os quais temos dissertado. Esta manifestação é mero alerta para quem está altamente desejoso de evocar os espíritos de pessoas conhecidas, como se a espiritualidade pudesse resumir-se a tão pouco.
Tal atitude reflete a irresponsabilidade da valorização do círculo pequeno das amizades, em detrimento da humanização através do cristianismo universalizante. É como se só existissem para as pessoas certas entes, não havendo significação para aqueles que se especializaram em todos os setores dos conhecimentos mais importantes para o campo espiritual imediatamente superior ao plano terrestre.
Raciocinando por esse princípio a que demos o nome de correio sentimental, os encarnados como que desprezam todos os demais contatos, mesmo os que produzem textos valiosíssimos, que seriam verdadeiros catecismos, se postos em relevo para a aplicação imediata em todos os atos de vida. Há uma como que acomodação de princípios, até mesmo quando os parentes se aproximam para as advertências que lhes são aconselhadas pelos instrutores familiares, uma vez que se desprezam as orientações de caráter moral, para se dar ênfase às condições de bem-estar dos que partiram mais cedo.
E a vida tem curso alheia às possíveis instruções a respeito de tudo aquilo que se poderia fazer para melhorá-la.
Mas não vamos desacreditar de todos. Muitas criaturas há que, embora de início reajam contrariamente às determinações de melhor conduta, acabam por perceber que a evangelização é bem definitivo, a ser carreado para todo o sempre, categorizando-se entre aquelas riquezas que não se podem roubar ou enferrujar.
Creditar confiança nas palavras dos irmãos do etéreo muitas vezes é a condição essencial, para a convicção da justiça do Pai e do equilíbrio mental e emocional que se deve ter, para aspirar-se ao progresso nos campos da espiritualidade superior.
Corremos o risco de precisar relacionar todos os atributos necessários para o aperfeiçoamento das boas qualidades, mas não vamos citar nada além da humildade e do respeito às determinações evangélicas. O mais ficará por conta da inteligência e dos conhecimentos dos amigos leitores, sempre bastante aptos para os esclarecimentos complementares a tão efêmeras mensagens.
Oremos com fervor para que compareçam às reuniões mediúnicas os espíritos a quem dedicamos o mais terno amor, mas ouçamo-los com bastante atenção, pois pode acontecer que estejam adiantados o suficiente para nos aconselharem pelo padrão apostólico, ou habilitados à reprodução das lições que os mais experientes e mais lúcidos estejam passando-lhes, especificamente para a orientação que se pretende dos encarnados.
Sabemos que recomendações desta espécie não agradam. Que dizer quando aconselham o respeito a este mesmo tipo de manifestação? Pode até parecer que estamos desacreditando da boa vontade dos leitores. Mas a verdade é que tememos por conclusões precipitadas, como se todos os indivíduos no etéreo aqui viessem para passar tremendos carões.
Se estamos tentando com amor estabelecer o relacionamento com os que partiram, devemos admitir que é com o mesmo amor que eles retornam para as informações que julgam as mais importantes e necessárias, para o desenvolvimento harmonioso dos carmas daqueles a quem tanto amam.
Que nosso correio seja deveras sentimental, o que resultará em que devamos dar-lhe também a característica do entusiasmo pelas noções cristãs que possam conter.
Maria da Graça.







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CAPRICHOS INFANTIS





Tive, na última encarnação, infância demasiado protegida pela benquerença mal direcionada de meus pais, principalmente da querida mãezinha. Na hora em que precisava ser esclarecida, através, quiçá, de conselhos mais enérgicos no traseiro, fui sendo levada a mimos exagerados da vontade, de forma que não demorou para me tornar tiranete do lar.
Até aqui, nada demais, pois é muito comum encontrarmos as mesmas condições, bastando, para isso, que o filho seja único ou que se apresente adoentado. Eu era única e, quando descobri que as doenças assustavam meus pais, passei a fingir diversos achaques, chegando ao cúmulo de provocar reações orgânicas verdadeiras, como vômitos e febre.
Se me perguntarem como é que cheguei a fazê-lo, talvez não soubesse explicar, mas a verdade é que dei muitos sustos nos velhos, ao empalidecer ou arroxear, sempre, é claro, como intuito de conseguir benefícios de alguma ordem, os quais iriam, fatalmente, levar os coitados a enormes sacrifícios. Mas as vontades da filha sempre foram atendidas.
Principiei a história no sentido cronológico, mas os fatos mais importantes da vida se deram muito tempo depois, já adulta, quando as reminiscências de comportamento da infância e da adolescência se transformaram em hábitos arraigados no inconsciente.
Com o casamento, tornei-me pessoa de recursos, mas não atinei com a necessidade de cuidar de mim clinicamente, sendo este um dos reflexos da voluntariedade crônica. Mesmo quando adentrei o sagrado ambiente de um centro espírita, ali exerci, despoticamente, diversos encargos e funções de relevância, buscando prevalecer sobre todas as demais pessoas, quando não pela imposição forte de razões nem sempre absolutamente claras, pelo menos com a comprovação de que haveria muito a ganhar, se tudo se fizesse conforme as minhas determinações, pois a bolsa, invariavelmente, se abriria se estivesse satisfeita.
Sinto profunda vergonha de vir revelar tais impuras facetas da personalidade, as quais até hoje luto para fazer desaparecer, estando bastante integrada no ambiente da equipe, embora, de início, tivesse de pelejar contra costumes muito desleais. Graças a Deus, os mentores bem perceberam a espécie de pessoa que eu era e determinaram os companheiros de trabalho com o máximo de sabedoria.
Não quero avançar nas conclusões, para que não se pense que estou de novo prevalecendo-me da condição de mensageira para realizar tudo conforme tenho julgado a melhor forma, mesmo que contrarie os dispositivos e roteiros estabelecidos como padrões para as manifestações do grupo.
Na Terra, finalmente, após muitos anos de sofrimento, depois de ter perdido meu querido marido e, com ele, toda a fortuna, pois fui o suficiente caturra para não dar atenção aos conselhos de prudência dos cunhados, contra quem lançava os dardos da mais feroz desconfiança, fui sendo esclarecida de quanto havia sido despótica e injusta em relação a todos os semelhantes.
Surpresa enorme tive quando, no etéreo, procurei meu marido, pois cheguei com a presunção de que o encontraria à minha espera. Foi frustração atenuada pelas reflexões dos derradeiros anos de vida, quando alguns preceitos espíritas acabaram firmando-se em minha personalidade. Desconfio, entre parênteses, de que, se não tivesse recebido tais ensinamentos, teria muito que vagar na escuridão do Umbral e talvez até hoje por lá permanecesse, completando já vinte e cinco anos desde o desenlace.
Mas meu marido foi difícil de deixar-se achar, pois estava recusando-se ao reencontro, uma vez que pensava, lá com os seus botões, que deveria prosseguir em minha companhia pela eternidade, sendo a só lembrança desse fato motivo mais do que suficiente para que se desesperasse no catre, pois boa bisca jamais fora.
Sabia das mazelas que ele havia aprontado, principalmente por ter engravidado várias moças, sem que assumisse qualquer responsabilidade. Tinha dinheiro e isso lhe era suficiente para descartar-se dos processos, já que nunca se atreveu a mexer com quem não fosse maior de idade e experiente da vida.
Pois tal figura, que eu amava transbordantemente, tendo em vista que me realizara todos os desejos, se atreveu a pretender rejeitar-me completamente.
É óbvio que, assim que recobrei os sentidos mais importantes para o relacionamento com os demais seres, logo me vi às voltas com a necessidade de orientá-lo para aquelas mesmas conquistas que tão a custo eu alcançara.
As peripécias da loucura desse trabalho descomunal são irrelevantes. O que deve ficar na mente dos leitores é que, tendo desenvolvido, ao mais alto grau, o poder do mando sobre as pessoas, precisei submeter-me a inúmeras prerrogativas de quem se viu na qualidade de obsessor às avessas, na aplicação de todos os recursos disponíveis para as ofensas com que pretendia afastar-me de seu convívio.
Venci, é claro, nem poderia ser outro o resultado, pois estavam inúmeros protetores a ampararem-me, da mesma forma que agora, para a transmissão deste comunicado espiritual. Mas a luta foi entremeada de muitas dores e lágrimas, principalmente porque precisei reconhecer quão deficiente sempre fora, desde, aliás, outras encarnações, como tive ocasião de presenciar pela oportuna iniciativa de meu anjo guardião.
Eis que, finalmente, o desenvolvimento da personalidade absolutamente infantil acabou sendo a base sobre a qual pude definir inúmeros outros problemas essenciais do psiquismo. Estou impedida de exercer domínio pelo conhecimento da terminologia técnica adequada para o retrato psíquico, o que representaria, reconheço, retrocesso ao estágio em que me encontrava durante o encarne. Mas esta amostragem não me foi proibida, para dar a idéia de que não estou, deveras, mentindo.
Impor-me sobre outras criaturas não pretendo jamais, nem que tenha a flama da verdade, a espada da luz ou o escudo da virtude. Aprendi as lições à custa de muitos sacrifícios, em estudos e trabalhos dificultados por veleidades e egoísmos. Não quero perder tais conquistas pela vaidade da descrição superior delas mesmas. Mas vale o alerta para que os amigos não se percam por se julgarem mais espertos, dado que tudo conseguem dos demais, seja qual for a técnica utilizada.
Lembremo-nos de Jesus, quando nos disse para sermos servos de todos, se quisermos ser os primeiros.
Laura.







