A ÚLTIMA LÁGRIMA DE AMOR VERTIDA!
Quando um dia estiver chegando ao fim(1),
Tez rugosa e cabelo encanecido,
Em que as lembranças de um tempo esquecido
Deitarão sorte sobre meu butim(2)...
Quando mesmo eu não me lembrar de mim,
Imerso num passado sem sentido,
De tantas queixas cheio, e corroído
Por solidão imensa... tão ruim...
À mingua de um amor que de uma vez,
Para sempre, sem dó, roubou-me a vida...
Se lá quiseres, como nunca o fez,
Visitar-me, qual numa despedida,
Verás que choro, mas com altivez,
A última lágrima de amor vertida!
Adelay Bonolo
(1)Bocage — conhecido pelo distinto público infelizmente como autor de anedotas libidinosas, embora seja um dos maiores poetas da língua portuguesa — escreveu coisa semelhante só que com sublime verso, assim: “Lá quando em mim perder a humanidade...”
(2)O tempo acabou vencendo tudo e disputa meus despojos, o quase-nada que sobrou...
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