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Teses_Monologos-->OS MONÓLOGOS DA CRIANÇA: "DELÍRIOS DA LÍNGUA" -- 11/12/2002 - 18:06 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS MONÓLOGOS DA CRIANÇA: "DELÍRIOS DA LÍNGUA"
Maria Francisca de Andrade Ferreira Lier-de Vitto (Doutorado)

Orientadora: Cláudia Thereza Guimarães de Lemos


Resumo: São os monólogos da criança que estão em foco nesta tese. Esse acontecimento lingüístico ganha a dignidade de tema na Psicologia do Desenvolvimento com Piaget em seu livro de 1923, "A Linguagem e o Pensamento da Criança", sob o título de "fala egocêntrica". A ela é atribuído o estatuto de "elo genético", índice de uma longa transição entre o que o autor designou de "pensamento autístico", o mais primitivo e o "pensamento socializado", aquele característico do adulto. A expressão "egocentrismo" tem suas raízes na convicção de Piaget relativamente a condição inicial da criança que, para ele, é de centração ou "manque de décentration". Trata-se de centração na perspectiva do próprio sujeito. Para Piaget, o egocentrismo caracteriza o pensamento da criança. Daí sua fala ser também "egocêntrica". Em "A Formação do Símbolo na Criança", de 1946, Piaget apenas tangencia a "fala egocêntrica". A linguagem ali é deslocada da posição de índice do desenvolvimento da criança para a de um dos reflexos de um processo central mais profundo, dirigido por um regulador interno. A estruturação cognitiva passará a ser inferida a partir dos "jogos". O desprestígio da "fala egocêntrica no livro de 1946 tem raízes no desinteresse de Piaget pela linguagem. É ele quem diz, em 1973, ter deixado de acreditar nas relações estreitas entre a linguagem e o pensamento. Dessa descrença resulta o afastamento da linguagem (e da "fala egocêntrica") para as margens de sua reflexão até a total exclusão de considerações sobre ela nos trabalhos posteriores aos dois discutidos por mim. Vygotsky, outro psicólogo voltado para o desenvolvimento da criança, põe a "fala egocêntrica" em destaque. Ela terá dupla importância para ele. (1) Uma empírica, já que é instituída como material factual d análise. Nessas produções da criança ele depreende características que propõe serem as mesmas da "fala interna". (2) A outra é de natureza teórica, já que Vygotsky entende ser a "fala egocêntrica" o lugar da constituição da unidade dialética, lugar da imbricação da linguagem e da ação - acontecimento responsável pela criação de um outro plano: o cognitivo/interno. Entretanto, embora Vygotsky tenha almejado oferecer uma proposta radicalmente diferente da de Piaget, ao manter inquestionada a expressão ëgocêntrica" em sua obra, ele não pôde promover a revolução anunciada porque nela se mantém a noção central do projeto piagetiano, que é a de "centração". Procurei mostrar os problemas incontornáveis, a meu ver, que a fala egocêntrica introduz na obra de Vygotsky. Embora alçada para uma posição de destaque, ela ali não frutifica mas complica a argumentação do autor. Na área da Aquisição de Linguagem, os monólogos têm uma presença sintomática, porque descontínua e irregular. Ruth Weir os coloca em pauta, mas eles serão esquecidos até o final dos anos oitenta, quando Nelson e Gerhardt voltam suas atenções para o "discurso". Nelson desvia o foco para a questão da extensão das produções da criança e entende serem os monólogos projeções de episódios rotineiros seqüenciados na memória como "scripts". Gerhardt chega até Foucault mas faz uma interpretação pragmática do que lê e os monólogos se prestarão à investigação de "formas no discurso". Ao longo desses quase trinta anos Weir será citada e uma parte de seus "achados" - as "language practice"- tomados como "evidências empíricas" em favor do argumento de que estruturas e mecanismos lingüísticos começam a se tornar acessíveis à criança. Se a questão é essa, perde-se de vista a integridade dos monólogos porque entra em cena a sentença. Em face desse quadro, procurei localizar o porquê dessa presença sintomática e oferecer uma interpretação alternativa dos monólogos. A primeira questão que coloco deriva de uma indagação de George Miller no prefácio ao livro de Ruth Weir: "por que não se ouve mais sobre os monólogos?", pergunta ele. Eu diria que porque o diálogo não se constitui em indagação para os pesquisadores. Sintoma disso são as exclusões sistemáticas de imitações ou "citações" da fala do outro do conjunto das produções assumidas como analisáveis. O segundo problema que levanto diz respeito ao procedimento de aplicação de um instrumental descritivo da Lingüística que tem a sentença como unidade analisável. Os pesquisadores procuram encontrar nos "dados" apenas evidências de uma estruturação seqüencial progressiva e perdem de vita, assim, a especificadade do material empírico em questão. Decorre disso que "discurso" é unidade definida pelo critério de extensão"é unidade maior, composta por uma sucessão de sentenças que expressam conteúdos cognitivos. O terceiro ponto que problematizo, qual seja, o da concepção de sujeito que se inscreve nos estudos sobre os monólogos. Neles reina o sujeito psicológico, aquele que "começa a saber sobre" a linguagem, que começa a se constituir em senhor do seu desenvolvimento. A interpretação que ofereço dos monólogos me afasta tanto dos ideais de linearidade e literalidade da lingüística tradicional (e da sentença como unidade de análise), quanto de uma concepção psicológica de sujeito. Os monólogos mostram um sujeito dividido em cuja voz circulam dizeres outros. Mostram, enfim, um sujeito capturado por um funcionamento lingüístico-discursivo, como diz Cláudia Lemos. Os monólogos são textos não lineares e sem clareza. Concluo, desse estado de coisas, que essas produções singulares das crianças deixam ver sua determinação dialógica e discursiva.

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