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MELODIA DO INVISÍVEL





Não são poucas as criaturas que se imaginam ouvindo estranhas e dulcíssimas melodias vindas do nada. Há até quem pretenda ouvir estrelas, não no sentido poético, mas literalmente. É como se o etéreo ou o transcendente estivessem capacitados a fornecer eflúvios de harmonia para o deleite dos mais sensíveis.
Tem o amigo tal dom ou desconfia daqueles que afirmam possuir? Pois o espírito prático e imediatista é muito mais encontradiço, embora todos nós, uma que outra vez, tenhamos intuições, visões e audições como que provindas da profundidade do ser, como se apanhássemos transmissões em freqüência compatível com o nosso comprimento de ondas. Não é bem assim que as antenas captam os sinais radiofônicos e até televisivos?
Se a comparação for válida, podemos aspirar a ouvir a melodia do infinito. Não virá, certamente, daquele céu onde repousa o Deus material dos que almejam a eterna felicidade pela via mais curta do pagamento de óbolos. Virá, sim, do plano imaterial mais próximo de nós, caso tenhamos desenvolvimento adequado para tal captação.
Haverá recursos morais a serem adquiridos, no sentido da maior facilidade para tal audição? Pelo que nos consta, o fenômeno é meramente mediúnico, o que nos induz a dizer que são os mecanismos da mediunidade que deverão ser aperfeiçoados. E isto nos remete para o estudo das obras relativas a tais temas, a principiar por O Livro dos Médiuns, de Kardec.
Caberá a pergunta ao mensageiro, se ele mesmo esteve presente durante evento de tal natureza. Pois, na verdade, nesta instituição, a música dos espíritos tem sua vez e hora e, quando não acompanhada ao vivo, temos sempre a possibilidade de regular a sutileza das percepções acústicas para o recebimento das mensagens a distância. Mas não são todas as criaturas aqui sediadas provisoriamente que conseguem a façanha, precisando muitos encontrarem-se em locais de reunião dotados de aparelhos de recepção. Há quem tenha, nos domicílios, como na Terra, rádios para a audiência das programações evangélicas, pequenos aparelhos com tecnologia própria, impossível de descrição em termos humanos.
Informações mais precisas a respeito das condições técnicas das transmissões poderão encontrar-se na vasta obra de André Luís. Nós estamos mais interessados em oferecer conhecimentos na área psíquica.
Com que finalidade são executadas tais melodias? Há músicos distintos, capazes de composições sublimadas, como se a evolução se transformasse em sonoridade? O que distingue a musicalidade dos diferentes planos existenciais, conforme o grau evolutivo dos seres? Sabemos que os conhecimentos superiores, tal qual as parábolas de Jesus, são incompreensíveis para os encarnados; será que compreenderíamos a música das esferas elevadas, ou ficaríamos tão-só bem impressionados, como o que acontece com quem tem os primeiros contactos com os grandes mestres terrenos?
Tais perquirições seriam pertinentes, posto não tenhamos desenvoltura para explicações que desvendem totalmente os mistérios. Preferimos ficar na provocação da curiosidade construtiva, para a finalidade da pregação evangélica, qual seja, a de que o progresso fatalmente advirá da aplicação dos ideais cristãos e espíritas. Nesse momento, saberão os amigos facilmente decifrar as intenções místico-religiosas das composições provindas dos planos elevados.
Não é verdade que a suavidade de determinadas melodias nos predispõe para o exercício da meditação, da introspeção e do exame sereno da consciência? Pois, a partir de tal finalidade, todas as outras poderão ser intuídas, muito embora não vivenciadas.
Chegamos ao ponto mais importante desta peroração, qual seja, o de que todos temos recursos para a elaboração mental de universos mais perfeitos, conquanto impedidos de para lá nos transportarmos, devido a restrições morais. Desse modo, o bom senso indicar-nos-á qual caminho seguir para a eliminação das más tendências e para a aquisição dos dons mais sublimes das virtudes, que nos guindarão cada vez mais para o alto, no caminho do reino do Senhor.
Vamos contentar-nos em ouvir as sublimes melodias que formos capazes de entender na atualidade, desejosos, contudo, de progredir, que essa é a iniciativa que os mentores espirituais desejam que tomemos.
Oremos em coro de vozes celestiais, que não poderá ser outro, se todos elevarmos os pensamentos a Deus, na prece que Jesus nos ensinou:
— Pai nosso, que estais...
Romildo.







