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Infanto_Juvenil-->O PRINCIPE QUE CAIU DO CÉU -- 27/05/2001 - 23:00 (VIRGILIO DE ANDRADE) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
No sítio do Rio das pedras, que fica lá pras bandas do cafundó do Pirinópolis, morava Pedro Bobó Zarcão, Dona Jandira Zunira Zarcão, e seus dez filhos: Mane Bodocó, Chiquinha Feijão, Amelinha Jiló, Pedro Cipó, Bibiu, Babú, Flozô, Juquinha, Totó Fuinha e Margô, a caçula. A família era pequena, mas com eles também morava a irmãs de Dona Zunira: Zuleide Anzol, e Zuleide Chumbada que de tão grandona e pesada era conhecida pelo apelido de Fofinha.

A única diversão da família era ascender uma fogueira nas noites de lua para clarear a escuridão. Todos adoravam aquela brincadeira, menos Zuleide Anzol, que já estava com vinte anos, e pensava que a estrelinha que brilhava por cima do telhado era casamenteira e mensageira do seu príncipe encantado.
E ela tinha razão por assim pensar, pois, em certas manhãs, o campo amanhecia coberto de papel picado e, em todos eles, seu nome e um coração pintado na asa de um avião. Ela nunca vira uma máquina daquelas, e pensava que aquilo era um novo tipo de carruagem encantada. A carruagem com a qual seu príncipe venceria as distancias e iria encontra-la naquele cafundó onde Judas perdeu a botas.


Indiferente aos seus sonhos, as crianças brincavam no quintal e amontoavam grossas toras de madeira. Quando as crianças armavam a fogueira, Zuleide ficava triste, mas tão triste, que começava a chorar. Para estancar aquela dor, Ela se recolhia no quarto, e passava a noite remexendo nas cartas que seu amor lhe mandara.
Certa vez, pensando que naquela noite seu príncipe iria aparecer, ela ficou tão furiosa que apagou a fogueira com água do cocho da vaca mocha. Foi uma atitude boba e infantil a sua, mas arrumou um encrenca tão danada que teve que dormir no estábulo. E para sua tristeza, o príncipe não apareceu. Do seu lado, as crianças ficaram revoltadas e começaram dizer que ela estava encruada e abobada.

Noutro dia, para deixar a prima ainda mais irada, a família resolveu construir uma fogueira tão grande, mas tão grande; que quase tocava as nuvens. Quando ela saiu no quintal e viu o tamanho do amontoado de madeira, pensou: é, vai ser um fogueirão! Desta vez vão conseguir ofuscar minha estrela e fazer com que meu amado perca o rumo. Se isso acontecer, adeus matrimônio! Nem Santo Antônio vai conseguir dar um jeito em mim!

Quem inventou de fazer aquela fogueira tão grande foi Mané Bodocó, que era metido a construtor. Dizia ele que se construíssem uma fogueira que tocasse o céu, produziriam tanto carvão que passariam todo mês sem precisar trabalhar na carvoaria.
A proposta foi aceita por todos e, como de outras vezes, escolheram Pedro Cipó para ascender o fogo. De todos, Pedro Cipó era o mais hábil em ascender fogueira, bastava riscar o fósforo e tudo virava fogo.

Zuleide tentou em vão mudar a decisão da família, mas não conseguiu. Inventou uma história que o céu iria queimar e cair sobre eles queimando a vegetação, mas não conseguiu convencer ninguém. Ela já tentara outras vezes, e não dera certo. Como aquela de que as crianças que brincavam com fogo estavam condenadas a fazer xixi na cama. Pedro Cipó foi o único que aprovou aquela sua invenção, encontrara uma boa desculpa para explicar o motivo pelo qual seu lençol amanhecia molhado. Se bem, que soubesse que fazia seu xixi com preguiça de se levantar. E, depois de então, ganhou o título de mijão da família e o direito de ser escolhido o único responsável para ascender o pavio da fogueira. Assim, no dia seguinte, só haveria uma cama a ser trocada.

