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Cronicas-->Áfricas e Recifes II -- 15/04/2003 - 19:49 (Lucas Tenório) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ainda com respeito ao Recife-Iputinga:

* A primeira ida a Porto de Galinhas com meu tio Zé-José. A dormida na estrada apesar das esteiras.
A tristeza do falecimento de tio Zé;

* A lembrança da construção do Bompreço (hipermercado) da Avenida Caxangá. As idas-compras festivas no Bompreço;

* A presença logo ao lado imponente do hospital onde nasci - Barão de Lucena, com suas extensas grades pelas quais depois tateava andando na calçada;

* Os caminhões-cheiro de melaço de cana, as chupetinhas de açúcar, os japonês (doces de tabuleiro) e pirulitos de mel;

* O amolador de tesouras, os "mascates" que vendiam na rua com suas carroças bugigangas, brinquedos, utensílios domésticos;

* Os bolos de rolo das visitas da minha falecida tia-avó Jaci;

* A morte da minha avó materna Dagmar, que me chamava "meu marido" porque tenho o nome dele.
As poucas e esmaecidas lembranças dela;

* Os "fura-dedos" (o pessoal de controle da endêmica Filariose) e o corre-corre e alvoroço da meninada (Recife é/era uma das cidades do Brasil com maior número de casos da doença, daí os indispensáveis mosquiteiros nas nossas camas que se faziam nos nossos sonhos de acordados verdadeiros velames de uma nau.);

* Os nossos banhos de bica de papai quando a caixa d água esborrava e a água escorria pelo telhado;

* As cabanas que mamãe fazia pra gente no quintal, com suas incontáveis estórias;

* A primeira enciclopédia e deslumbre por dinossauros;

* As espiadas malabarísticas, brechadas, dos banhos da secretária de mamãe, a bela Neves, coisa como um "primeiro alumbramento" menor e primícias de voyeurismo;

* As visitas de tio Edson que fazia uma gaita com as mãos, dos polegares o bocal, e dizia haver ali escondido um passarinho. Prometia-me um viveiro. (Depois aprendi a tocar essa gaita.)

* O fascínio pelos vagantes balões de São João;

* As inesquecíveis idas à "Festim", nosso parque de diversões predileto;

* As visitas a Cordelha e Nenu, primos-irmãos-amigos de mamãe, e a Sérgio e Hildinha, outra prima-irmã e ele primo-irmão filho de tia Jaci;

* O 1º amigo, Paulo;

* Os Trapalhões.
Ah. Os inesquecíveis Trapalhões.
(Um ótimo filme do início da década de 1980 "Os Saltimbancos Trapalhões", com música de Chico Buarque.)

Mudamos para o Prado em fins de 1976, para um edifício de apartamentos próximo ao prado do Jóquei Clube Recife e perto do meu avó paterno Antonino, o materno, Galvão, não conheci. Algumas visitas ao meu avó e tias e primos.

Víamos lá de cima, do terceiro andar pela área de serviço (nunca subira em árvores com medo preventivo de altura), os páreos
com os cavalos diminuídos pela distància sem que tivéssemos a noção perfeita de quem estaria ganhando ou na dianteira. Uma visão que hoje me parece a conjunção de fragmentária e como que em càmera lenta. Um espetáculo vagaroso, lacunoso e monótono.

Foi "nos apartamentos" que me iniciei nas artes dos papagaios, pipas, e me aperfeiçoei na de desenhar. Papai me fazia um genuíno papagaio de ripas da haste da palha do coqueiro (depois aprendi ser melhor, mais maleáveis, as taboclas e para as pipas - oriundas do sul do país, até mesmo as finas hastes das próprias folhas da palha, desde que convenientemente espessas). Papai não conhecera o cerol, ele não era adepto da "torança", de torar, cortar a linha do outro, embora tivesse participado da peleja no seu tempo.

Dizia, e concordo, que na modalidade de sua época havia na execução mais beleza e desenvoltura, habilidade do empinador, porque colocavam-se giletes armadas ao longo da comprida "rabada" de pano do papagaio, devendo o oponente conseguir passar a làmina pontualmente na linha do adversário para poder cortá-la. Os papagaios eram grandes, robustos, daí o esqueleto de tala de coqueiro e a linha zero, grossa, pra empiná-los. (Conheci depois papagaios enormes e seus artesãos-empinadores.)

