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Poesias-->À MODA DE DANTE -- 16/10/2004 - 17:54 (Cheila Fernanda Rodrigues) |
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À MODA DE DANTE
para Francisco
Na jornada de minha vida
encontrei-me numa selva escura
tendo perdido a verdadeira estrada
tendo quase perdido minha identidade.
Era o inferno de Dante.
O inferno da rotina de medo noturno
cristalizava-se em estranho ser
que se pendurava no V da cortina para eu ver.
O inferno de nunca acertar
de não saber se sabia
nem fazer o que devia.
O inferno de sempre ser
um ser em tudo diferente.
O materno inferno
passava fogo em mim:
o tempo todo era só metralha
enquanto o resto do mundo só me dava medalha.
Para sobreviver ao fogo infernal
fiz do intelecto meu cais de perfeição
meu porto seguro
e zerei a emoção.
Aos trinta, decidi saltar do fogo do inferno
e buscar um barco menos maluco
o barco do purgatório que – mesmo à deriva às vezes –
navegava docemente e encaminhava-me à felicidade.
Hoje, ao destravar tudo,
descubro que é bom ser imperfeito
descubro meu feito: a metamorfose do excremento em ouro.
Ouso, com o livre-arbítrio,
livrar-me de ser criatura e ser criador.
Começo a aprender com os erros
começo a preencher meu vazio interior
decido ser feliz e decido o próprio amor incorporar
porque movimento o sol e todas as estrelas
já que posso o paraíso vislumbrar.
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