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RECORDAÇÕES AMARGOSAS





Quando chegamos de regresso ao plano da espiritualidade, imediatamente nos lembramos de todos os bons sucessos dos empreendimentos que levamos a cabo. Claro está que há indivíduos que deram curso a crimes, fazendo preponderar nas personalidades os aspectos das maldades e dos vícios. Não há o que recordar aprazivelmente. No entanto, mesmo para tais criaturas, há o benefício do esquecimentos de crimes anteriores, de forma que não venham a sofrer todas as dores em um só tempo. Deus é pai de infinita misericórdia e não permite que nenhuma das criaturas fique sem a perspectiva de salvação.
Sabemos que muitos encarnados não aceitam que haja punição dos atos falhos por via das acusações proferidas pelas consciências. Rejeitam o sentimento de culpa, como se as ações pudessem ficar no esquecimento, servindo, talvez, como recurso para que se evitem frustrações em outros cometimentos no mesmo sentido.
Julgamos que seja útil tomar a atitude de esfriar o ânimo, para que as pessoas possam compenetrar-se dos melhores caminhos para a consecução dos objetivos. Entretanto, é preciso cuidar para que tal insensibilidade não esteja apenas significando que os crimes devam ser aperfeiçoados, em detrimento do progresso espiritual. Muitos costumam agir maliciosamente, quando pretendem continuar usufruindo certas vantagens, adquiridas às custas do prejuízo dos demais.
Mas não vamos abrir em leque o tema do livre-arbítrio, para evitarmos justamente que haja perquirições descabidas daqueles que só aspiram ver o seu ponto de vista prevalecer, em todas as discussões. Se algum amigo quiser investigar seriamente outras questões relacionadas ao tema do restrição das liberdades individuais, busque esclarecer-se em O Livro dos Espíritos, de Kardec, através das explicações sábias do Espírito de Verdade, notadamente no Capítulo X da Terceira Parte.
Caso estejamos com boa vontade, vamos concordar com que, desde a encarnação, muitas ocorrências são lembradas com desagrado, pois demonstram cabalmente a nossa inferioridade moral, perante a decisão que tomamos de só agir evangelicamente, no rastro dos ensinos de Jesus. Aí as recordações nos põem em contacto com a dura realidade da personalidade que não conseguimos educar e sofremos, pois julgamos que iremos ter de amargar futuramente, quando ingressarmos no etéreo, sem termos podido reparar os erros ou corrigir os defeitos.
Como acima referido, Deus é pai de misericórdia e irá julgar-nos pelas obras. Ora, uma das principais realizações do espírito humano é a tomada da exata consciência dos defeitos de caráter. Se isto caminhar no sentido do arrependimento e da vontade de regeneração, será levado à conta de obra de valor e, por isso mesmo, não merecerá condenação, mas ajuda e aperfeiçoamento.
Vejam que estamos aproximando-nos do pensamento daqueles que consideram errado viver sob o crivo do sentimento de culpa. Nós também pensamos assim, mas queremos enfatizar que as recordações amargosas surgem na mente, na consciência, na alma, no coração, independentemente das resoluções da vontade. A pessoa não poderá aumentar um côvado à altura (isto é bíblico), como é que irá reprimir o que há de mais positivo no encaminhar-se para a salvação e para a perfeição?
Busquemos soluções para as angústias. Oremos com fervor, na expectativa de sermos auxiliados pelos irmãos protetores que, da espiritualidade, velam por nós. Se tivermos discernimento evangélico, apresentemos o nosso caso aos amigos sinceros, para que possamos distinguir as falsidades dos nossos sentimentos e raciocínios, na repercussão sobre as suas mentes e corações. Quem sabe recebamos de volta questões para as quais estejamos aptos a oferecer resposta ou consolação.
Nem tudo deve ser previsto desde já pelos seres humanos, pois há muitos mistérios no campo consciencial, os quais só poderão ser elucidados através do sofrimento, da meditação e do desprendimento de todo e qualquer laivo de egoísmo que nos conduza para o prevalecimento das nossas teses, em detrimento não só dos conceitos daqueles que conosco convivem, mas, principalmente, da própria verdade.
Não vamos ter medo de enfrentar as dificuldades nem aspiremos a completo esquecimento. Tudo há de ocorrer exatamente conforme as leis cósmicas, estabelecidas para que todos possamos desenvolver-nos indefinidamente.
Maria das Dores.







