CEDO OU TARDE, CARO ZÉ !...
Cedo ou tarde, caro Zé,
do Povo nado no chão
é que à luz da razão
deveras se está de pé,
congregados pela fé
entretecida de esperança
que a pouco e pouco alcança
na pele da lucidez
quanto o verbo português
pelo mundo inteiro avança...
No vira, rodada dança,
ou no suor do malhão,
na chula de mão-na-mão,
no fandango que não cansa,
se estabeleçe a aliança
do mais belo sentimento
que vai pedir casamento
à musa do seu pendor
e então, sim, do amor
nasce o fruto do talento...
Foi assim com espavento
no tempo das descobertas
ou nas horas mais incertas
sem monção sob tormento,
mas nenhum padecimento
foi na lusa-alma em vão
nem ser-não-ser foi questão,
porque a gesta lusitana
sempre além da Taprobana
pulsou em ressurreição...
O sonho de Gedeão,
a mensagem de Pessoa,
a cena-mor de Malhoa,
o Fado, nossa canção,
de longe são e serão
oração, eterno avé
do que a lusa gente é
na pujança de viver
e mais-e-mais há-de ser
cedo ou tarde, caro Zé!...
Inspirado no meu Amigo José Fernandes Castro
António Torre da Guia
Som = José Fernandes Castro interpreta um poema de sua autoria
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