Naquela noite que se anunciava ser a mais escura e estrelada de todas, a família se preparou para comemorar o aniversario do filho caçula. Todos estavam radiantes de felicidade com a possibilidade de fazerem uma grande festa. As crianças teriam à sua disposição milho assado, curau com queijo, batata doce, e rojões. Rojes não podia e não faltaria naquela festa.
Para evento tão discreto, convidaram o prefeito que era o padrinho do aniversariante, bem como de todos os meninos da família. Mas ele mandou avisar que não poderia comparecer, estava padecendo de uma gota que o deixaria acamado por vários dias.

Observando o rebuliço que começou logo cedo, Zuleide ficou indignada e pensou tomar uma decisão que iria mudar o rumo da sua vida. Daquela vez não iria chorar ou se maldizer da vida. Resolveu fazer um passeio pelo canto na hora da festa. Afinal, a fogueira era tão imensa que iria iluminar todo o sitio e muito além dele. Juntou na mochila cinco fatias de bolo de milho, uma garrafa de café, e uma rede para passar a noite debaixo dos pés de jabuticaba.
E foi assim, que ao mesmo tempo em que a fogueira começa arder até tocar nas nuvens, ela pegou seu caminho. Lá de longe, podia ver a fumaça subindo e engolindo sua estrelinha da sorte. Pensou: minha estrelinha casamenteira está ardendo no fogo. A luz que guiaria os passos do príncipe até aqui, deixou de existir. Minha única esperança de casar chegou ao fim.
Pensou em chorar, mas entendeu que o melhor que poderia fazer era cantar. Cantar para espantar o medo que estava tomando conta do seu corpo. Amarrou a rede na galha do Jaboticabal e, ficou contando as estrelas que brilhavam no céu para ver se o sono chegava. Dormiu. Quando já eram altas horas da noite, escutou um estrondo no céu e viu sua estrelinha apagar e cair em círculos. Ela soltou um gritou: - adeus meu príncipe! E ficou vigiando aonde a estrela iria cair.
Para aumentar ainda mais seu pesadelo, o objeto que caia do céu fazia zumbido que dava medo. O objeto foi aumentando, aumentando; e só deixou de ganhar tamanho quando tocou a vegetação e produziu um estrondo seco. Ela gritou: - Ai!

Sem atinar se aquela alucinação poderia ser um teco-teco ou um gavião noturno, correu e foi espreitar onde o objeto caíra. E caíra justamente na colina próximo de onde se encontrava. Começou a andar no meio das sombras e, ficou apavorada quando descortinou um vulto cambaleante descer o morro. Indagou-se: - será uma assombração?
Coitada da Zuleide Anzol, que parecia um anzol de tão magra e curvada sobre a coluna. O vulto poderia ser o tal lobisomem, o ET, ou a estrelinha cadente que estava rolando morro abaixo. Mas que nada! Era Ambrozino Babão que trabalhava no correio aéreo noturno. Zuleide só o conhecia do tempo quando eram crianças. Era filho de Cacau da Cotia e Marilena Precata de Couro, que moravam na fazenda do outro lado do rio. Quando ele era pequeno, era franzino e chupado feito roupa amassada. Contudo, tinha olhos vibrantes e sorriso largo. Era uma pintura, parecia o jeca tatu. Correu e socorreu o pobre coitado. Ofereceu-lhe café, bolo de milho, e para ele entregou seu coração.

E, a partir daí, ficou sabendo que Ambrozino era quem lhe mandava as cartas de amor escritas em papel picado. E, que a estrelinha era quem indicava aonde deveria atirar suas correspondências de amor. O sítio do Rio das Pedras ficava na rota do correio aéreo. E, para quem era carteiro do ar, era muito fácil entregar aquela encomenda. Era só abrir a janela libertar os bilhetinhos de dentro da sacola de couro, o papel rodava, rodava; e para sua alegria, a encomenda caia exatamente no quintal da casa.

O que levava Ambrozino agir daquela maneira, até hoje é motivo de confusão. O que se sabe é que os dois se casarão e já tiveram três filhos: Zumira Jabuticaba, Estrelita e Cometino de Jesus, que graças ao bom Deus, nasceu dentro do ônibus da Aviação Cometa.
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