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PERDAS IRREPARÁVEIS





As pessoas costumam perambular pela Terra lamentando-se de terem perdido seres e objetos. Como estamos retornando do etéreo para frisar que os mortos que se enterram renascem para vida espiritual de muito maior grandeza, não há que se considerar irreparável qualquer frustração nesse sentido. Sentir-se a falta de alguém, evidentemente, é natural e até estranharíamos a total ausência de sentimentalismo, quando do desterro de alguém próximo. Aqui não há sobre que comentar.
Resta a perda de objetos, de membros do corpo, de produções literárias ou mediúnicas, de partituras musicais, de peças de museu, de relíquias preciosas, enfim, de objetos únicos, cuja recomposição seja impossível.
Quanto às partes perdidas, como pernas e braços, sabemos que as encarnações se renovam, devendo suportar-se com paciência até que ocorra o desencarne, quando as sensações e acomodações relativas às perdas vão sendo esquecidas, até que, para uns mais, para outros menos rapidamente, se recupera totalmente o uso do que nos faltava, mesmo que seja a visão, a audição, o olfato etc. Aqui também a perda, de certa forma, pode ser considerada reparável.
Sobra-nos falar a respeito dos objetos e demais artefatos ou composições. Se se trata de coisa fabricada pelas mãos humanas, como monumentos, cidades, civilizações etc., o desaparecimento não nos toca muito de perto, a não ser que haja preço que venha a se perder junto. Aí pode até existir certo empobrecimento, que repercutirá de diferentes maneiras na economia da pessoa. Pode também haver muito apego sentimental e aí há que se compreender que, verdadeiramente, existe defeito interpretativo quanto ao valor das coisas materiais. É o caso de lembrarmo-nos dos ensinos de Jesus.
Vamos voltar-nos para as produções artísticas, mediante o trabalho sério de alguns anos. Suponhamos que Leonardo da Vinci visse a Mona Lisa arder completamente. Restar-lhe-ia confeccionar algo novamente que se assemelhasse, pela técnica e pelo esforço, ao trabalho anterior. Deveria pedir a Deus saúde e recursos; o mais a genialidade supriria. O mesmo para quaisquer outras obras de artistas vivos.
Quanto às perdas das peças de museu, todos os dias ocorrem, sem que se altere significativamente a vida de ninguém. Algum historiador, antropólogo ou paleontólogo poderá anotar o fato e catalogá-lo como mais ou menos importante para a ciência que representa. O mais continuará correndo na vida de cada qual como sempre. Que haverá para lamentar, realmente?
Chegamos, finalmente, ao ponto, pois tudo o que até aqui escrevemos não tem grande interesse, tanto que, se se perder, não haverá quem dê pela falta, nem mesmo nós ou o escrevente. São águas de barrela.
Entretanto, pode haver informações preciosas em determinadas teorias científicas, de forma que a destruição das anotações dos autores resultará em prejuízo para o desenvolvimento da respectiva ciência. Não é, por acaso, a mesma situação de teses acadêmicas, as quais teriam como conseqüência avanços significativos em sua área de conhecimento? E que dizer das mensagens mediúnicas transmitidas por luminares das altas esferas?
Pois, em cada situação destas, os autores, hoje ou no futuro (mesmo espiritual), poderão refazer todos os trabalhos. Mesmo se Luís Vaz de Camões tivesse naufragado definitivamente com Os Lusíadas, no mergulho que deu em águas africanas, poderia ter refeito a obra, onde quer que se encontrasse. Se, no etéreo, talvez para a alegria de muitos secundaristas que não teriam de realizar aqueles duros sacrifícios que representavam as análises gramaticais. Estamos brincando um pouco, mas não é verdade que o que importa é o espírito e não a matéria? Aliás, na hipótese da perda do poema épico, até a nossa citação deveria merecer outra exemplificação.
As pessoas são altamente adaptáveis às situações e sabem empregar a inteligência para a superação de todas as dificuldades. Agir em consonância com as verdades evangélicas dará a cada qual oportunidade de melhorar as condições de reação ao que ex-abrupto pode parecer irreparável. Na verdade, toda a dissertação visa a conduzir os pensamentos dos leitores para as desgraças, a fim de considerarem em que sentido poderão melhorar a forma de encará-las, para que o sofrimento se amenize e a esperança reacenda. Enfim, Deus é pai de infinita misericórdia e colocar nas mãos dele a resolução dos problemas poderá demonstrar que temos tido expressivas vitórias no campo da moralidade, da emotividade, da intelectualidade, da espiritualidade, em suma.
Vamos ouvir a sábia voz da consciência, a qual saberá alertar para a faculdade que temos de compreensão de tudo o que ocorre ao redor. Se tivermos dificuldades em nos organizarmos sentimentalmente, vamos orar com devoção, para que o Senhor nos propicie a ajuda de mais experimentados protetores, que saberão oferecer-nos os exemplos mais proveitosos, para que nos coloquemos aptos para o enfrentamento das desilusões, dos fracassos e até das tragédias. Talvez aprender a enfrentar corajosamente as desgraças seja o de que estamos mais necessitados, para que se dê o tão almejado progresso espiritual.
Aceitemos pacificamente a sorte e façamos o melhor que pudermos, para dar condições de melhoria, em todos os campos, aos semelhantes. Não será esse o real segredo do bem viver?
Alfredo.