Descia para a área térrea do edifício e me punha a tentar empinar o papagaio, mas invariavelmente era a mesma coisa:
enquanto fixava nele insuflado ao sopro do vento a vista, correndo de costas pra favorecer o disparo e continuidade desse complexo fenómeno aerodinàmico de suspensão no ar, dando linha meticulosa e calculadamente conforme a tensão estabelecida, a turma da redondeza cortava a meada na parte posterior e levava o carretel.
Nem via.
Lá ia eu com Neves comprar na venda mais um carretel de linha zero depois de escutar de mamãe:
Deixa de ser besta, Carlos, presta atenção pra não te roubarem de novo!

Não fui muito bem sucedido com os papagaios. Com as pipas, depois, foi outra estória.

Comecei a desenhar principalmente Cristos Redentores. Papai nos trazia essas estatuazinhas de metal, algumas reluzentes ao escuro, das viagens que fazia ao Rio de Janeiro. (Comentou comigo sobre a escola de Belas Artes.) Gostávamos do Poli, aquele brinquedo de montar que hoje se conhece por Lego. Chaparral.
Montávamos, mamãe gostava muito,
navios em miniaturas. Fazia com a minha avó, ainda na Iputinga, esculturas com cola e caixas de fósforos de madeira. Teimava por cortar pedaços de tábuas pra montar nem sei o quê. Depois fiz algumas esculturas em barras de sabão de coco, mais velho. Até pintávamos umas besteiras que papai emoldurou.

Fizemos uma breve viagem ao Rio em 1977. Hotel Ambassador, Fanta Uva, o Cristo ao longe passando pelo vidro embassado do táxi noturno. A casa de um amigo de papai. A chuva no desembarque, os guarda-chuvas, a cabine da tripulação. Lembro de que no avião perguntei a um senhor já de idade:

- Vamos pro céu?
- Não diga isso, meu filho.

Recordo da impressão da geometria da pista sendo desfeita em perspectiva quando o avião manobrava
para a decolagem, pela janela.

Montamos num quarto de serviço do apartamento, eu e Nana, minha irmã mais velha, uma espécie de laboratório onde fazíamos mais experiências imaginárias do que concretas e reais. Peixes, rãs, lagartixas e alguns insetos. Fórmulas químicas. Tínhamos um esqueleto plástico em miniatura e um anel de Mandrake. Não faltavam os álbuns de figurinhas. Embaixo do prédio encontrávamos algumas cobras coloridas, sendo ele que era arrodeado por um matagal com um córrego que o alagava parcialmente, coisa muito comum nos arrabaldes do Recife.

Estudava na Escolinha do Garibaldo. Ah!
Ênio e Beto, o Garibaldo, do VilaSesamo!
Quase esquecia.
O início do Sítio do Pica Pau Amarelo pela Globo,
a figura risível e uma das mais paradigmáticas, do Sugismundo.
(Estude senão via puxar carroça!)
A Escolinha do Garibaldo ficava na Iputinga e ia com a minha irmã mais nova, Rita. íamos de condução e papai nos apanhava. Fazia o início do primário.

Mudamos em fins de 1977 para Jardim São Paulo, para uma casa novamente de jardim, oitões e quintal. Uma reconstrução amadurecida da Iputinga.

E a África?
Creio que permaneceu a antiga e boa África do universo anterior. Na verdade Prado-Iputinga eram
a mesma África-Recife fusionados e indistintos.

E por que a África?
(Mesmo que seja essa a pergunta desnecessária.)
Por que inseri-la, e apropriá-la/capturá-la ainda que simbolicamente
pela sua intertextualização nesse simplório
enredo de recordações infantis, aproximação
destituída de um efetivo e necessário liame correlacional
de significações
materiais ou imateriais
no espaço-tempo entre ambos?

Responderei no decorrer do tempo, creio.
Tempo que usarei para conhecê-la melhor com os escassos meios de que disponho.
Ou quem sabe conclua que por nada,
Como quando respondemos ao pai e mãe da gente:

- Por que você fez isso, menino?!!

Até breve.



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