O rio em que me banho
é a rua onde vivi
os dias da minha infância.
E, quando a saudade aperta,
é lá, naquela rua risonha,
que volto indefectivelmente.
E o moleque ressurge
das cinzas sempre
renovadas do homem maduro:
a bola de pano,
a bola de gude,
as quermesses,
cadeiras na calçada,
a farda do Liceu,
a lua das noites escuras
em que faltava energia,
cacos de vidro fingindo
joias raras,
minha avó paterna,
os amigos de infância
(onde andarão todos eles?),
quantos já partiram
só com o bilhete de ida?
Evocações...
O rio da vida passa por mim
e eu nele me banho.
E volto leve, purificado.
Mas, as saudades são muitas
e eu me surpreendo falando
sozinho, buscando vultos
queridos que povoaram
a rua dos meus sonhos,
o rio da minha vida.
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