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PARA OUVIR A VOZ DO SENHOR





Normalmente, sentimos, na profundidade do ser, a voz da consciência a despertar-nos para as responsabilidades cármicas. Gostaríamos, também, de ouvir alguma voz menos carrancuda, abençoando-nos e fazendo-nos acreditar na importância de sermos filhos diletos de Deus.
Já pensaram os bons amigos se estivessem agora, neste justo instante, recebendo mensagem de Jesus, em pessoa? Claro está que tal propriedade não poderá ser levada a efeito perante outras pessoas, pois, dada a sensibilidade da justiça do Divino Pastor, não poderia ele sujeitar ninguém ao vexame de se ver em situação de inferioridade.
Ora, se ouvir o Mestre é algo tão íntimo, tão pessoal, tão particular e tão solene, por que não nos darmos oportunidades de tais eventos, se não conforme o acima descrito, pelo menos na expectativa de que tal aconteça, munindo-nos dos conhecimentos evangélicos e pondo-nos à disposição do Amigo, em aprazíveis leituras das parábolas e demais manifestações de sabedoria guardadas nos Evangelhos? Não seria uma forma de ouvir a voz do Senhor?
Estamos referindo-nos a tema de extraordinária simplicidade, o qual qualquer pessoa poderia imaginar. Se houver quem esteja aguardando a presença do Nazareno, de forma a poder tocar-lhe as feridas, como Tomé, aí, certamente, de nada terá adiantado termos passado estes dois mil anos de cristianização ocidental. Ainda menos, terá surtido qualquer efeito termos tido inúmeras oportunidades de conhecimentos extraterrenos, durante os períodos que demoramos no etéreo, entre as encarnações. Ou alguém poderá imaginar que o fato de estarmos aqui, em passagem carnal, desobriga de saber que tivemos outras vidas e que, de um jeito ou de outro, existimos desde que Jesus nos trouxe a boa nova?
Vamos ouvir a Jesus, que já está bem na hora. Se não tivermos o desejo de nos sacrificar a imagem pública, correndo riscos desnecessários de testemunhos nem sempre bem conduzidos, limitemo-nos às preces de agradecimento e de reconhecimento da verdade revelada por Jesus e complementada pelo Espiritismo.
Se não quisermos, ainda, aceitar os preceitos reencarnacionistas, pelo menos tenhamos o cuidado de admitir que existem normas superiores de conduta, as quais devem ser observadas, se for desejo nosso apresentar-nos perante o Pai, no paraíso. Tais regras áureas se encontram nos dizeres do Cristo, os quais poderemos ouvir pelo espírito, em recolhimento e paz.
Se quisermos ser extremistas na argumentação dessa necessidade para a realização de todos os tópicos prescritos para a presente encarnação, diremos, sem medo de errar, que, se não dermos ouvidos à serena e incisiva voz do Mestre, iremos ter de ouvir a tremenda voz da consciência, quando não até as lúgubres vibrações que se erguem das profundidades obscuras do Umbral, onde se encerram aqueles que jamais quiseram atender aos mandamentos e leis fundamentados no amor e na fraternidade.
Para ouvir a voz do Senhor, não será preciso estar em estado de graça. Antes, até que o reconhecimento das eventuais falhas de caráter e de procedimento darão maior autenticidade às solicitações que, forçosamente, faremos, ao saber que seremos ouvidos pelo guardião espiritual do Planeta. Mas tudo deverá estar impregnado do mais profundo respeito e consideração, pois não há que se aceitar colocar-se perante a maior autoridade da galáxia, sem, ao mesmo tempo, estar determinado a reconhecer os poderes excelsos de tal criatura.
Por outro lado, Jesus é dulcíssimo espírito, fiel integrante das hostes do Pai, não merecendo, portanto, o título que a este daríamos. Se temos de ter pelo Enviado a maior consideração, também não iremos outorgar-lhe prerrogativas supremas. Jesus é o amigo mais fiel, aquele que nos amparará em quaisquer circunstâncias de inferioridade, reservando-nos todo o seu perdão, por compreender que deveremos muito palmilhar na estrada dos sofrimentos, para podermos absorver, pílula a pílula, todos os elementos constitutivos da verdade.
Mas Jesus também é o guardião das leis, a quem cabe avaliar se todas as diretrizes estão sendo cumpridas, no sentido do respeito às normas cósmicas, para possibilitar a todos ingressarmos nas esferas seguintes às em que nos debatemos atualmente. É evidente que isso não fará ele em pessoa, como se não tivesse prepostos credenciados, para que se leve avante o projeto de redenção do orbe. Sendo assim, devemos principiar a conversa com o Senhor, solicitando dos amigos mais próximos que nos encaminhem com segurança pelas estradas do Bem. Só assim estaremos aptos a manter diálogo de amor com a excelsa criatura, já que de nada adiantará o Orientador comunicar os ensinos, consolações e conhecimentos, se não estivermos preparados para entender, à proficiência, todas as normas, diretrizes e bênçãos de que formos alvo.
Em outras palavras, se não nos capacitarmos, através de muito estudo e de muito trabalho, se não lutarmos para vencer as más tendências, se não nos desmaterializarmos o bastante para aceitar a espiritualidade como próxima parada do ser, acabaremos por bloquear a audição, colocando sobre os ouvidos da alma o tapa-orelhas de nossa crassa ignorância.
Sejamos modestos, humildes, mas não confundamos tais qualidades com a simplicidade estulta dos que não desejam progredir nos conhecimentos, pensando que tudo advirá sem esforço. Ouvir a Jesus será, com certeza, a última das tarefas que teremos de realizar enquanto encarnados, mas isto não quer significar que tal evento se dará na presente encarnação. Por enquanto, estando no aguardo dos maiores acontecimentos, vamos dando curso aos serviços que nos couberam por força das necessidades íntimas. Além disso, respeitemos os semelhantes, procurando dar-lhes um pouquinho do mesmo amor e consideração que devemos ter ao Mestre. Oremos aos protetores espirituais e esforcemo-nos por atender aos reclamos das leis. Tudo que fizermos nesse sentido nos propiciará condições cada vez mais favoráveis para a apreciação do que o Cristo terá para nos dizer.
Aceitemos a contingência do presente estágio carnal e saibamos tirar proveito da inteligência e da capacidade emotiva, pois somos filhos diletos do Pai, na exata medida que temos compreensão para acompanhar o desenvolvimento de mensagens mediúnicas deste naipe. É o que nós mesmos pretendemos com estes avisos e estes rompantes de fidelidade às normas evangélicas.
Saibam que todas as criaturas estão em constante luta contra as adversidades, pois é aí que desenvolvem os reais poderes perante as energias negativas que se unem para os transtornos prejudiciais ao progresso. Por outro lado, se favorecermos o crescimento em nós das expectativas mais dolorosas, impedindo-nos o reconhecimento de que o Senhor tem por nós o mesmo amor que se expressou nos Evangelhos, aí iremos engrossar as fileiras dos que se tangeram para a triste escuridão do Umbral.
Há pequeno passo a separar as trevas da luz e tal passo sempre se dá se nos apoiarmos nos seguros braços de Jesus. Façamo-lo por amor à humanidade, que muita ajuda recebe toda vez que alguma nova ovelha adentra o aprisco do Senhor.
Principiemos a ouvir-lhe a voz, repetindo a bela prece que nos ensinou:
Pai nosso, que estais...
Elvira.







