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Contos-->UM DIA RUIM -- 09/12/2003 - 10:59 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UM DIA RUIM

Gilberto saiu do trabalho, um prédio em construção onde ele era ajudante de pedreiro, e parou no bar para tomar uns goles. Fazia isso quase todos os dias para esquecer a vida dura que levava. Trabalhava feito um escravo para ter o que comer para si e para os seus sete filhos. Todos ainda pequenos.
Faziam anos que ele vinha pulando de emprego a emprego temporário. Desde o plano Real não conseguira mais um emprego definitivo. Passara a maior parte do tempo desempregado e sem ter o que comer em casa. Nos últimos meses conseguira trabalho, mas devido às dívidas acumulados ao longos do período sem emprego, não sobrava muito para sustentar a familiar.
A esposa, Francineide, fazia bico de faxineira vez ou outra. E também usava o que ganhava para comprar alimentos para os filhos. Roupas, nem pensar. Viviam de doações de vizinhos e pessoas sensibilizadas com a pobreza daquelas pessoas.
Gilberto não tinha prazer algum em voltar para casa. Sabia que se aborreceria com a pobreza de seu barraco, com aqueles filhos maltrapilhos e barulhentos; nem mesmo a esposa, faziam tempos que não a amava mais. Na verdade, via nela a culpada por sua miséria, pela enorme quantidade de filhos, e por todas as desgraças a que estava sujeito. Não raras vezes, chegava em casa ébrio e agredia com violência a mulher e os filhos.
Os filhos temiam o pai, e temiam muito. A presença do pai quase sempre era motivo de medo. Os mais velhos, uma menina de onze anos e um menino de dez, eram os que mais sofriam com a violência do pai. Em certa feita, o menino Tiago teve o braço quebrado após uma queda em que fora atirado sobre a mesa de compensado que havia num canto do barraco, o qual chamavam de cozinha.
Naquele dia Gilberto sentia-se mais angustiado que de costume. Permaneceu no bar por mais de uma hora conversando e bebendo com os amigos. Em seguida, já muito ébrio, dirigiu-se com dificuldade para casa. Durante o trajeto, falava consigo mesmo, praguejando a mulher e os filhos.
Quando chegou em casa, por volta das nove da noite, os filhos mais novos dormiam. A menina mais velha, Rosália, estava deitada com o irmão menor. Acabara de pô-lo para dormir. E o menino mais velho não estava em casa.
Empurrou a porta do barraco com violência e chamou pela mulher -- Francineide! -- Não houve resposta.
Francineide havia saído cedo para fazer faxina na casa de um Grã-fino e ainda não retornara. Eram muitos exigentes e a casa muito grande, mas, em compensação, pagavam uma quantia razoável.
Gritou novamente -- Francineide! Francineide!... Porra! Não está me ouvindo?
-- A mamãe ainda não chegou -- respondeu a filha, surgindo de repente.
-- Onde ela foi?
-- Foi fazer faxina.
-- Põe a minha janta.
-- Não tem janta pronta, papai. -- disse a filha, com voz trêmula, sentindo o medo a dominar. Apesar da mãe não ter pedido, ela também nem se lembrara de preparar a comida para o pai.
-- O quê? Não tem janta?
-- Não papai, a mãe não deixou.
-- E o que você fica fazendo em casa o dia todo, sua vagabunda? -- Um forte tapa acertou o rosto da menina. -- Fica se esfregando pelos cantos com os moleques, sua prostituta? -- Outro tapa acertou a face da menina.
-- Não, papai! -- disse a menina, com voz de choro enquanto caia de joelhos diante do pai. -- Não me bata! Eu estava tomando conta das crianças.
-- Sua cadela vadia! -- xingou o pai, chutando a menina como se fosse um monte de estrume no seu caminho. -- Eu vou te ensinar a não cuidar direito da casa.
-- Pára, papai! Por favor! -- implorou a filha, em prantos. -- O senhor está me machucando.
Nesse interim, as crianças menores acordaram assustadas e apareceram choramingando na cozinha. Aquele tumulto de crianças chorando só fizeram crescer ainda mais a ira do pai.
-- Eu trabalho o dia todo como um escravo para dar de comer proceis e quando chego em casa com fome não tem nem um prato de comida.
A filha foi espancada impiedosamente. Nem mesmo os gritos do irmãos conseguiram sensibilizar o pai que só foi contido pelos vizinhos instantes depois.
Enquanto a viatura o levava para a delegacia, a menina foi levada inconsciente e com diversas fraturas ao longo do corpo. O enfermeiro que acompanhava a menina pensou com seus botões ao mesmo tempo em que verificava os sinais vitais da vítima: “E só de pensar que isso acontece aos milhares todos os dias em todo o mundo me faz partir o coração. O que leva um pai a fazer tal coisa com o próprio filho? Será que um homem desse não tem coração?...” Essas e tantas outras conjecturas ele fez durante o trajeto e antes de adormecer naquela madrugada. Mas ele sabia que teria que viver muitas e muitas vidas e talvez mesmo assim não veria o fim de casos como esses.
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