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RÁPIDO COMO UM BÓLIDO





A sensibilidade dos homens nem sempre está compassada com o desempenho intelectual, o que origina algumas defasagens também em outras áreas, como a dos conhecimentos, a da vontade, a do caráter etc. Dessa forma, concluir pelo equilíbrio de todas as forças mentais ou espirituais, como norma superior, é o que há de mais elevado, em termos de filosofia do procedimento. E isto não estamos falando, evidentemente, só para o âmbito da realidade dos encarnados, como também e principalmente para a área de atuação dos espíritos
Se não tivermos capacidade para bem discernir a necessidade de fazer refletir todos os eventos em todos os campos psicológicos, vamos ater-nos aos trabalhos em proveito da instrução e em benefício dos semelhantes.
Cansam-se os leitores de tão exaustiva pregação? Pois consolem-se com a possibilidade de acompanhar-nos os raciocínios. Bem diferente seria se as palavras não tivessem repercussão em seu pensamento, conforme temem os amigos que preferem atuar diretamente junto às consciências, descrentes que estão da eficácia destas longas mensagens pseudofilosóficas.
Cabe definir o pseudo da expressão acima, mas julgamos que os leitores estejam atentos para os fatos de que as comunicações apenas arranham a superfície dos temas, sem se constituírem em sistemas ordenados e lógicos de preceitos, como se estivéssemos tão-só confeccionando simples colcha de retalhos doutrinais.
Afora o fato de termos necessidade de cumprir a tarefa escolar, também há a nos restringir a programação que nos cabe desenvolver, como norma de superior conduta, dentro dos limites curriculares da Escolinha de Evangelização. É que estamos aprendendo e uma das tarefas é a transmissão dos conceitos discutidos pelos mestres e condiscípulos, onde aflora, com muita veemência, o tema da repetição, como ponto de enfado para os leitores, a começar do médium.
Por isso, o título sugere que os amigos passem rápidos como bólidos pela leitura das mensagens e principiem logo a se orientarem pelos princípios cristãos, tudo realizando em nome de Jesus, por amor do Criador.
Sabemos que pessoas mais inteligentes têm condições de produzir peças bem melhores, mais adequadas, inclusive, ao processo de divulgação do Espiritismo, um dos pontos básicos destas transmissões de alunos. Mas, não querendo deixar passar nenhuma das oportunidades oferecidas pelo mediador, vamos realizando estas tardes mediúnicas, onde o treinamento do grupo se ressalta como o ponto nevrálgico da estrutura do trabalho.
Mas não pensem que estamos apenas aproveitando o ensejo para enchimento de lingüiça. Também esta perseverança e esta paciência têm objetivo bem definido, qual seja o de testar as condições morais de todos os que estão entrando em contacto com este tipo de manifestações, a ponto, inclusive, de fazê-los meditar profundamente a respeito de suas condições doutrinárias, para o futuro entrevero com as tarefas rotineiras dos que almejam tornar-se socorristas.
Vamos, portanto, fazendo jus ao que sugerimos no frontispício, encerrar esta curtíssima pregação, propondo-nos ao auxílio de quantos queiram elucidar os tópicos que os colegas deixaram consignados nas mensagens.
O mais gostoso de tudo, neste trabalho mediúnico, é ir percebendo como é que as pessoas vão reagindo aos pensamentos advindos do etéreo, mesmo quando comuns e passíveis de serem concebidos por qualquer mortal. É que estamos levando ao conhecimento dos amigos que tudo o que se passa no campo material também ocorre no espiritual, com a diferença de que aqui há inteira possibilidade de controle, podendo o pessoal testar à vontade os recursos disponíveis. Mal comparando, é como o que acontece com a memória do computador, que pode ser varrida de princípio ao fim, para as correções ou alterações convenientes, de forma que, após tal trabalho, não sobra resquício do registro anterior.
No etéreo, há muito desse sistema, especialmente quando os seres estão em vias de aperfeiçoamento doutrinário e se capacitam a freqüentar instituição de aprimoramento espiritual.
Eis que o texto lhe está chegando às mãos por peripécias do destino difíceis de conhecer a partir deste instante da transmissão. Todavia, se quisermos, poderemos sugerir ao companheiro que faça desaparecer tudo o que escrevemos, antes mesmo de salvar para o arquivo, de forma que absolutamente ninguém, além do escrevente, irá suspeitar do teor da mensagem que ora se comunica.
Mas, como não é essa a preocupação, mas a de demonstrar que estamos bem atentos aos acontecimentos que envolvem os companheiros encarnados, vamos prosseguindo, renovando a fé em que algo de valor possa conter-se no presente texto, como seria a transmissão da virtude da esperança, que é a que nos move neste instante.
Para bom observador, deve ter ficado claro que inserimos na mensagem algumas das qualidades que devem apaniguar os mensageiros, no sentido maior de colocar diante dos leitores espírito fortemente impregnado de otimismo, dado que todos nós estamos progredindo a olhos vistos, tanto que nos atrevemos a vir participar aos encarnados. Se nos fosse possível obter lente mágica para observar o futuro, talvez nos abalançássemos a prever que muitos estão aproveitando-se destes dizeres para trocá-los por reflexões próprias, no campo filosófico ou doutrinal a que estejam dedicando-se atualmente.
Sabemos que misteriosos são os caminhos do Senhor e, por isso, também nós quisemos palmilhar trilhas menos conhecidas, para dar sabor novo ao texto. O máximo que conseguimos, reconhecemos, foi tediosa repetição, embora o escrevente nos afirme que, gramaticalmente, o texto esteja bastante desenvolto. Graças a Deus, algo de bom estamos a ouvir! Que os amigos todos possam ter outras observações igualmente generosas e, particularmente, sinceras.
Sorriam para nós, que essa será felicidade de transcendental valor. Não é assim que todos esperam que ocorra quando estiverem deste lado, a propiciar a mediador a faculdade da recepção de mensagens de otimismo e de consolação? Fiquemos, pois, nas augustas e misericordiosas mãos do Senhor, para que possamos fazer-lhe jus às bênçãos de amor.
Salustiano.







36

ILUSÃO E REALIDADE





Acreditam os seres humanos que serão capazes de dominar o mundo, enquanto se mantiverem saudáveis e fortes. Por isso, trabalham afincadamente, prometendo a si mesmos o paraíso na Terra, cuja lembrança conservam, por força dos mitos, a partir do velho Adão. Enquanto labutam para construir as cidades e respectivas civilizações, têm a exata impressão de que são senhores e não servidores do Pai.
O que há aí de realidade e de ilusão?
Quem estiver capacitado a responder a tal questão, certamente terá muito maior domínio de si mesmo e das circunstâncias, não tanto no sentido de fazerem as coisas acontecerem, mas no de não permitirem o próprio envolvimento nelas, como se se escravizassem na existência da carne.
Para facilitar o raciocínio, vamos imaginar que os espíritos não tivessem jamais ensejo de freqüentar orbes vestidos daquele mesmo material que compõe a realidade objetiva. Em outros termos, vamos conceber a existência, sem que nunca tenhamos oportunidade de enfrentar algo parecido com aquilo a que denominamos de morte, ou seja, o abandono da vestimenta temporária, para a possibilidade do ingresso no plano etéreo imediato.
Será que, em tais circunstâncias, ficariam os seres interessados em tornar as passagens demarcadas para a posteridade? Ou, por outra, será que algo fariam no sentido de permitir aos descendentes a continuidade de seus esforços?
Tiveram os amigos oportunidade de se perguntar algo semelhante? Ou tal questão está a parecer-lhes completamente sem significado?
Não iremos responder diretamente, pois julgamos cediça a resposta fundamentada nos ideais espíritas. Não é verdade que os ensinamentos de Jesus nos oferecem recursos para aplicação aos conceitos da moderna cultura, ambientada neste mundo de avanços científicos e tecnológicos? Assim, quando o Mestre propugnava que envidássemos esforços no sentido de favorecer o crescimento dos semelhantes no conceito da fraternidade do amor, não estaria insistindo em que nos compenetrássemos da realidade da existência? Quando nos determinava que deixássemos para trás as aspirações materiais, não estava obrigando-nos a pensar em que o mundo terreno é pura ilusão por nós criada, diante da falência orgânica e conseqüente destruição do indivíduo, enquanto ser em tudo semelhante a todos os outros de mesma condição, como os vegetais e os animais?
É tão forte para certas pessoas a impregnação dos ideais corpóreos que jamais chegam sequer a admitir a possibilidade da existência de qualquer outra realidade, como se a ilusão residisse nos corações mais afeitos à sublimidade filosófica, através da discussão dos princípios que estariam por trás da existência na Terra e mesmo como seres no Universo. Se o aqui e agora é essencial para a compenetração dos deveres cármicos, também pode conduzir os pensamentos às tarefas mais rotineiras e mais práticas, sem nenhuma vinculação com qualquer aspiração de caráter espiritual.
Como se pode deduzir do desenvolvimento desta digressão meramente teórica das concepções possíveis da realidade, não estamos categorizados para discorrer muito além do que qualquer cidadão bem formado nas diretrizes doutrinais do Espiritismo faria, por certo com muito maior propriedade e expressividade. No entanto, atrevemo-nos a vir colocar a nossa modesta colher de pau nesta panela, para que evitemos que se pense que tudo o que seja mediúnico tem de ter, obrigatoriamente, o selo da perfeição. Isto também é mera ilusão.
Leiamos Kardec e fixemos as idéias nos principais conceitos evangélicos, para podermos obter da doutrina e dos ensinos de Jesus os elementos que nos farão assegurar-nos de que estamos dedicando-nos aos trabalhos mais corretos do ponto de vista das realizações cármicas.
Se é de extrema dificuldade imaginar quais sejam, na realidade, os desígnios com que nos encarnamos, também não podemos eternamente ficar boquiabertos com as facilidades que encontramos no domínio, pela inteligência, dos recursos materiais colocados à disposição. Inventos científicos e instrumentação tecnológica serão sempre bem-vindos para o bem-estar da população. Se pudermos evitar aquele insano trabalho a que de início fizemos referência, haverá muito mais tempo para que possamos dedicar aos estudos e, por via de conseqüência, ao interesse pelo próximo. Mas cuidemos para não sermos tragados pelas preocupações com tais sucessos fugazes, tanto que, se não formos nós os descobridores, os inventores ou os devassadores dos mistérios da natureza, sempre haverá quem dê continuidade às pesquisas, para a conclusão de cada objetivo, tendo em vista aquele domínio da matéria que se infiltrou na psique dos encarnados, em razão do perecimento do organismo.
Contudo, também havemos de prevenir-nos contra as ilusões do aperfeiçoamento completo nesta encarnação ou em qualquer outra de mesmo teor, uma vez que as verdades reveladas e as que somos capazes de intuir nos levam a considerar-nos bastante aptos à glória eterna. Nunca raciocínios sutis e elaborações intelectualizadas de nível superior devem constituir-se na base sobre que edificar a santidade e a sabedoria. Sejamos puros o mais possível, na crença de que haveremos de progredir em todos os sentidos, muito particularmente no da humildade.
Se tivermos o condão de influenciar a opinião de outras pessoas, façamo-lo independentemente dos resultados que gostaríamos de ver concretizados. Deixemos que desenvolvam os seus dons de sabedoria, de acordo com as tendências pessoais, pois jamais seremos responsabilizados por qualquer ato em decorrência das sugestões, sejam maus, sejam bons. Seremos responsabilizados, sim, pela forma e pela intenção que imprimirmos aos dizeres e ações, do mesmo modo que estamos sendo estreitamente vigiados na confecção desta mensagem.
Trabalhemos com afinco para a realização dos ideais cristãos que isso será suficiente para nos introduzir definitivamente na realidade existencial mais profunda. Vamos dar crédito a que todos se despachem desta vida com a bagagem carregada de novos frutos, preparadíssimos para seguro enfrentamento da realidade espiritual.
Esperando que o trabalho não se tenha fundamentado na ilusão de que iremos conseguir algo de positivo, mas nos pontos essenciais necessários para que os leitores se envolvam em sérias conjecturas doutrinais espíritas a respeito das aspirações na vida, vamos deixar o posto, augurando a todos felicidades nos desempenhos cármicos.
Norberto.







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TIRANDO O TIME DE CAMPO





Não há negar que estranhos pensamentos nos assaltam de quando em vez, parecendo que estamos à disposição de seres perversos que desejam ver-nos de mal com nós mesmos. Muitas vezes, suspeitamos, também, que não temos objetivos claros dentro dos roteiros estabelecidos pela doutrina espírita, de modo que ficamos até perplexos com os devaneios inadequados perante as normas morais que consignamos como as ideais. Em suma, sentimo-nos sujos, imperfeitos, indisponíveis para a prática das virtudes evangélicas, especialmente a da caridade do ensino e do exemplo.
Deveremos preocupar-nos com tais aspectos da psique ou tudo não passa de processo natural, a refletir aspirações corpóreas sufocadas pelas decisões filosóficas? Em outros termos, se desejamos, imaginativamente, estar junto a lautos banquetes, não será por que temos restringido drasticamente a alimentação, buscando, na frugalidade dos pratos, a modéstia, a contenção e o equilíbrio que julgamos apanágios dos seres superiores?
Precisamos pensar seriamente em reformular as diretrizes aplicadas ao procedimento, se não nos quisermos ver atacados por subitâneas ideações de condições em que ficamos em situação de inferioridade moral. A mente não suportará muito tempo as incongruências dos pensamentos deletérios e procurará suplantar as dificuldades de ajustamento moral, através da implementação de fantasiosas lucubrações, obrigando-nos a irreparáveis perdas de tempo.
Não estaríamos comentando o fato, se estivéssemos diante apenas de pessoas tremendamente ocupadas, pois é sabido que o afogamento no trabalho dá às pessoas razões para deixarem de investir nas idéias, favorecendo que o tempo decorra, sem que se tenha a exata percepção dele. Entretanto, se o cérebro não se depara diante de fantasias, também não encontra meios de reflexões a respeito das verdades mais profundas, perdendo preciosas oportunidades de aprimoramento dentro das noções e conceitos doutrinários.
Pouco trabalho é igual a tédio e, possivelmente, desorientação mental. Excesso de tarefas pode resultar, por sua vez, em desperdício de boas oportunidades para a compreensão exata da realidade das condições cármicas e existenciais.
Que fazer para escapar ao assédio penoso dos maus pensamentos ou à inutilidade do intelecto, por força da saturação, devido ao pragmatismo dos esforços rotineiros?
Resposta difícil de dar, caso estejamos perante indivíduos de carme e osso desejosos de solucionar problemas específicos, uma vez que, para cada um, haverá extensa programação a cumprir, partindo-se do pressuposto de que haja conhecimentos adquiridos diferenciados de pessoa para pessoa.
Mas não vamos furtar-nos a pequenino rol de atividades retificadoras. A primeira verificação a realizar-se é a do volume de tempo disponível. Se muito, buscar ocupações válidas do ponto de vista evangélico, o que propugnamos que se faça no ambiente sacrossanto dos centros espíritas, irradiando-se para setores carentes da sociedade, conforme diretriz estabelecida pelo grupo de trabalho em que se inseriu. Se pouco ou nenhum, recusar-se a aceitar novos compromissos ao término das atuais atividades, para que haja período de readaptação psicológica, já que é de suma importância que se saiba conviver consigo mesmo, apesar de muitas vezes estarmos temerosos das acusações subjetivas, por força da prática de ações condenadas pela consciência.
De qualquer forma, cada qual deverá estar apto a analisar as próprias condições, para poder, conforme o título do texto, tirar o time de campo, no exato momento em que sinta a necessidade de refacção dos ideais espirituais ameaçados pela fugacidade ou pela intemperança das reações psíquicas incontroladas.
Sempre, é óbvio, socorristas que somos, iremos pregar a prece sentida e súplice ao Senhor, para o envio dos irmãos protetores, os quais saberão infiltrar-se junto à mente, para a influenciação segura e oportuna. O desespero é a pior resolução, a que dá seqüência natural às condições de inferioridade momentânea.
Não temos muito a acrescentar a estes dizeres, já que não depende de nós a deliberação de enfrentamento das realidades negativas que formos capazes de perceber dentro da alma. De qualquer modo, se houver tal espécie de conscientização, podemos afirmar que algo está evoluindo beneficamente nas profundezas conscienciais do espírito encarnado. Baste-nos tal reconhecimento para oferecermos ao Pai as preces agradecidas de quem se sabe, finalmente, filho dileto.
Odacir.







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SOB O ESTIGMA DA PERFEIÇÃO





Tanto encarnado quanto desencarnado, onde paire, o espírito, criatura do Senhor, aspira à perfeição. Como alguns, de fato, obtêm a graça de melhores dispositivos orgânicos, seja na beleza da constituição, seja na rapidez do raciocínio, seja na capacidade de envolver as pessoas em halo de simpatia, sentem-se superiores aos demais, desejando estabelecer a medida do mundo pela própria, tudo fazendo como se estivessem marcados indelevelmente pelo estigma da perfeição. Sendo poucos os que se podem confrontar àqueles, criam a expectativa do reconhecimento universal, mesmo quando a velhice levou as prerrogativas que os faziam especiais, tanto que, ao retornarem ao etéreo, a primeira providência se dá no sentido do restabelecimento de todas as qualidades no apogeu da perfeição.
Evidentemente, há duas espécies de apanágios: os morais e os físicos. Quando as pessoas se consideram superiores no aspecto da moralidade, tudo fazem para o aperfeiçoamento das virtudes, o que as anima a prosseguirem cada vez melhores, mesmo que com algum laivo de vaidade, pela evidência da preeminência relativamente aos demais. Mas tal defeito é facilmente ultrapassável, dado que a evolução dos demais recursos alerta para a necessidade do esquecimento do egoísmo, da vaidade e demais corolários dessas terríveis afecções morais. Se houver superioridade nesse campo, será por méritos próprios, decorrentes do muito esforço que deverão ter despendido, em situações de precariedade vibratória do conjunto dos seres sob sua assistência, uma vez que ninguém cresce sozinho, dedicando especial atenção à caridade que aplicar a si mesmo.
Quando as vantagens se encontram no âmbito da matéria, aí os problemas se multiplicam para os que se deixarem dominar pela vontade de se mostrarem mais dignos de deferências. Muitos desses indivíduos transportam para o etéreo as ânsias de perfeição e ficam tremendamente desconsolados por não terem percebido que outra deveria ter sido a atitude. Entretanto, para que possam chegar a tais conclusões, a maior parte permanece afastada do bom caminho, por largo período, incentivados ainda mais pela perversidade dos seres que se constituíram em percalços durante o encarne e que agora se estimulam no campo da inveja por verem a decadência dos irmãos, particularmente quando incrementada pela desesperação provinda das acusações de injustiça que costumam lançar contra o Pai.
Como seria bom se todas as pessoas pudessem categorizar-se em uma dessas duas espécies! Aí o socorrismo estaria muito melhor acomodado para exercer-se, tantas pessoas teriam méritos reais, como, aumentada a concorrência entre os que se projetam pelos dotes físicos, ficaria muito mais fácil de aproximar tais indivíduos das reais tendências psíquicas ou espirituais, dado que todos teriam de perlustrar íngremes caminhos para atingirem a culminância que se apresenta de tão fácil acesso atualmente.
Mas temos de atacar a realidade e, por isso, ficamos na esperança de que pessoas necessitadas deste tipo de reflexões vejam cair-lhes nas mãos a nossa modesta participação, para a devida tomada de posição que se exige perante cada leitura.
Temos a grata satisfação de podermos dizer ao escrevente que ficamos muitíssimos satisfeitos com o fato de haver conseguido a publicação de textos produzidos por companheiros desta instituição. Nada há de perfeito naquilo que se pôs à luz do dia, mas revigorou-nos o ânimo saber que há pessoas a serem conduzidas à meditação através de nossas palavras. Sendo assim, tal estímulo poderá fazer com que nos dediquemos com mais afinco e competência, pois julgamos que, em breve, poderemos abrir outros canais de comunicação com os humanos, tendo em vista o fato de que, nos textos, repetimos à exaustão o convite à mediunidade.
Restaria falar das condições da temporalidade, cuja concepção é bastante diferente entre os encarnados e os espíritos. O que para vocês pode representar alguns minutos, para nós há de ter o sabor de séculos, como ainda o contrário é perfeitamente possível. No caso em tela, tememos que a expectativa do que apelidamos de breve não terá outro significado para os leitores que não seja em alguns anos. Prevenimos para que as frustrações se minimizem, pois não gostaríamos de ser os condutores involuntários delas.
Mesmo quando não se deseja destacar-se por qualquer sintoma de perfeição, ainda assim é preciso cuidar que as coisas se realizem de forma bastante próxima do melhor possível, para que a comunicação se faça de forma integral, justa, coerente, sem dar margem a qualquer dúvida. E isso sob o perigo de sermos tachados de prolixos ou de esnobes.
Quem não deve não teme e nós estamos aqui para alertar a todos (a nós mesmos, inclusive) de que tudo o que se faça deve buscar o sinete da perfeição, o que remete às considerações que fizemos sobre quem possui real mérito no campo da moralidade e da intelectualidade.
Queremos despedir-nos dos amigos, prognosticando amplo sucesso nos empreendimentos.
Que Deus more no coração de todos!
Alfredo.







DEIXANDO O POSTO





O Professor Otávio lamenta ter de vir informar que o grupo consignou todas as mensagens encomendadas, tendo, inclusive, realizado algumas a mais, por solicitação de irmãos temerosos de que as manifestações não tenham fica absolutamente claras quando da primeira transmissão.
Saberão os irmãozinhos distingui-las e eliminar as duplicatas, buscando fundi-las, para melhor formulação das teses. Estaremos presentes, para que o trabalho não pareça extraordinariamente complicado.
Os membros do grupo estão satisfeitíssimos com os resultados, afirmando que muito aprenderam com o ensejo das tarefas mediúnicas. Haverão de aperfeiçoar-se ainda mais pelo contacto com diferentes médiuns, conforme extensa programação da Escolinha de Evangelização.
Muito grato, caros amigos, e fiquem com Deus!
Otávio, pelo grupo.

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